Prólogo

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Lidar com artistas de qualquer tipo era sempre estressante, mas os funcionários daquele teatro em São Paulo haviam aprendido a contornar bem com as situações que sempre surgiam quando era noite de espetáculo. Já era bem normal presenciar abuso de substâncias, fãs sendo levados sem muita discrição aos bastidores e muitas, muitas brigas. Já estavam acostumados com a loucura que era trabalhar no meio artístico. Mas nada os havia preparado para aquela gritaria dentro do camarim dos Barbixas.

Anderson estava parado no meio da sala, com os braços esticados para os lados, tentando evitar que um confronto começasse entre Elídio e Daniel. Quando Elídio chegara para a apresentação daquela noite, sua cara de indignação e a grosseria para Daniel haviam deixado claro que alguma coisa não estava certa - mesmo que mais ninguém soubesse o que era. Lico havia se comportado de modo bastante azedo durante o show, que havia sido recheado de alfinetadas que pareciam não fazer sentido para mais ninguém que estava ali. Quando tiveram a chance de voltar ao camarim, Daniel tentou se aproximar e entender o problema, mas foi quando Elídio explodiu.

"VOCÊ REALMENTE ACHOU QUE NINGUÉM IA DESCOBRIR VOCÊ CONSPIRANDO PELAS NOSSAS COSTAS?" Elídio bradou a plenos pulmões, fazendo os amigos se sobressaltarem. Ele apontou o dedo na cara do mais velho, os olhos faiscando pela raiva que sentia. "Você é um rato, Daniel!"

"Mas- o que--" Daniel deu alguns passos para trás, confuso e assustado pelo modo que Lico estava agindo. Nunca o havia visto daquela maneira. "Você tá doido? O que eu fiz?"

"Você vai realmente se fazer de sonso?" questionou indignado, tentando se aproximar do outro e sendo impedido pela mão de Anderson em seu peito. "Eu descobri tudo. Seu merda!" cuspiu a ofensa, tentando se desvencilhar de Andy. "Você roubou da gente. Você estava fazendo a nossa caveira nos bastidores. Você ia nos abandonar no meio da temporada, pelo amor de Deus!"

"Ma-mas... Eu nunca... E-eu... " Daniel não soube o que dizer em frente às acusações do mais novo. Sua cabeça estava girando em confusão. Buscou os olhos de Andy, procurando por algum suporte da parte dele.

"Da onde você tirou isso, Elídio?" Anderson questionou, virando para encarar o amigo. Estava tão perdido quanto Daniel. Escaneou o rosto de Elídio em busca de algum sinal de brincadeira ou insanidade, mas o outro parecia convicto do que falava. "O Dani é nosso amigo. Ele nunca faria nada disso com a gente."

"Eu pensava nisso também. Até que tudo começou a fazer sentido." as palavras de Elídio estavam carregadas de veneno. Ele olhava para Daniel, que estava encolhido no mesmo lugar, com tanta raiva que era quase palpável. "Todo o dinheiro que começou a sumir do nosso caixa. Todo o burburinho que ouvimos naquela viagem... Foi ele." passou a mão no rosto tentando se acalmar, mas seu corpo estava queimando de fúria. "Como você pôde ser tão baixo?"

"Eu não fiz nada! Eu juro!" Daniel colocou as mãos juntas em frente ao peito, o desespero na voz. Estava a ponto de se ajoelhar e implorar para ser ouvido. "Você precisa acreditar em mim."

"Eu não preciso acreditar em nada, Daniel. Eu tenho provas de tudo. Você. é. um. merda!" Dani sentiu como se estivesse sendo sufocado. "Vai embora daqui. Vai lá fazer seus trabalhinhos pra TV. Não foi por isso que você nos traiu?" Elídio deu as costas ao mais velho e foi em direção ao local onde guardavam suas coisas. Pegou a mochila de Daniel e jogou aos pés dele. "Vai embora! Ninguém quer você aqui. Ninguém precisa de você."

"Elídio, po-r favor" Daniel pediu, abaixando para pegar a sua mochila e apertando a alça com uma força desnecessária. Estava a ponto de chorar. "Eu não fiz nada."

"Elídio, você não pode expulsar o Dani. O Barbixas é de nós três." Anderson argumentou, sua voz esganiçada. Ele estava tentando manter a calma, mas estava completamente angustiado. "Não existe grupo sem os três."

"Então não vai ter mais grupo." Elídio decretou, cruzando os braços. Andy e Daniel se entreolharam em choque. "Eu não trabalho mais com o Daniel. Não vai fazer falta. Ele nem é tão bom assim no que faz. Ele só tá aqui porquê tivemos pena dele."

"Elídio!" Anderson exclamou, virando o pescoço tão rápido que se ouviu um estalo. "Não fala merda."

Daniel perdeu o ar quando ouviu as palavras cruéis do outro e o lançou um olhar machucado, antes de abaixar a cabeça e deixar o camarim, ignorando os chamados de Andy.

"Por que você fez isso? Te onde você tirou tanta bosta?" Anderson perguntou furioso, se aproximando de Elídio e o segurando com brutalidade pela gola da camisa que ele vestia, o fazendo cambalear.

"Eu nos fiz um favor." respondeu sem se abalar, tirando a mão de Anderson dele e dando um passo pra trás. "O Daniel não é quem a gente pensava."

"Você que não é quem eu pensava." Anderson retrucou, pegando as suas coisas e se encaminhando pra porta. "O fim dos Barbixas é culpa sua."

Elídio observou Anderson sair do camarim e tropeçou até a poltrona, sentando e se curvando pra frente. O peso do que havia acontecido caiu de uma vez sobre ele e o fez perder o ar. Seu coração batia acelerado e ele se sentiu tonto, a visão ficando turva. Teve vontade de chorar.

"Vi o Daniel sair transtornado daqui." ouviu uma voz conhecida próximo a porta e levantou a cabeça para olhar. "Imagino que tenha falado com ele."

"Eu não sei se fiz a coisa certa." Elídio puxou levemente os cabelos, olhando desolado para o produtor. "Você tem certeza do que disse?"

"Eu te mostrei as provas, Elídio. Ele estava roubando o dinheiro de vocês. Ele ia para um canal fechado e queimou vocês para não serem convidados. Eu nunca inventaria algo assim." Mateus respondeu, na defensiva. "Eu amo o Dani. Eu fiquei tão chocado quanto você. Não duvide de mim."

"Eu não tô duvidando." Lico se apressou em se justificar. Suspirou e se endireitou na poltrona, jogando a cabeça no encosto. "O que nós vamos fazer sem o Daniel?"

"Você pode achar um substituto pra tudo, meu anjo." Mateus se aproximou e pôs a mão no ombro de Elídio, afagando carinhosamente. "Confie em mim. Vou fazer tudo melhorar."

Elídio apertou os lábios em um sorriso desanimado e fechou os olhos. Ele estava desgastado. Daniel estivera ao seu lado por tantos anos. Aquilo tudo parecia um grande pesadelo.

Fim do Prólogo.

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