"Vai devagar, filho da puta." Elídio ralhou zangado, ajudando Anderson a subir pelas escadas no lado de fora da portaria do prédio em que morava. Anderson havia recebido alta duas semanas após despertar do seu coma, semanas estas em que havia ficado sob observação para garantir que não havia ficado nenhuma sequela após as pancadas da cabeça e, também, para realizar um procedimento cirúrgico em sua perna quebrada. Ele ainda teria que passar por sessões de fisioterapia, mas já estava totalmente fora de risco. O ideal era que estivesse usando uma cadeira de rodas, afinal ainda tinha um braço em recuperação e uma costela trincada, mas por pura teimosia e pela falta de acessibilidade em seu prédio, Anderson tinha insistido em usar muletas ao sair.
"Deixa de ser chato, Elídio. Eu tô dominando isso aqui." e como se quisesse provar sua fala, Bizzocchi levantou as muletas e ergueu a perna quebrada, se equilibrando de modo bolo na sua perna boa.
"Para de babaquice, Anderson." foi a vez de Gabriella brigar, dando um tapa com a mão pesada na nuca do esposo. "Francamente, ele é pior que criança." lamentou-se para Daniel, que seguia ao seu lado e segurava seu braço como apoio. Ela tinha recém completado sete meses e sua barriga estava cada vez mais pesada. "Vou deixar ele preso no berço do Joaquim até melhorar."
"É uma ideia excelente. Faça, por favor." Daniel aprovou entre risos, atraindo a atenção de Andy, que os encarou com a testa franzida e parecendo indignado, como se soubesse que era ele o assunto da conversa entre a dupla risonha que seguia atrás de si.
"Tô de olho em vocês, suas futriqueiras." alertou quando chegou a porta do elevador, que era mantido aberto por Elídio, que estava muito desinteressado da briguinha boba entre os amigos.
Elídio e Daniel não demoraram mais do que alguns minutos no apartamento do casal, querendo apenas garantir que eles chegassem bem em casa. Não que esperassem que Mateus fosse aparecer novamente com uma barra de ferro para atacar Anderson, só queriam garantir que não teriam mais nenhuma surpresa desagradável vinda dele ou de qualquer um de seus capangas.
Anderson havia dado seu depoimento para a polícia poucos dias após acordar do coma, sendo bem detalhista e deixando claro que havia sido atacado por Mateus. A polícia vinha fazendo buscas desde então, mas parecia que o ex-agente tinha voltado para o buraco de onde saíra.
"Você precisa ir pra casa ou tem tempo para um café?" Daniel perguntou quando entraram no carro, ele como motorista e Sanna ao seu lado. O ator levantou o rosto para fitar o amigo e sacudiu a cabeça ao que respondia:
"Eu sempre tenho tempo pra você." Daniel mordeu o lábio para evitar um sorriso grande demais e meneou com a cabeça, colocando o cinto e dando partida no carro. Uma música soava baixinha no rádio e Elídio cantarolava quase que no mesmo volume, as mãos batendo em suas próprias coxas. Daniel não conseguia não se sentir encantado pela cena tão familiar, sentindo o seu coração quentinho de alegria e conforto.
Aquelas últimas semanas tinham sido complexas. Com a preocupação pela saúde de Anderson mais abrandada, o casal pôde focar novamente na relação que voltava a se desenrolar. Muitos beijos e chamegos tinham sido trocados, mas nenhum dos dois homens teve coragem de iniciar a conversa tão necessária. Eles tinham muitas questões para resolver, mas o medo de trazer a realidade de volta colocava uma pedra sobre o assunto. Eles estavam tão felizes e a última coisa que queriam eram estragar aquele clima gostoso ao trazer de volta fantasmas do passado.
Daniel estacionou o carro em frente a um pequeno café familiar que ficava a algumas quadras do seu apartamento. Costumava ir bastante ali com Sanna quando estavam juntos, mas nunca mais tinha tido a coragem de colocar o pé naquele lugar. Não era seu plano inicial ir para lá, ele só tinha ligado o carro e dirigido em busca de um lugar legal, demorando alguns minutos para reconhecer o caminho que tinha percorrido tantas vezes alguns anos antes. Olhou discreto para o rapaz ao seu lado e viu o rosto dele se iluminar quando percebeu onde estavam, correndo os dedos para tirar o cinto e descendo do carro antes do motorista. Daniel riu baixinho, achando toda a cena muito fofa, e desceu apressado para ir atrás do ex-namorado.
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Behind the Scenes
FanfictionTrês anos se passaram desde o fim dos Barbixas e cada um trilhou seu próprio caminho na carreira solo. A mágoa causada pelas palavras ditas ainda está presente, e Daniel e Elídio nunca mais conseguiram estar na mesma sala sem se alfinetar. O que pod...