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"O Gui disse que ele está bem diferente do que conhecemos" Anderson comentou, pensativo. Estava sentado no sofá da casa de Elídio, corpo curvado para a frente, os dedos entrelaçados entre as pernas. Não havia tido um segundo de paz desde que Guilherme contara do seu encontro com Daniel. "Está fumando, está bebendo. Está retraído. Eu tô preocupado, sabe?"

"Andy, na boa, eu não quero falar do Daniel." Lico pediu, desconfortável com o assunto. "Eu parei de me preocupar com ele há três anos. Eu não quero saber disso." Anderson o encarou com os olhos cerrados, indignado com o desinteresse. "O quê?"

"Lico, eu sei o que ele fez. Ou melhor, o que o Mateus disse que ele fez." bufou irritado pela menção ao nome do ex-produtor. "Mas ele não deixou de ser uma parte importante da nossa vida. Eu entendo a sua repulsa, mas é uma questão de humanidade. Não acha?"

"Não, não acho. Ele fodeu a gente." retrucou emburrado, cruzando os braços como uma criança fazendo birra. "Por mim, ele teria sido processado. Preso até. Afinal, ele nos roubou. Eu só não segui em frente porque o Mateus--"

"Tá, tá. O santo Mateus. O rei de merda." levantou do seu lugar, começando a caminhar de um lado para o outro na sala pequena. "Como você pode ser tão cego por esse cara?"

"Ele é meu amigo. Já ajudou muito a gente. Você devia ser mais grato." Elídio respondeu, observando o descontrole de Anderson sem esboçar nenhuma reação. "É por isso que eu não gosto de tocar nesse assunto, tá vendo? O Daniel só nos faz mal. Olha seu estado."

"Você é inacreditável." Anderson jogou as mãos pro alto, aborrecido, e começou a recolher a louça suja do jantar, marchando até a cozinha. Precisava de um tempo só. Jogou tudo dentro da pia e apoiou as mãos sobre a mesa, respirando fundo para tentar controlar sua irritação. Amava Elídio, mas tinha dias que não conseguia o entender. Ele era uma pessoa muito compreensiva e gentil com quase tudo, menos quando era sobre Daniel. Queria saber como Mateus havia conseguido envenenar a mente do amigo daquele jeito. Nada fazia sentido.

"Você quer que eu vá ao médico com você amanhã?" ouviu a voz do amigo às suas costas e riu pelo nariz, balançando a cabeça. Dependendo de como fosse a discussão, Elídio não sabia como pedir desculpas; então escolhia agir como se nada tivesse acontecido. "Vou estar livre o dia todo."

"É, pode ser." respondeu, agradecendo em seguida. "Vamos ver se os meus peixinhos estão com algum problema para nadar."

"Argh! Anderson! Pelo amor de Deus." Elídio saiu resmungando da cozinha, deixando o amigo rindo sozinho de sua reação.

***

3 anos antes

"Cara, essa conta não tá fechando." Elídio tagarelava nervosamente no escritório de Mateus. Estava um um monte de papéis na mão, apertando sem parar os botões da calculadora sobre a mesa. "Nós estamos ficando com a agenda lotada quase todo mês, mas ainda assim estamos tendo pouquíssimo lucro com as apresentações. Olha isso!"

Mateus se aproximou por trás, olhando por cima do ombro do amigo para conseguir enxergar as anotações que ele havia feito. Crispou os lábios e balançou a cabeça. "Bem, metade do cachê recebemos em mãos. Depois de descontado tudo o que precisa ser. Quem está responsável por recolher essa parte do dinheiro?"

"As últimas foram o Daniel, mas ele sempre deposita imediatamente."

"Hum." ressoou, fazendo Elídio o olhar. "Eu não quero ser desconfiado, mas ele já mostrou algum comprovante?"

"Bem, não. Mas nenhum de nós mostra." respondeu o homem, dando os ombros. "Não temos porque desconfiar uns dos outros."

"Lico, eu adoro o Dani. Você sabe. Mas, se tratando de dinheiro, eu não confiaria cegamente. Nunca sabemos o que se passa na cabeça do outro."

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