XXIX

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Eu nem acredito que deixei Samuel me convencer a sair de Los Angeles e vir pra Sacramento apenas com ele e correndo o enorme risco de encontrar esse inferno de tornado no meio do caminho. Tomei um remédio pra enjoo pouco antes de sair de casa e dormi pelas seis horas de viagem de carro, não faço ideia do que aconteceu enquanto Samuel dirigiu para nos tirar do perímetro em que o tornado atingiria, mas chegamos bem em Sacramento.

Mas, claro, alguma coisa daria errado.

Debbie também não estava em Sacramento.

Ela tinha viajado para Boise City, Idaho, para visitar uma tia (ou algo assim, pelo que Samuel falou, mas eu ainda estava muito grogue de remédio pra ter certeza de que tinha entendido bem o que ele falou) e não voltaria até o fim do mês. Mas, por sorte, Samuel tem uma chave da casa e isso nos deu abrigo em Sacramento nesse dia nublado, porém quente pra cacete.


- Eu nem acredito que vou dizer que você pode dormir no quarto da minha mãe, mas vou dizer, porque é isso ou dormir no sofá. Eu te deixaria no sofá tranquilamente, mas se ela fica sabendo que eu fiz isso com você, manda me matar. – Samuel falou quando entramos na casa.

- Posso dormir no sofá sem problemas, Samuel, não se preocupe, ela não ficará sabendo.

- Meu plano era deixar você aqui até Los Angeles estar em paz, mas se eu precisar voltar na semana que vem, você não vai ficar aqui em casa sozinha. – Samuel falou, ignorando totalmente o que eu tinha dito.

- Está com medo que eu descubra algo a seu respeito e use isso contra você?

- Sou um livro aberto, Juliana. – deu de ombros. – Vai logo guardar essas bugigangas antes que eu me arrependa de ter sido legal e te enfie no primeiro ônibus de volta pra Los Angeles e te deixe sozinha naquele inferno. É a primeira porta do lado esquerdo. E temos um problema.

- Temos?

- Só tem um banheiro na casa.

- E qual é o problema?

- Nós somos duas pessoas.

- Eu não tenho problema com dividir as coisas, Samuel, pode ficar tranquilo.

- Então vai logo guardar essas porcarias todas que você trouxe. – falou, sacudindo as mãos na direção do corredor e eu não discuti.


Segui com as duas malas que tinha trazido – afinal, até onde eu sabia, eu ficaria quase um mês aqui, ou algo perto disso – e abri a porta indicada. O quarto tinha um cheirinho muito gostoso de hortelã e era bem simples, mas muito arrumado e bonito. Deixei as malas no canto, observando alguns detalhes do cômodo, desde o papel de parede azul claro com florezinhas desenhadas por toda a extensão, até nos pequenos bibelôs que ela mantinha na cômoda.

Ao lado dos enfeites, um porta-retrato com uma foto dela com Samuel, ele era pequeno e isso foi bem antes de nos conhecermos, sem sombra de dúvidas, porque eu provavelmente era um bebê na época daquela foto. Faltavam os dois dentes superiores, ele sorria para a câmera e estava abraçando Debbie, tinha o rosto junto ao dela e os olhos quase fechados.

Em outro porta-retrato, a foto era dele novamente com Debbie e com o pai... Carter? Gunter? Chris? Eu não lembro, acho que nunca ouvi muito sobre ele e desde que Samuel começou a fazer parte do meu convívio, não lembro de ter visto o pai dele mais do que três vezes, talvez até menos. Na foto, Samuel estava entre os dois, tinha o mesmo sorriso desdentado, um braço ao redor do pescoço da mãe, outro ao redor do pescoço do pai. Os três sorriam para a foto de um jeito bem bonito. Nessa foto era possível enxergar alguns traços do pai nele quando criança e agora adulto, o jeito de sorrir e a cor dos olhos do pai tinham sido exatamente copiadas em Samuel.

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