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"Talvez eu deva ir embora." Elídio soltou para o nada, após alguns minutos de silêncio absoluto. Os outros ocupantes da mesa viraram para o olhar, que continuou falando. "Se eu fosse para bem longe... Ele não iria ter como me achar." crispou os lábios, não acreditando realmente naquilo que falava, apertando o copo de vodka na mão e levando até a boca para dar um gole. "Tudo ia ficar bem se eu sumisse."

"Não fala merda, Elídio." Anderson ralhou, empurrando o ombro de Sanna com força. "Você não fez nada de errado pra ter que sumir."

Elídio suspirou profundamente, levando o copo na boca e entornando o líquido inteiro de uma vez. Limpou o canto da boca e pegou a garrafa que jazia abaixo da metade sobre a mesa, tornando a encher seu copo. Daniel, que estava em silêncio desde que havia se sentado à mesa com os outros dois, observava preocupado ao ex-namorado virando copo após copo de álcool. Elídio estava deprimido, isso era óbvio, e estava tentando encontrar algum conforto para a sua situação no efeito inebriante da bebida. 

Daniel já havia estado naquele lugar e sabia bem que nada de bom sairia dali.

2 ANOS ANTES

Quando Marco entrou no apartamento de Daniel, o cheiro nauseante de bebida velha e vômito atingiu seu rosto e o fez retroceder de volta para o corredor. De onde estava ele pôde enxergar que haviam latinhas de cerveja e garrafas de bebida espalhadas por todo o apartamento. Fazia menos de dois dias que ele e Edu haviam estado lá, junto com uma diarista contratada por ele, e deixado o apartamento um brinco. Pensar na velocidade que Daniel tinha sido capaz de beber e destruir tudo aquilo fez o coração de Marco doer.

O homem respirou fundo e fez seu caminho para dentro do apartamento abafado e fedorento, fechando a porta atrás de si e indo direto abrir as janelas. Respirou fundo o ar fresco fora da janela, como um mergulhador prestes a entrar na água, e virou para continuar seu caminho pelo apartamento, a procura de seu amigo. Notou que o único prato que tinha encontrado tinha sido um com meio sanduíche mordido; todo o resto era bebida.

Quando entrou no quarto de Daniel, a situação era um pouco melhor que a da sala, exceto pelo corpo imóvel sobre o colchão. O moreno se aproximou apressado, sentando na ponta da cama e sacudindo o amigo. Daniel estava todo torto na cama, sujo de seu próprio gorfo, e demorou a dar algum sinal de vida após ser sacudido continuamente. O homem gemeu prolongado e se mexeu devagar na cama, virando na direção de Marco e o encarando com seus olhos vermelhos. Tentou dizer alguma coisa, mas sua fala enrolada foi incompreensível.

"Dani, o que você fez?" Marco perguntou baixinho, tirando o cabelo grudento do rosto do amigo para conseguir vê-lo melhor. "Vem."

ATUALMENTE

Daniel não tinha muitas lembranças vivas daqueles dias, mas se recordava de ser enfiado de roupa em tudo debaixo do chuveiro e ter tido a ajuda de Marco para se banhar e tentar recuperar um pouco de sua dignidade. Depois foi levado a força para a casa do amigo, onde permaneceu por um longo período para ser vigiado de perto. Havia brigado e tentado fugir, assim como tentado roubar bebidas quando fora ao mercado com o amigo, mas Marco e Edu tinham ficado em cima dele como dois cachorros. Ele não havia parado de beber, mas aqueles dias humilhantes não tinham se repetido.

E agora que realmente estava limpo e muito melhor no que se tratava de sua saúde mental, ele sabia que o buraco que Sanna estava se enfiando era perigoso. Sentiu o nó se formar na sua garganta com aqueles pensamentos melancólicos. Não queria que Elídio acabasse como ele. Então quando o mais novo fez menção de virar novamente seu copo, Daniel o segurou pelo pulso e o forçou a abaixar o copo. Elídio o olhou confuso, o rosto vermelho pela embriaguez.

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