Behind the Scenes

18.

Parecia cena de filme. Anderson e Gui aproveitaram o portão aberto por um morador para forçar seu caminho para dentro do prédio de Daniel. O porteiro arregalou os olhos quando os viu entrar, tendo sido firmemente alertado que aqueles homens não eram bem vindos ali. Levantou-se apressado, parando na frente da dupla e tentando contê-los sozinho, dizendo sem parar que 'o senhor Mateus não queria visitas' e que 'ele iria chamar a polícia' – mas aquilo não foi o suficiente para parar os amigos, que o tiraram da frente com brusquidão e se fecharam dentro do elevador. O ar dentro do elevador era quase palpável de tanta ansiedade que exalava dos dois, que não ousavam trocar nenhuma palavra.

Quando o aviso sonoro soou e as portas se abriram, Anderson quase correu para a porta de Sanna. Nem tentou usar sua chave; sabia que Mateus tinha trocado a fechadura. Apenas tomou distância e literalmente meteu o pé na porta, vendo a madeira balançar. Chutou outras duas vezes, até conseguir arrebentar a fechadura. Elídio estava parado no corredor, com os olhos grandes como duas bolas de tênis. "Vambora" Guilherme apressou, pegando uma das mochilas do chão e voando para fora para chamar o elevador. Andy abraçou o amigo brevemente, antes de jogar a outra mochila no colo dele e o puxar pelo pulso para fora. Os vizinhos, que haviam saído para ver a comoção, pareciam achar que eles estavam fugindo do diabo. E para Elídio, meio que aquela era a situação. Ele estava fugindo do inferno.

A descida parecia interminável. Elídio apertava a alça da mochila jogada sobre o ombro, sentindo as pernas tremendo. Sentia que Mateus já sabia o que estava acontecendo e queria ir embora antes que o homem chegasse ali. Queria evitar um confronto. Anderson e Guilherme pareciam tão furiosos que poderiam matá-lo se o vissem ali.

Encontraram a portaria vazia. O homem que a aguardava estava no portão, discutindo exaltado com Marco, que segurava o portão aberto e apenas repetia que não iria sair dali. Quando Elídio passou, o porteiro gritou seu nome, mas Sanna não parou. Anderson o empurrou para dentro do carro parado na calçada e só aí Marco saiu, tomando seu lugar como motorista e acelerando para longe do prédio quando todos os seus amigos entraram no veículo preto.

Ninguém falou.

Elídio olhou para trás, para onde estava o lugar que uma vez chamara de lar, e suspirou. Se curvou para frente no seu assento e cobriu o rosto com as mãos, se permitindo desmoronar. Estava exausto. Anderson o puxou para um meio abraço desajeitado. Tudo iria ficar bem agora.

***

"A primeira coisa que você precisa fazer é ir numa delegacia e fazer um boletim de ocorrência." Marco falou, colocando os copos vazios e a jarra com suco na mesa de centro para que eles pudessem se servir. "Você precisa de uma medida protetiva. Ele vai vir atrás de você. Temos que nos resguardar."

"Eu sei." Elídio respondeu baixinho, aceitando o copo de suco que Andy estava empurrando na sua mão. O grupo estava instalado na casa de Marco, sabendo que aquele era um dos poucos endereços disponíveis que Mateus não conhecia.

"E depois eu posso te levar no banco pra você cancelar seu cartão e pedir outro. Aliás, é melhor você ligar. Antes que aquele corno limpe sua conta." Sanna meneou com a cabeça. Mantinha a cabeça baixa, estava ridiculamente envergonhado por estar naquela casa. Sabia que Marcão nutria um grande desprezo por ele e provavelmente estava bem infeliz por tê-lo ali.

"Você vai ficar aqui no Marco até conseguirmos ajeitar as coisas." Andy comunicou, digitando alguma coisa no seu celular. "Descanse hoje, coma alguma coisa, e amanhã cedo vamos direto na delegacia. Vou entrar em contato com meu advogado pra vermos esse negócio da medida protetiva."

"Eu posso ficar num hotel." Lico disse, encarando Anderson. "Não quero dar mais trabalho que já dei."

"Não fode, Elídio." Marco praguejou. "Você vai ficar aqui. Onde a gente pode te vigiar e te proteger." encarou irritado ao ator acuado no sofá. "A gente não fez essa puta operação pra você cair de novo nas garras daquele demônio."