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****ATENÇÃO****

Esse capítulo contém descrições de violência e abuso sexual.

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Elídio encarou a figura ameaçadora de seu abusador com os olhos arregalados e a respiração acelerada, as lágrimas facilmente quebrando a barreira de suas pálpebras. Sentia a sensação gelada de medo correr por suas veias. Tudo estava indo tão bem, por que Mateus tinha que voltar? Elídio não queria reviver o inferno que era sua vida antes de Daniel se reaproximar. Ele não iria aguentar outra rodada.

"Vamos lá, amor." Mateus voltou a falar, sua voz enjoativamente doce e falsa. "Vamos pra casa."

As palavras afundaram e Sanna sentiu o corpo inteiro tremer. Ele não queria ir com Mateus. Pensou em Daniel dormindo tranquilamente no cômodo ao lado, sem nenhuma ideia do que estava acontecendo com o parceiro. Pensou em Anderson e em como ele quase havia morrido depois de tanto apanhar do homem a sua frente. Pensou em Gui, Edu e Marco. Pensou em Gabriella e no pequeno bebê barbixa que estava pra chegar. Eles ficariam arrasados, todos eles. Ele queria tanto conhecer o filho de Anderson. Ele não podia ir com Mateus.

"NÃO!" gritou com toda a força, sua garganta doendo pelo aperto que Mateus havia dado em seu pescoço e pelo grito desesperado que havia acabado de soltar. Recolheu o braço e acertou o rosto de Mateus com seu cotovelo, jogando o corpo pro lado e tropeçando nos próprios membros pra se levantar. Tentou correr em direção aos quartos, o nome de Daniel na ponta da língua e os xingamentos de Mateus enchendo seus ouvidos – mas antes que pudesse berrar o namorado, seu cabelo foi agarrado de uma forma terrivelmente familiar e seu corpo foi puxado pra trás. O rosto ensanguentado de Mateus apareceu no seu campo de visão, os olhos faiscando de um modo que fez Sanna choramingar. O ator se debateu sob o aperto do outro, tentando socar, chutar e morder. Ele estava amedrontado, mas não podia ir embora sem lutar.

Um punho se chocou com sua têmpora e ele chorou estrangulado, sentindo-se imediatamente atordoado. Ouviu o loiro falar alguma coisa, mas não registrou nenhuma palavra. Sua boca foi aberta contra a sua vontade por um par de mãos desconhecidas e Mateus enfiou um pano entre seus dentes. Ele olhou assustado ao redor e encontrou os olhos de João. Claro que o minion de Mateus estaria ali. Mas Elídio também conseguiu enxergar um brilho diferente no olhar do outro. Medo? Arrependimento? Pena? Não saberia dizer naquele momento.

Ele continuou se debatendo contra as mãos fortes que o seguravam, apesar da sua vista turva e a náusea que tomava deu corpo. Sentiu a bile subir a garganta, mas se forçou a engolir. Mateus tentou levantá-lo novamente, mas Sanna não parou de espernear. 'Não, não, não' repetia em sua cabeça, fisicamente incapaz de falar. 'Por favor, Deus, eu não quero ir.'

"Mateus, é melhor a gente ir embora." João falou com a voz trêmula. "Já devem ter chamado a polícia. Deixa ele aí."

"Ele vai comigo." respondeu entredentes. "Me ajuda a segurar ele, anda." então tirou os olhos de Elídio e encarou o amigo com ferocidade. "Se eu for preso, você vai comigo. Para de choramingar e me ajuda, seu merda."

João soltou uma respiração pesada e apertou os punhos, antes de se abaixar para enrolar as mãos nos tornozelos de Elídio; que choramingou desolado, as lágrimas caindo sem parar dos olhos apertados. 'Daniel, cadê você?'

E como se tivesse ouvido o chamado,  a porta do quarto se abriu com força e os passos pesados de um Daniel apressado ecoaram pelo corredor. Ele apareceu confuso, a cara amassada e os cabelos desgrenhados, olhando sem entender a cena que se desenrolava no meio da sua sala. Duas batidas depois, ele arregalou os olhos e se jogou contra o grupo no meio de sua sala, chocando o punho contra o nariz de João e partindo para cima de Mateus no segundo seguinte. O corpo de Elídio caiu como um saco de batatas de volta no chão, mas ele ignorou a dor e se forçou a se sentar, arrastando o corpo para longe do olho do furacão.

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