29.

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Durante os quatro dias em que Daniel esteve debilitado, Elídio não deixou seu lado. Cuidou das refeições, da limpeza, e tratou de Daniel com perfeição. "Você vai me deixar mal acostumado." Dani brincou no segundo dia, quando Sanna entrou no quarto carregando a bandeja com seu jantar, dessa vez arroz, purê e um frango grelhado.

"Eu não me importo de te mimar." Sanna respondeu com carinho, sentando na ponta da cama. Dani apenas sorriu feliz e envergonhado. Mesmo com Elídio estando ali a semana inteira, ainda era muito estranho ter ele tão próximo após quatro anos. Tão próximo e tão amigável. Daniel tinha colocado na cabeça que sua relação com Elídio tinha sido destruída de forma irreparável; mas agora ele estava ali, o tratando com tanto zelo que parecia que nada tinha acontecido. Ao mesmo tempo que aquilo lhe dava esperança por dias melhores, também o deixava com o pé atrás por talvez estar indo rápido demais.

Quando Daniel começou a se sentir bem o suficiente pra fazer suas próprias coisas, Sanna viu que não tinha mais razão pra ficar 24 horas grudado com o homem. E não pôde deixar de ficar muito chateado. Quando chegou a hora de voltar para casa e  Daniel o acompanhou até a porta, ele parou no corredor e virou para olhar o ex-namorado.

"Tem certeza que está bem pra ficar sozinho?" Sanna perguntou, encostado no portal da porta. "Eu não me importo de ficar mais um dia."

"Obrigado, Lico." Dani agradeceu, sorrindo bonito. "Mas eu tô bem. Não vou te alugar mais."

"Tudo bem." disse desapontado. "Mas se algo acontecer, você pode me ligar."

Daniel concordou com um aceno e começou a abrir os braços pra dar um abraço de despedida, mas parou no meio do caminho com os braços abertos de modo estranho, ficando com vergonha quando percebeu o que ia fazer. Sanna notou o movimento e a incerteza, então tratou ele de envolver Daniel em um abraço e o puxar para bem perto, seus corpos se encontrando. Dani suspirou quando sentiu o cheiro de Elídio, roçando seu nariz com delicadeza na pele exposta de seu pescoço. Sentira saudade daquele cheiro.

"Obrigado por cuidar de mim." Dani sussurrou próximo ao ouvido do outro, o que fez Sanna fechar os olhos e ficar arrepiado. Elídio afastou um pouco o rosto e seus olhos se conectaram ao de Daniel. Podia ter passado um minuto ou cinco horas, eles não saberiam dizer. Por outra vez, o mundo parecia não existir lá fora. Sanna desceu os olhos pelo rosto de Daniel até seus lábios. e então passou a língua pelos  seus próprios, como se estivesse sedento. Podia ouvir a respiração acelerada do outro, causada pelo nervosismo  do momento.

E então ele o beijou.

Não um beijo lento e romântico como nos filmes, mas sim um tão urgente que beirava a ferocidade. Elídio tinha as mãos firmes no pescoço de Daniel, que tinha colocado suas próprias mãos na base de sua coluna e o trazido para dentro. Sanna foi andando as cegas com Daniel, até bater as pernas no sofá e os dois caírem sobre as almofadas. Elídio pressionava seu corpo contra o de Daniel, suas respirações pesadas e seus lábios grudados um contra o outro, seus corações batendo quase que no mesmo ritmo e suas cabeças confusas tentavam entender o turbilhão de emoções que existia naquele beijo. Saudade? Desejo? Raiva? Não havia certeza.

Mas uma chave pareceu virar na cabeça de Daniel e ele arquejou, separando o beijo e empurrando Elídio com força, fazendo o homem parar no chão. Vermelho e suado, Sanna não entendeu o que tinha acontecido. Ele olhou para Daniel confuso, mas o outro não retribuiu. Se ajoelhou no chão e se aproximou. "Dani?" chamou baixinho, tentando colocar sua mão sobre a perna do mais velho, mas Daniel o repeliu e se levantou, pedindo apenas que ele saísse.

Confuso e machucado, Elídio obedeceu em silêncio. Se levantou do chão e se retirou da casa pela porta que tinha ficado aberta. Desceu pelas escadas e, quando chegou na rua, olhou para cima e pôde ver Daniel o encarando da janela do seu andar. Sustentou o olhar até Daniel sumir para dentro do apartamento. Elídio respirou fundo e olhou para os lado, sem saber direito o que fazer naquele momento. Ainda estava tonto. Colocou os dedos trêmulos sobre os lábios e riu abolhado, sem acreditar que realmente tinha beijado Daniel. Parecia um sonho.

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