Behind the Scenes

19.

E indo contra todas as previsões de Elídio, que esperava que Mateus aparecesse de surpresa todas as vezes que pisava fora de casa, o ex-produtor tinha simplesmente desaparecido. Por quase dois meses ninguém tinha tido notícias do rapaz, nem no escritório, nem em sua casa e nem entre seus amigos e agenciados. Ele havia sumido no ar.

Mas essa calmaria não era o suficiente para aplacar o coração de Elídio. Mesmo com o aparente desaparecimento de Mateus, o homem continuava enclausurado em casa. Ainda sentia medo pela sua segurança e daqueles que o estavam ajudando. Não queria colocar ninguém em risco, e era por isso que havia saído da casa de Marco antes de completar seu primeiro mês. Não havia tido coragem de retornar a sua casa, escolhendo alugar um apartamento no Airbnb próximo do prédio de Anderson — para o caso de algo desse errado e ele precisasse fugir as pressas. Saia apenas para rápidas visitas ao mercado do bairro. Por estar sem trabalhar, contava apenas com os ganhos dos vídeos antigos do Youtube e suas economias.

Mesmo estando fisicamente livre das amarras de Mateus, ainda sentia-se como um prisioneiro. Mas agora aquela prisão estava apenas em sua mente. Desde que tinha saído de casa, não havia tido um dia em que tivesse se sentido verdadeiramente em paz. Estava sempre nervoso, sempre ansioso e sentindo-se deprimido. Não cansava de se culpar por tudo o que havia acontecido e sentia nojo de si mesmo sempre que encarava seu reflexo no espelho, e por isso que o evitava. Ainda tinha pesadelos com as ofensas de seu ex-companheiro, com sua mão pesada acertando seu rosto e puxando seu cabelo; sentia vontade de vomitar quando lembrava do toque sujo de Mateus em seu corpo, o beijando sem consentimento e o forçando a fazer o que não queria. Mateus tinha tido sucesso em destruir Elídio Sanna.

Era uma noite quente de sexta-feira e Sanna estava sentado na beira de sua cama, os olhos mirando uma sujeirinha no tapete e as pernas balançando de ansiedade. Era a primeira vez que iria sair de casa para algo além do necessário. Guilherme, que estava tentando se reerguer depois de romper unilateralmente o contrato com Mateus, faria um show no comedy bar de Anderson naquela noite. Elídio não queria ir, sentia-se aterrorizado com a ideia de deixar a segurança de seu apartamento. Mas seus amigos haviam insistido tanto que ele havia dado o braço a torcer. Mas agora que a hora estava chegando, ele estava começando a se arrepender amargamente de ter aceitado aquela ideia louca. Não sentia que aquela noite terminaria bem.

***

"Eu tô muito atrasado?" Elídio ouviu o sussurro atrás de si e arregalou os olhos, sabendo que reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Virou a cabeça devagar e avistou Daniel trocando uma palavra com Anderson, que não estava sentado com o grupo, mas se aproximou rápido quando viu o amigo faltante chegar. Sanna voltou a olhar pra frente, se sentindo estranhamente nervoso agora. Era a primeira vez que via Daniel desde que descobrira toda a verdade sobre as tramoias de Mateus e não pôde evitar de sentir muitas coisas ao mesmo tempo. Resolveu olhar novamente e viu que Daniel tinha se sentado do outro lado da mesa, ao lado de Marco, e sussurrava alguma coisa no ouvido do comediante.

Elídio se forçou a olhar para a frente, não querendo parecer um esquisitão encarando o ex; então não viu quando Daniel colocou os olhos nele. "Você tá bem com ele aqui?" Marco perguntou gentil, reparando na atenção do amigo no ator. Daniel balançou a cabeça e ofereceu um sorriso sem dentes ao moreno, que deu de ombros e voltou a olhar para o palco. A presença de Sanna não tinha mais o mesmo impacto devastador nas emoções do ex-ator. Todas as sessões de terapia que fazia regularmente o haviam feito entender melhor e digerir todos aqueles sentimentos indigestos — mas isso não significava que ele havia se tornado um ser superior e que tudo havia sido esquecido, Daniel apenas estava aprendendo a lidar com tudo aquilo de maneira um pouco mais saudável do que estava habituado. Ele ainda sentia um comichão na boca do estômago quando olhava para o homem mais novo.