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Elídio estava recebendo toneladas de amor e de suporte, de todos os lados de seu círculo de amizade. Tinha Andy o acompanhando até o psiquiatra e ao psicólogo, tinha Gui o levando para visitar imóveis para alugar e sair do apê de temporada, tinha Bella e Gabi o ajudando a escolher os móveis de sua casa nova, tinha Marco e Edu dentro de sua cozinha para preparar algumas de suas refeições e tinha Daniel. O ex-ator ainda mantinha uma distância respeitosa para seu bem estar, mas isso não o impedia de passar a noite conversando com Sanna no telefone ou mandar guloseimas aleatoriamente para a sua casa, só para vê-lo sorrir. Sanna não se sentia mais sozinho – pelo contrário, se sentia mais amado do que nunca sentira antes.

Começava a retomar sua vida em passos de formiga. Um show aqui, uma publi ali. Apenas o que conseguia lidar sem prejudicar mais sua saúde física e sua saúde mental.

Mas para seu desgosto, o caso não ficou abafado. Sanna acordou em uma manhã de quinta-feira com dezenas de ligações e mensagens no WhatsApp. Confuso, não precisou procurar muito pra encontrar a razão daquele escarcéu: alguém havia contado tudo, desde o começo. Os roubos e a falsa acusação contra Daniel, a verdadeira razão do fim do grupo de comédia, a relação secreta de Elídio e Daniel, e a relação abusiva de Elídio e Mateus. Era tudo tão detalhado, com fotos e prints, que era óbvio que era um trabalho interno. Alguém propositalmente tinha soltado todas as informações para um Instagram de fofoca, e aquilo havia se espalhado rápido como fogo.

Em seu apartamento, Daniel olhava aquilo com horror. Estava revivendo seu maior pesadelo. Tinha sua cara estampada em sites maldosos, expondo coisas da sua vida pessoal e muitos comentários cruéis, ameaçadores e agora, também, cheios de homofobia direcionados a ele. Deixou o notebook de lado e pegou o telefone, que não havia parado de tocar desde muito cedo naquela manhã. Todos queriam saber se era verdade e o que ele tinha a dizer. Com as mãos trêmulas, tentou ligar para o número de Marco, mas ele não atendeu.

Sentiu vontade de chorar. Tentava não entrar em pânico. Sabia que estava a beira de um. Deixou-se escorregar para o chão e abraçou as próprias pernas. Tentava ignorar a dor no seu peito e a vontade de vomitar. Tentava controlar sua respiração, enquanto repetia para si mesmo que tudo ficaria bem. As lágrimas chegaram sem nem mesmo notar. Não queria viver aquilo mais uma vez. Ele estava finalmente bem.

Ouviu a porta da sala bater e logo um par de braços o acolheu. Não precisou olhar para saber que era Marco o ajudando mais uma vez. Agarrou-se ao braço do amigo como se fosse um salva-vidas. O celular ainda tocava sem parar.

***

João lia os comentários da publicação para o homem na cama, que sabia apenas rir de alegria. Mateus sabia que aquela cartada decretaria seu fim, mas não estava se importando nem um pouco. Ele já tinha chegado no fim da linha. Sua família tinha conseguido tira-lo da cadeia e ele já estava de malas prontas para sair do país. Ia recomeçar sua vida em Portugal, onde tinha dupla cidadania. Tinha sido necessário cobrar muitos favores para sair em liberdade, então não poderia arriscar ficar ali e ser preso de novo. Sabia que a justiça era uma piada, mas não queria correr o risco de voltar para aquele circo.

"É isso." João terminou de ler e levantou os olhos para o amigo. "Você tá estranho."

"Eu sou famoso, bebê. Não quero ser reconhecido." deu uma piscadela. Havia pintado seu cabelo platinado e agora exibia um preto muito bonito. Tinha abdicado de suas lentes de contato e usava os óculos quadrados que sempre havia detestado. Mas era por pouco tempo. "Queria ser uma mosquinha pra ver a cara daqueles dois patetas. Especialmente do Elídio." fechou o sorriso. "Ele acabou com a minha vida."

"Bem... Ele não fez nada, né?" João comentou com cuidado, vendo os olhos ferinos de Mateus o fuzilando. "Desculpa, Mate."

A obsessão de Mateus por Elídio não tinha acabado. Pelo contrário, agora ela contava com um ódio devastador. Ele não conseguia colocar na cabeça as razões de ter sido tão maltratado por Elídio, pois para Mateus, tudo o que ele havia feito tinha sido amar demais. Mas Sanna tinha o rejeitado, o maltratado e o colocado na cadeia. Mateus queria que Elídio sofresse, mas teria que se contentar com a internet acabando com a sanidade do ator.  Era o suficiente, por enquanto.

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