Juliana
Quando voltei, menos de duas horas depois, Samuel continuava deitado no sofá, olhava pra televisão, mas não parecia estar assistindo ao que estava passando. Estava olhando fixamente, mas sua cabeça parecia estar muito distante dali. Eu não acho que tenha sido muito educado da minha parte ouvir uma parte da conversa dele com Harry, mas fiquei curiosa e queria muito saber o que aconteceu e o que ele vem evitando.
- Já jantou? – perguntei, fazendo com que ele se assustasse e se virasse em minha direção.
- Você já voltou?
- Não, eu ainda estou lá. – rolei os olhos e ele bufou. – Responde minha pergunta.
- Não.
- Eu trouxe pizza. – falei, erguendo um pouco a caixa que tinha em mãos.
- Não gosto desse clima de paz, espero que você tenha colocado alguma coisa nessa pizza que me faça mal e eu sinta vontade de te matar por isso.
- Coloquei sim, mas você só vai saber se comer. – falei, seguindo até o sofá e deixei a caixa sobre a mesa de centro.
- Você vai ficar aqui? – perguntou e eu neguei com um aceno.
- Só se você quiser que eu fique.
- Eu não quero.
- Então aproveite a pizza. Estou satisfeita e vou pro quarto. Se precisar de algu...
- Não vou precisar de nada, pode ficar tranquila, Juliana. – falou num tom ríspido, mas não sei se ele quis soar assim realmente, então deixei pra lá.
Eu podia ter ficado mais na pizzaria aproveitando com as meninas, principalmente porque algumas conseguiram emprego e ficarão em Sacramento permanentemente, mas alguma coisa na feição de Samuel pareceu precisar de atenção. Não que eu ache que algo vá acontecer, mas ele não parecia bem e foi por isso que resolvi voltar antes, inventando um compromisso pela manhã para voltar mais cedo. Realmente não acho que ele faria algo, mas... sei lá.
E, claro, percebi que não estava bem mesmo quando, algumas horas depois, saí do quarto e o vi... chorando. Na cozinha. A caixa de pizza estava sobre a mesa, uma garrafa de cerveja incompleta estava perto dele e outras cinco vazias mais afastadas. Ele estava debruçado sobre a mesa e chorava copiosamente.
Samuel.
Choro.
O que diabos eu faço?
Será que vou até lá? Mas o que eu digo? Será que aconteceu alguma coisa com Debbie? Ou com ele? Ou com... Harry?
- Sam... – falei baixo, me aproximando e ele não deu atenção, nem tentou se livrar das lágrimas pra fazer de conta que estava tudo bem. – Você precisa de um ombro amigo? Ou só de um ombro?
- Me deixa sozinho.
- Você não precisa falar nada se não quiser, mas posso ficar aqui até que você se sinta um pouco melhor. – falei, mas ele não respondeu.
Continuei ali, abaixada perto dele e observando enquanto o choro parecia piorar ainda mais, com medo de descobrir o que estava acontecendo e acabar chorando daquele jeito junto com ele. Eu posso não gostar de Samuel – e não gosto mesmo! – mas não posso simplesmente ignorar e deixar que ele fique assim sozinho. Por muito menos ele se enfiou num carro e dirigiu por seis horas pra me tirar de Los Angeles.
- Eu não quero conversar. – Samuel falou, ainda com a cabeça baixa. – Você pode me deixar sozinho?
- Se precisar de algo, se resolver que quer conversar, pode me chamar. – falei e ele soltou um resmungo abafado. – Vou jogar fora essas garrafas, guardar o resto da pizza e vou pro quarto. Tudo bem? – um novo resmungo abafado em confirmação e mais lágrimas. – E, se você quiser, amanhã eu finjo que isso não aconteceu. Igual você fez quando me buscou na festa e me ajudou.

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Make You Mine
Hayran KurguJuliana nunca teve um sentimento tão negativo por uma pessoa como tem pelo melhor amigo do irmão desde que tinha apenas 5 anos e ele 10. Os dois nunca se deram bem, por vezes as brigas tomavam proporções muito maiores do que deveriam e ninguém nunca...