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Esse capítulo apresenta muitas situações de abuso. Se for sensível ao assunto, por favor, não leia.

*~*~*~*~*

[3 ANOS ANTES]

Elídio deu uma última olhada para dentro do loft vazio e suspirou, sentindo o nó se formar na sua garganta. Se apressou em fechar a porta e trancar. Não queria mais se torturar daquele jeito. Aquele imóvel agora lhe fazia mal. Era apenas uma lembrança ruim do sentimento bonito que ele achava que compartilhava com Daniel, mas que agora sabia que era tudo mentira. Estava indo devolver a chave do imóvel que nem tinha chegado a ser habitado, querendo apenas deixar aquela história para trás; numa tentativa de se livrar de toda aquela raiva e toda aquela mágoa que estava sentindo. Mas sentia que era inútil. Seu interior estava tão preenchido de ressentimento que achava que nunca conseguiria superar.

Ainda era difícil engolir tudo aquilo que tinha visto e descoberto sobre Daniel. Aquilo ainda lhe doía tanto que tirava seu ar e fazia seu peito doer. Já tinha chorado tanto que achava que nem tinha sobrado água no seu corpo para derramar. Se achava patético por sofrer daquele jeito por alguém tão mentiroso, por alguém tão traidor. Mas é que aqueles adjetivos perto do nome do seu ex-namorado eram tão esquisitas que parecia errado. Daniel era o seu bem, seu amor, seu melhor amigo e seu maior suporte. Como ele podia ter feito tudo aquilo?

Respirou fundo e fez seu caminho para fora do prédio, querendo chegar logo na imobiliária e acabar logo com isso. Mal tinha pisado na calçada quando seu telefone tocou e ele atendeu sem olhar quem era.

"Alô?"

"Elídio? Elídio, sou eu." a voz de Daniel chegou aos seus ouvidos, fazendo seu coração errar uma batida. A voz do homem ao telefone estava trêmula, e ele respirava com tanta força que parecia que estava de exercitando. "Elídio, você viu as notícias? Tá em toda parte. Pelo amor de Deus, Lico, eu não fiz nada. Eu juro!" Dani soluçou, e Elídio precisou retroceder e encostar na parede do prédio para se apoiar. Estava tremendo. "Me ajuda, Lico. Por favor!"

Sanna não aguentou mais ouvir. Encerrou a chamada e desligou o telefone, não querendo mais ouvir a voz do seu ex-namorado.

Queria esquecer que um dia Daniel Nascimento existira na sua vida.

[ATUALMENTE]

Elidio arrastou o corpo lentamente para fora da cama, tentando não acordar o homem pequeno que dormia pesado sobre o colchão. Se preocupou apenas em vestir uma cueca antes de caminhar devagar para o banheiro, fechando a porta com um baque surdo e só então acendendo a luz. Parou em frente ao espelho amplo sobre a pia e apertou os lábios ao ver seu estado deplorável. Correu a mão por seu torso, vendo suas costelas marcando sob a pele alva. Nunca havia sido um homem acima do peso, mas Mateus havia decidido que seu corpo não era mais atraente o suficiente e havia sumido com a comida do apartamento do ator. E sem seu dinheiro, que Mateus controlava, ele não podia comprar nada. E sem seus amigos, que Mateus afastara, Elídio não podia pedir ajuda. E despido de toda a sua coragem e amor-próprio, Elídio não conseguia se libertar daquela situação. Estava encurralado.

Sanna apenas se arrastava nos seus dias, como uma criatura sem vontade própria, esperando a hora que poderia se libertar daquele horrível pesadelo em que se enfiara.

***

"Temos show hoje." Mateus falou, enquanto preenchia seu pão francês com os frios que escondera na geladeira (Lico sabia onde ficava, mas Mateus contava fatia por fatia e o ator não tinha coragem de mexer). Elídio olhava cabisbaixo para o pão excessivamente recheado, tendo que se contentar com um cacho de uvas e uma cumbuca de granola com iogurte. "Acho que você deveria testar aquele material que eu te passei semana passada."

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