Capítulo 33 - Estranhos no Paraíso

28 1 0
                                    

A correria depois do ataque foi assustadora. Sentia uma mistura de euforia e medo pesando em minha garganta como pastilhas rançosas. O abalo dos eventos tomou conta de mim com tanta força que eu precisei de um momento encostada na parede; foi enorme, intenso e inarticulado, mas felizmente breve.

— Christopher está bem — gritava Priam, repetidamente. — Não se preocupem.

Será que estava mesmo?

— Temos que sair daqui o mais rápido possível! — disse Faith.

Olhei pelos arredores uma última vez; corpos incinerados e mutilados, a adaga fincada na testa de Lucy, o lugar vazio onde deveria estar um Demônio Detonador. Aquilo tudo me deixava muito angustiada.

Priam e Faith apoiaram o corpo de Chris sobre seus ombros e o arrastaram dali. O Club Red & The Red Owl, que minutos atrás estava cheio de vida, havia se transformado rapidamente num lugar vazio e destruído, e marcado pela morte. O lugar no qual Lucy morreu. Eu nunca esqueceria como seus olhos me fitaram momentaneamente, após sua morte.

Quando alcancei a SAÍDA DE EMERGÊNCIA, chutei a maçaneta com força. Na primeira tentativa eu não obtive sucesso, então chutei novamente com mais força e finalmente rompi a fechadura.

— Vamos!

O som de sirene policial ecoou pela rua deserta à nossa frente.

— Se escondam — murmurou Priam.

Eles se arrastaram para trás de um arbusto, e eu para trás de outro, bem a tempo de ver duas viaturas chegando ao local do tumulto.

Vi Priam erguer uma das mãos sobre o arbusto e uma onda invisível ser arremessada dela. O escudo se chocou contra as duas viaturas, que capotaram em uma velocidade assustadora, roncando ao deixar o asfalto e entortando-se ao mergulhar no para-choque uma da outra. Os carros rolaram para fora da rua. O ruído emitido foi ensurdecedor.

Depois que saí de detrás do arbusto no qual eu estava escondida, comecei a berrar com Priam:

— Você está maluco? Por que fez isso?!

— Queria que encontrassem a Ferrari roubada com todas as nossas coisas? Para sermos fugitivos pro resto da vida?

— Tecnicamente eu já sou uma fugitiva.

— Não quero discutir com você.

— E nem vai — interveio Faith. — Não temos tempo para isso. Precisamos dar logo o fora daqui!

Assentimos com a cabeça e seguimos em frente.

•••

Priam estava tenso ao volante. A cada minuto um palavrão diferente saía de sua boca. Christopher ainda estava inconsciente, mas Faith estava cuidando dele no banco de trás.

— Para onde vamos? — Perguntei.

— Eu não sei — respondeu Priam, meneando a cabeça.

— Para algum hotel? — sugeri. — Precisamos de um lugar para descansarmos e depois avaliarmos melhor a situação.

— Não podemos mais simplesmente nos hospedar em um hotel, não na circunstância em que estamos — contrapôs Faith.

— Ela está certa — concordou Priam. — Conheço uma floresta onde podemos acampar.

Ele girou o volante para fazer uma curva complexa sobre uma rua extremamente movimentada. Uma picape branca passou de raspão, buzinando.

EntidadesOnde histórias criam vida. Descubra agora