Behind the Scenes

1.

TRÊS ANOS DEPOIS

Daniel saltou assustado na cama, sua respiração tão acelerada que seu peito doía pelo susto e pela dificuldade em puxar o ar. Ele segurava o lençol com força, tentando conseguir alguma tranquilidade com o pensamento de que continuava seguro em seu quarto. Tinha sido apenas um pesadelo. Lembranças do seu passado que teimavam em lhe assombrar. Ele levou uma mão ao rosto suado e tirou os fios de cabelo grudados na testa, antes de jogar seu lençol para longe de suas pernas e se levantar para deixar seu quarto. Olhou para o relógio da cozinha e deixou escapar um suspiro desanimado quando viu que ainda era o meio da madrugada. Tinha tanta dificuldade para dormir. Despertar por culpa daquilo era frustrante para ele.

Seguiu para a cozinha e abriu sua geladeira, pegando no automático a garrafa de vinho barato que sempre mantinha a postos. Tirou a rolha e levou a garrafa aos lábios, derramando um gole grande demais dentro da boca. Limpou o canto da boca com as costas da mão e foi para sua sala, sentando no escuro. Bebericou novamente da garrafa em sua mão e se curvou para frente para pegar um isqueiro e um cigarro no maço sobre a mesa de centro. Segurou a garrafa entre as coxas e acendeu o cigarro, o tragando com tanta vontade que parecia que sua vida dependia daquele rolinho.

Um bocejo escapou de sua garganta e ele passou a mão pelos olhos marejados. Estava um caco. Estava trabalhando feito um louco naquelas últimas semanas e mal tinha tempo para descansar ou se alimentar de maneira decente. Se cuidava o suficiente para não apagar. Ele sabia o quanto estava sendo destrutivo consigo próprio, mas não fazia nada para mudar a situação. Ele vivia apenas para trabalhar, trabalhar e trabalhar um pouco mais.

Não era de se estranhar que estivesse sempre com alguma mazela.

Daniel apenas não se importava o suficiente para agir. Desde o fim do grupo que havia ajudado a fundar, Dani vivia em um estado de apatia. O modo grotesco que havia acontecido o rompimento ainda o assombrava. As ofensas e acusações de Elídio tinham conseguido minar sua confiança e muito de seu entusiasmo.

E quando o caso vazou para a internet, Daniel se viu no fundo do poço. De um dia para o outro seu nome estava em todos os blogs de fofoca e não tinha nada que pudesse fazer para consertar aquela situação. Tinha sido vítima de ofensas cruéis e tantas ameaças que haviam feito com que temesse por sua integridade. Havia ligado para Elídio e exigido uma retratação, mas só havia conseguido o silêncio como resposta.

Daniel havia se visto no meio de um furacão e não pôde evitar ser golpeado por uma tristeza profunda. Havia começado a beber demais, a fumar demais e a se dopar com remédios cada vez mais fortes para tentar aguentar a confusão que estava dentro da mente.

Tinha abandonado seu apartamento e voltado a viver com seus pais. Podia contar nos dedos quantas vezes havia saído de casa naquele ano. Tinha uma crise de ansiedade só com a ideia de ter que encarar o mundo do lado de fora.

Não era nem sombra do Daniel que havia conhecido um dia.

Quando finalmente resolveu buscar ajuda, sentiu como se tivesse saído de um transe terrível. Havia emagrecido tanto que sua roupas não cabiam. Estava pálido e assustado. Frágil.

Com o apoio de sua família e dos poucos amigos que haviam restado, Daniel havia conseguido colocar sua vida mais ou menos nos eixos. Havia conseguido voltar a morar sozinho e ido atrás de uma forma de sustento. Mesmo com todo o falatório, viu que seu nome ainda tinha força na área e não tinha sido difícil conseguir um emprego em uma emissora famosa e alguns bicos em canais do YouTube conhecidos. E apenas isso. Havia prometido a si mesmo que nunca mais pisaria em um palco; tendo escolhido ficar escondido nos bastidores, confortavelmente anônimo e protegido.

Ainda era uma pessoa completamente diferente de antes, mas sua melhora era visível. Mas a mágoa pelo que havia acontecido há três anos ainda era fortemente presente em seu coração. Daniel achava que nunca conseguiria perdoar Elídio.