Daniel não estava registrando mais nenhuma palavra que era dita naquela reunião. Ele estava há horas preso naquela sala, com aquele monte de gente que ele sentia que não gostavam dele. Só queria voltar para sua caverna. Quando finalmente foram dispensado, suspirou tão audível que atraiu a atenção da moça ao seu lado. Sorriu envergonhado e recolheu rapidamente suas coisas, deixando a sala sem se despedir de ninguém que estava presente.
Sentiu um pouco da tensão deixando seus ombros no momento em que pisou na calçada. Olhou para cima e viu que o sol começava a se pôr. Puxou um cigarro do maço em sua mão, acendeu e o pendurou entre os lábios, começando a caminhar tranquilo pela rua. Ele não costumava ter tempo para apenas andar por aí, então costumava aproveitar esses dias em que precisava ir até a emissora para conseguir esticar as pernas. Era final de verão e o clima estava muito agradável. Sentiu que seria um pecado desperdiçar aquela chance.
Parou após algumas quadras para comprar uma garrafa de água de um ambulante parado na esquina. "Boa tarde", cumprimentou educado, dando o dinheiro ao homem. Seus olhos foram atraídos para o imóvel do outro lado da rua. Sentiu-se confuso. Já havia passado por aquela rua tantas vezes e nunca tinha prestado atenção naquele lugar, o que era bem esquisito, porque era um lugar bonito e que chamava atenção com sua fachada que lembrava a entrada de um cinema antigo. Até ele, que não costumava sair de casa, sentiu vontade de ir lá.
Daniel abriu sua água, deu um grande gole e seguiu seu caminho, no momento em que a porta de entrada do local que observara estava sendo aberta.
***
"Cara, tá ficando espetacular." Elídio elogiou, abrindo a porta do Comedy Bar que Anderson estava prestes a inaugurar. "Não sabia que você tinha tanto bom gosto. Pensei que tivesse gastado tudo quando ficou com a Gabi."
"Ha, ha. Como você é engraçado." escarniou Anderson, empurrando levemente o amigo com o ombro. "Mas valeu. Tá bonito mesmo. Essa ideia da fachada como cinema ficou melhor do que eu tinha imaginado." Andy se virou para trancar a porta e tornou a olhar para Elídio. "Vai ser bom estar de volta a esse meio. Senti falta."
"Eu também. Seu hiato foi longo demais." Elídio comentou, caminhando para a beirada da calçada para atravessar a rua. "Sinto falta de trabalhar com você. Não sou um homem que gosta de ficar sozinho no palco."
"Você conhece meus motivos muito bem, Lico." Anderson respondeu baixinho. Lico se mexeu desconfortável, sabendo aonde aquilo iria dar. "Pera, deixa eu comprar uma água." parou em frente ao vendedor ambulante que sempre ficava na esquina da rua do bar. "Depois de tudo que aconteceu, eu não me sentiria be--" Andy parou de falar quando sua atenção foi atraída para um homem andando a alguns metros de onde estavam. Ele estava de costas, mas Anderson sabia que o reconheceria de qualquer lugar. Haviam sido tantos anos juntos.
"Que foi, Andy? Tá tudo bem?" Elídio questionou preocupado. Anderson tinha ficado pálido e encarava fixamente algum ponto atrás dele. Estalou os dedos em frente ao seu rosto, ao que o chamava mais uma vez. "Anderson! Que foi?"
"Eu... Eu acho que eu vi... Me espera!" Anderson largou sua carteira na mão de Elídio, gritando para ele pagasse a água, e começou a correr na direção que achava ter visto a figura de Daniel. Era fim do expediente e as ruas estavam lotadas. Andy tentou passar por aquele mundo de gente, mas acabou perdendo quem seguia.
"Anderson! Que porra..." Elídio alcançou o amigo após alguns minutos, esbaforido, com duas garrafas de água na mão. "Por que você correu?"
"Eu achei que tivesse visto alguém." Andy balançou a cabeça e virou para olhar Lico, tentando colocar um sorriso descontraído no rosto. "Foi mal." pegou uma das garrafas e a abriu. "Eu preciso ir para casa. Quer carona?"
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Behind the Scenes
FanfictionTrês anos se passaram desde o fim dos Barbixas e cada um trilhou seu próprio caminho na carreira solo. A mágoa causada pelas palavras ditas ainda está presente, e Daniel e Elídio nunca mais conseguiram estar na mesma sala sem se alfinetar. O que pod...