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TRÊS MESES DEPOIS

Daniel deslizou o zíper da sua mala e arrastou a bagagem até o lado da porta, voltou para esticar o lençol enrugado da cama, antes de se sentar sobre o colchão fino e cruzar os dedos das mãos sobre as coxas. Estava nervoso. Finalmente estava recebendo alta da clínica e, por mais que estivesse transbordando de confiança há apenas alguns minutos, agora não conseguia evitar o nervosismo que subia sua espinha e o deixava com a barriga revirando.

O ex-ator sabia que estava bem. Melhor do que estivera na sua primeira passagem ali, e muito melhor do que quando chegara naquele lugar; mas agora estava com aquela pulguinha atrás da orelha que talvez não estivesse tão pronto assim para encarar a vida real. No instituto era tudo mais fácil, controlado e sem os gatilhos que o atormentavam, mas a sua rotina real não era tão incrível assim. Tinha deixado um monte de parênteses abertos do lado de fora e sabia que precisava fechá-los de alguma maneira, e era aquilo que o apavorava. Não sabia se era capaz.

Uma batida na porta o tirou de seus devaneios, ao tempo de um enfermeiro entrar no quarto.

"Daniel, está na hora." o homem grande anunciou, recebendo um aceno como resposta. Ele observou atentamente ao menor, que se levantou devagar e respirou fundo, antes de seguir para a saída. O enfermeiro, chamado Felipe, segurou o ombro do mais baixo e o fez encará-lo. "Você tá bem?" seu tom de voz era gentil e acolhedor. Dani deu de ombros, apertando os lábios. "Relaxa, você vai ficar ótimo lá fora. Você consegue!"

"Valeu, Felipe." deu um sorriso pequeno e um tapinha amigável no ombro do enfermeiro, que havia sido um grande apoio naqueles meses, antes de pegar suas malas e seguir o rapaz para a administração para assinar sua papelada de saída.

***

"É tão bom ver voceeê!" Edu exclamou exagerado, abraçando o amigo com toda a sua força até o mesmo começar a reclamar. Quando o soltou, deu um passo para trás e sorriu largamente. "Você parece muito bem. Tá até coradinho. Não tá, Marco?"

"Você tá parecendo a mãe dele, Edu. Deixa ele!" o moreno repreendeu, mas o sorriso no rosto mostrava que sua bronca não passava de uma brincadeira com o amigo. Deu um passo na direção de Daniel e o envolveu em seus braços, dizendo baixinho em seu ouvido. "Você tá ótimo mesmo. Fico feliz que voltou." Dani sorriu, retribuindo o carinho.

Entraram juntos no carro e Edu logo começou a tagarelar sobre as coisas que haviam acontecido naqueles últimos meses. Em três meses de internação, era possível contar nos dedos quantas vezes a dupla tinha conseguido ver Daniel - tanto pelas regras rígidas da instituição de saúde, quanto pela agenda cheia que ambos haviam tido naquele período. Dani tentava acompanhar o falatório do amigo, mas acabou por desistir depois de alguns minutos agitados e passou a olhar a paisagem cheia de árvores do lado de fora. Ainda era muito para absorver, ainda era muito para conseguir colocar no lugar. Precisava ir com calma ou ia pirar de novo. E não podia, não queria, não dessa vez. Estava decidido a retomar o controle da sua vida e o que era seu. Precisava estar forte para aquela batalha, que não seria fácil.

Sentiu um aperto firme em sua perna e olhou para o dono da mão, que ofereceu-lhe um sorriso confiante e voltou a desviar os olhos para a estrada. Daniel suspirou. Ia ficar tudo bem.

***

Em São Paulo, o sentimento de esperança de Elídio estava o completo oposto do ex-namorado. Sentado em uma lanchonete perto de casa, Sanna usava um moletom grosso e capuz, não se importando com a temperatura alta dentro e fora do comércio. Quando Anderson entrou na loja, não reconheceu o amigo. Aquele era o objetivo de Elídio - não ser reconhecido. Mas não por Anderson, então levantou a mão discretamente e o chamou para perto.

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