13.

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Dirigindo sozinho de volta para São Paulo, Marco não conseguia parar de pensar em Daniel. Três semanas após o desastroso encontro com Elídio, o mais velho se viu preso em uma espiral de tristeza e apatia que começava a preocupar as pessoas próximas. Sem buscar a opinião de ninguém, decidiu por si só que, apesar de sempre ter sido seu maior temor, era hora de voltar para o instituto mental que estivera internado no auge de sua depressão. Daniel sabia que não estava bem, que não estava seguro, e que só ele podia resolver aquela situação.

Passou os últimos dias daquela semana em contato com o administrador do hospital e com o seu psiquiatra, tentando deixar tudo arrumado para a sua chegada. Então, quando bateu na porta de Marco naquela manhã de segunda, ele só tinha intenção de se despedir — mas Marco (passado o choque inicial) insistiu em levá-lo até lá.

"Promete que vai se cuidar?" pediu pela terceira vez ao amigo, observando atentamente ele preencher a ficha para dar entrada no instituto. Dani sorriu sem dentes e balançou a cabeça, desviando os olhos da folha e os fixando no amigo. "Você tem certeza, Dani? A gente pode--"

"Eu preciso disso, amigo. Eu não tô bem." suspirou e olhou para a grande janela na sua frente, onde dava para ver a área externa do local. "Eu preciso de paz. Longe do trabalho, longe da confusão da cidade e longe do Elídio. Eu vou ficar bem."

Marco sentiu como se estivesse deixando um filho para trás. Mesmo sabendo que era o melhor para Daniel, não tinha como não se preocupar com o bem estar do mesmo. Mas não havia nada que ele pudesse fazer.

Quando chegou ao prédio de Daniel, Edu já estava lá. "Como ele está?" foi a primeira coisa que perguntou quando viu Marco saindo do carro, e teve como resposta um simples balançar de ombros e um sorriso desanimado. "O que viemos fazer aqui?"

"Ele me pediu pra me livrar das tentações." riu, enquanto apertava o botão do elevador. "Falou que não pode mais viver desse jeito, que ele estava se matando." Edu resmungou alguma coisa incompreensível e cruzou os braços, permanecendo em silêncio até chegarem ao apartamento.

Daniel não havia deixado nada fora do lugar, exceto por uma única taça de vinho, ainda cheia, sobre a mesa. Foi Edu que a pegou e despejou o conteúdo dentro da pia. Os amigos se olharam e começaram a busca pelas bebidas, cigarros e remédios do dono da casa, coisas que pareciam estar espalhadas por todo canto do apartamento.

"Será o suficiente?" Edu perguntou, enchendo uma sacola retornável de mercado com as coisas que haviam conseguido achar. "Ele vai melhorar?"

Marco suspirou, dando de ombros.

"Só nos resta ter esperança."

***

Elídio olhava sem emoção para as instruções que o diretor do comercial estava lhe dando. Estava achando tudo uma grande palhaçada. Sua vontade era levantar e deixar todo aquele amadorismo para trás, mas ele tinha assinado um contrato e não tinha como fugir daquilo sem sofrer consequências.

"É melhor melhorar seu comportamento, querido." Mateus disse discretamente, sem tirar o sorriso do rosto. "Não queremos desagradar nossos clientes, não é?"

Elídio não respondeu. Ele havia parado de rebater. Não entendia a razão de estar tão submisso a Mateus, mas ele estava e se sentia como um prisioneiro.

Mateus estava trabalhando para destruir cada pedacinho da autoestima e controlar todos os aspectos da vida do homem mais velho. Ele não havia chegado tão longe para entregar Sanna de mão beijada para Daniel e Anderson. Precisava mantê-lo o mais perto que fosse possível.

***

Daniel dobrou cuidadosamente as suas roupas e as deixou empilhadas no pé da cama. Esticou a coluna e olhou ao redor, para o quarto em que ficaria pelas próximas semanas. Como era um paciente particular e estava internado voluntariamente, tinha o luxo de ter um quarto só para si – mas ainda assim era um local bem simples. Tinha uma cama de metal com lençóis brancos e finos, um frigobar encostado no canto, um armário de duas portas e uma televisão pequena presa a parede.

Reparou em uma porta ao lado do aparelho e quando abriu encontrou um banheiro simples, com vaso, ducha e pia. Fechou a porta e foi até a grande janela, gradeada, que tinha na outra parede. A vista era bonita, isso não podia negar. O terreno da clínica era cercado de árvores e sempre podiam ver bichos indo pra lá e pra cá. Poderia ser o paraíso, se não fossem os gritos que sempre ecoavam pelos corredores.

E a solidão. Talvez fosse a pior parte.

Daniel havia se acostumado a estar sozinho em muitos momentos, mas ainda assim sabia que tinha Marco e Edu prontos para entrar em cena se as coisas ficassem muito ruins. Mas preso ali, não tinha ninguém. Tinha tido seu celular tomado e nem visitas poderia receber pelas próximas semanas.

Seria difícil lidar com todo aquele tempo livre sem pensar em um monte de besteiras.

***

Anderson fechou sua mala e a carregou até a sala, colocando-a do lado da porta. Checou seus documentos, conferiu se sua passagem estava na pasta e guardou tudo dentro da mochila sobre a mesa. Apertou os olhos e olhou ao redor, tentando pensar no que poderia ter esquecido de pegar ou desligar. Afinal, ficaria bastante tempo fora de casa e não teria como voltar para desligar o ferro de passar ou pegar a sua carteira de motorista da cabeceira.

Pegou o celular no bolso da calça e viu que não tinha nenhuma novidade, o que o fez suspirar e guardar o aparelho. Fazia semanas que não tinha notícias de nenhum dos amigos, nem Elídio e nem Daniel. Tinha feito aquele encontro numa tentativa de consertar as coisas entre o trio, mas só tinha feito afastar todos ainda mais. Estava morrendo de preocupação, mas não podia colocar sua vida em espera mais uma vez por causa daquilo.

Estava indo para a cidade de Gabriella. Precisava consertar as coisas com sua esposa, precisava ser o apoio que não tinha sido nos últimos tempos. Precisava priorizar a si mesmo, pelo menos uma vez na sua vida.

Só esperava que quando voltasse, as coisas não estivessem ainda piores do que estavam naquele momento.

Se é que fosse possível piorar.

FIM do capítulo 13

***

OLÁ OLÁ, tô sozinha aqui? kkk

Faz meses que não posto nada, eu sei. Mas a rotina de faculdade, estágio e maternidade acaba com a vida da pobre fanfiqueira. Aproveitei o feriado não-feriado e tirei a poeira daqui. Espero que esteja legal.

Não esqueçam de comentar, quero saber o que vocês estão achando dessa tensão toda. Juro que melhora!

Um beijão, e vejo vocês algum dia.

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