O meu quarto na casa nova era bastante rústico, mas aconchegante. A cama era limpinha e macia, com uma janela de vidro na parede logo atrás, exibindo a paisagem harmoniosa de uma floresta que parecia encantada. Havia um guarda-roupa pequeno no lado da cama, com algumas roupas para treinamento, a maioria era clara ou totalmente branca.
Eu ainda estava tentando me adaptar a tudo aquilo, estava mesmo. Mas tudo parecia tão estranhamente novo para mim que eu não conseguia nem processar algumas coisas que estavam acontecendo. As pessoas falavam, falavam e falavam e eu não conseguia digerir metade das coisas que elas diziam. Tipo, como eu faria para me tornar uma Ceifadora? Eu não fazia a mínima ideia se valeria a pena ao menos tentar.
Você já está aqui, lembre-se que é o que os seus pais queriam.
Talvez eu conseguisse, talvez não. Preferia não pensar mais tanto no assunto. Sempre detestei ficar me torturando por coisas de que eu não sabia nada a respeito ou que estavam foram do meu controle.
Vamos com calma, Lola. Você vai saber o que fazer.
Naquela noite, eu e Nathan decidimos dormir em meu quarto, pois ele ainda não se sentia pronto o suficiente para dormir sozinho em um lugar completamente desconhecido. Com suas mãos pequenas de criança em volta da minha cintura, e com sua cabeça acomodada em meu braço, pegamos no sono sem muita dificuldade. Estávamos extremamente exaustos, era tudo o que precisávamos naquele momento: descansar, submergir na indiferença e esquecer de tudo a nossa volta por um tempo.
• • •
Pela primeira vez, desde a morte de Tyler Etchison, eu finalmente consegui dormir sem ter pesadelos. Sem demônios, sem morte, sem olhos vermelhos. Apenas uma paz tranquilizadora dentro do peito, um sentimento de que no final, tudo iria valer a pena. Eu realmente esperava estar certa, no fim das contas.
Eu acordei esticando os dedos a procura do calor de meu irmão. Porém, Nathan não se encontrava mais na cama. Não preciso nem dizer que aquilo já me deixou preocupada. Eu sei, eu tinha que parar de me preocupar tanto com ele, mas eu não conseguia de jeito nenhum. Quando Nathan não estava por perto era como se eu estivesse sem uma parte de mim. Sentia-me incompleta.
Levantei da cama em um salto e peguei uma das blusas brancas, uma jaqueta cinza e calças da mesma cor. Fui até o banheiro, tomei banho o mais rápido possível e quando terminei, vesti as roupas.
Saí do quarto às pressas e quando eu estava passando pela sala de estar eu comecei a ouvir o barulho de alguém batendo na porta. Andei bem devagar, tentando não fazer barulho, mas o chão de madeira não ajudava com seu rangido.
Girei a maçaneta e abri a porta.
Dois garotos estavam ali na minha frente. Um deles era do meu tamanho. Já o outro... bom, digamos que nem tanto.
Priam e Nathan.
Priam White usava a sua clássica roupa de motoqueiro matador de demônios. Nathan usava uma roupa branca, com um colete da mesma cor grande demais para ele. Até parece que você vai treinar, garotinho!
— Então, Lola... — começou Priam — está pronta para começar seu treinamento?
Eu olhei para os dois, sorri e disse:
— É claro que estou pronta.
E, pela primeira vez em muito tempo, eu finalmente consegui transmitir segurança em minha voz.
• • •
Caminhamos pelo campo até chegarmos ao palácio da Academia Semianjos. Priam havia me dado uma espécie de colete para usar nos treinamentos. Ele disse que quase todos os semianjos o utilizam quando estão em combate, e já que eu provavelmente iria entrar em um hoje, era bom me prevenir. Ele combinava com a roupa que eu estava usando, mas parecia uma armadura de ferro de tão pesado! Aquilo me deixou um pouco com falta de ar no começo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entidades
RandomE se anjos e demônios realmente existissem? E se os anjos descessem dos Céus, se apaixonassem por humanos e tivessem filhos? A jovem Lola Witt descobre da pior forma possível que seres malignos existem, e que seu pai, um dia, fora um anjo. Isso faz...