Epílogo

167 13 4
                                    

Sentado no sofá do camarim, com os cotovelos apoiados nas coxas e a cabeça entre as mãos, Daniel sentia que podia vomitar a qualquer momento. Ele ouvia as conversas animadas que aconteciam ao redor dele, mas não conseguia focar em nada. Ele estava pirando. Onde é que ele estava com a cabeça quando achou que aquela era uma boa ideia?

Eu não vou conseguir. Eu vou foder com tudo. Eu vou cair do palco.

Uma mão em suas costas o trouxe de volta de sua espiral de pensamentos negativos e ele levantou o olhar para fitar o namorado, que sorria de modo compreensivo. E ele não teve como não sorrir de volta. Elídio tinha esse efeito nele.

"Tudo bem?" perguntou carinhoso. Daniel recostou as costas no sofá e puxou o namorado para sentar sobre suas pernas, o abraçando pelo meio e escondendo o rosto em seu corpo.

"Só nervoso." deu de ombros, sem tirar o rosto do namorado.

"Hummm" Sanna cantarolou, passando os dedos entre os fios do namorado, como sabia que ele gostava. Daniel suspirou e ergueu o rosto, fazendo um biquinho com os lábios. Elidio riu baixinho e se curvou para selar os lábios do mais velho.

"Eca!" alguém resmungou próximo a eles. Eles viraram o rosto e viram Anderson se aproximando, Lorenzo bem seguro em seus braços. "Tem criança presente, seus tarados."

"Não acho que meus afilhados se importem com isso." Elídio replicou, a sobrancelha erguida em deboche.

"Não, eu tô falando de mim." disse como se fosse óbvio. "Eu sou um bebê."

Elídio rolou os olhos e se levantou (não sem antes beijar novamente o namorado), pegando Lorenzo do colo de Anderson e se afastando, resmungando para o menino de dois anos como o pai dele era um grande bobão. Anderson observou por alguns segundos o amigo se afastar com seu filho e se sentou ao lado de Daniel.

"E ai, preparado?" Dani deu de ombros novamente e Anderson bufou, o empurrando com o próprio ombro. "Deixa de ser idiota. Vai dar tudo certo."

Daniel deu um sorriso pequeno e meneou com a cabeça. Gostaria de ter um pouco da confiança de Andy.

***

"Então, Daniel... Dois anos se passaram desde a prisão do ex-produtor do grupo, Mateus Frazzão, dois anos desde que seu nome foi limpo e seis anos desde a última vez que você pisou no palco." a repórter falava animadamente, como se estivesse trocando amenidades com amigos. "Qual a expectativa para o seu retorno aos palcos?"

O trio se entreolhou, chocado com a falta de tato. Daniel apertou discretamente a mão do namorado, sabendo que o nome de Mateus ainda o deixava extremamente abalado. Mateus havia sido condenado e internado em um manicômio judiciário, tendo sido considerado incapaz de estar em uma prisão normal por seus problemas psiquiátricos. Daniel tinha achado a pena extremamente branda, mas era melhor que tê-lo a solta nas ruas.

Elídio tinha tido uma recuperação difícil. Tanto física, quanto mentalmente. Foram incontáveis as noites em que ele havia acordado chorando e gritando, implorando para Mateus parar de machucá-lo. E mesmo agora, dois anos depois, isso ainda acontecia. Era exaustivo, mas Daniel estava sempre pronto para o abraçar e dizer que estava tudo bem.

Daniel encarou a repórter intragável e forçou um sorriso. "Eu só estou feliz por estar de volta com meus amigos, fazendo algo que eu amo."

***

"DANIEL!" o homem se virou depressa quando ouviu seu nome ser chamado e sorriu largamente quando viu Marco e Edu se aproximando. Ele se apressou na direção deles e se jogou em seus braços, sendo prontamente acolhido por seus melhores amigos.

"Como você tá se sentindo?" Edu perguntou, ainda pendurado no pescoço do amigo.

"Cansado de me perguntarem isso." disse teoricamente aborrecido, mas não tinha nenhum calor em sua voz. Marco rolou os olhos e deu um tapa na nuca do amigo, que o encarou com olhos estreitos e esticou a língua.

"Só estamos preocupados com você, seu imbecil." Marco olhou ao redor e seu olhar parou um grupo parado um pouco mais a frente. "Você está feliz?"

Daniel deixou a pergunta assentar por alguns segundos e olhou na direção que tinha prendido a atenção do amigo.

A primeira coisa que viu foi Anderson, que tinha um pacote de algum biscoito nas mãos e o levantava para tirar do alcance de Luna (a linda garotinha de cinco anos, cabelos cacheados e pele morena que tinham adotado pouco tempo depois do nascimento de Lorenzo), fazendo a menina gargalhar cada vez que o pai tirava o pacote de sua direção. Um pouco mais ao lado, estava Gabriella mostrando algum vídeo para Gui, que tinha um sorriso bobalhão nos lábios. E então seus olhos encontraram os de Elídio, que segurava Lorenzo nos ombros e encarava Daniel com tanto amor que enchia a sala.

Daniel suspirou contente e voltou a olhar Marco e Edu, seus amigos que nunca tinham o abandonado ou rejeitado.

"É, eu tô muito feliz."

***

Daniel ajeitou a gravata amarela sobre a camisa preta e puxou o ar com força, sentindo o sangue correr gelado em suas veias. Conseguia ouvir o burburinho das pessoas que lotavam o teatro, todos ansiosos para ver o grande retorno da Cia Barbixas de Humor, e isso fazia seu coração bater dolorido contra o peito. Não conseguia não pensar na última vez que tinha colocado o pé no palco, e no verdadeiro shitshow que tinha acontecido depois.

"Hey, está pronto?" Anderson perguntou ao parar do seu lado, pronto para entrar no palco. Sequer parecia que tinha ficado tantos anos parado, dedicado unicamente as funções administrativas de seu bar, que continuava prosperando e logo receberia o grupo – tinham tentando convencer Andy a fazer a estreia nele, mas o mais alto tinha insistido que precisavam de um lugar maior para seu grande retorno.

Elídio parou do seu outro lado e agarrou sua mão, tentando transmitir um pouco da confiança e de todo o amor que sentia. Anderson agarrou sua outra mão e Daniel sorriu, balançando a cabeça decidido. Ia dar tudo certo.

E então eles pisaram no palco, sob o olhar de dezenas de pessoas e as fortes luzes. E pareceu que nenhum tempo tinha passado e nada tinha mudado. Aquilo era o certo.

Eles finalmente estavam em casa.

Fim

******

E é isso, acabou de verdade!

Foi uma puta de uma aventura gigantesca essa aqui, mas eu realmente amei cada segundo (mesmo com toda a demora). Eu tenho muito carinho por essa história e eu fiz o possível para ela sair do jeitinho que eu tinha imaginado. Espero que vocês tenham gostado e muito obrigada por não me abandonar em todos esses anos. <3

Obrigada, e não esqueçam de comentar! ;)

Behind the ScenesOnde histórias criam vida. Descubra agora