Capítulo 37 - Transcendentes

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O corpo de Annie McCarthy foi cremado alguns dias depois do ocorrido. Fizeram uma cerimônia de despedida simples, mas bastante honrosa.

— Annie McCarthy, você irá deixar muitas saudades — disse Duke Wall, segurando a urna com as cinzas. — Tantos atos de bravura e honra testemunhados. Mas agora, a caçada da vida chegou ao fim para você.

Podia-se ver as lágrimas escorrendo pelas bochechas vermelhas e enrugadas de Duke, caindo de gota a gota na tampa da urna. Seus ralos cabelos brancos esvoaçavam ao vento.

— Sua Caçada termina aqui, minha querida Annie.

Ele abriu a urna. Seus lábios se mexeram, murmurando algo, despedidas. Suspirou. E então despejou as cinzas em direção ao abismo à nossa frente. As cinzas espalharam-se no ar. Se dissipando rumo ao precipício da montanha onde estávamos. E assim se foi Annie. Livre. Eternizada. Era incrível — naquela circunstância essa palavra era a correta a se usar? — como um corpo inteiro podia se desintegrar tão... facilmente.

Do pó viemos, ao pó retornaremos.

Àquele ponto, todos que estavam presentes não conseguiram conter as emoções. Cassie Hedlund estava com os olhos cheios d'água. Bonnie Weber estava soluçando, soando o nariz constantemente com um lenço ao meu lado, enquanto Leone Mollison a abraçava, tentando consolá-la, embora parecesse tão arrasado quanto ela. Até mesmo Faith Miller e Path Morgan — que sim, por incrível que pareça, estava vivo —, choravam. E Nathan. Meu irmão era um dos mais abatidos. Annie e ele tinham se tornado próximos na minha ausência. E agora ela tinha partido.

Priam não estava presente. Ele disse que não gostava de ir em funerais e velórios. Então decidiu ficar treinando em frente à Academia. Eu queria que ele estivesse a meu lado, me abraçando, me dando apoio, pois naquele momento eu não conseguia lidar com que havia acontecido e o que estava acontecendo. Talvez nunca conseguisse.

Annie McCarthy se fora. E eu esperava de verdade que agora ela estivesse ao lado de sua irmã, Lynn. Seja lá onde ela estiver.

•••

Estava em minha casa em Édenia. Em meu quarto, deitada na cama, com meu irmão em meu colo, com seus braços ao redor de minha cintura e a cabeça aleitada em meu ombro. O choro incessante tinha feito ele pegar no sono há pouco tempo. Sempre achei essa a pior forma de conseguir ter algum descanso. Rendido pela tristeza.

Eu acariciava seus cabelos escuros, pensando no que a Alma Perdida de nossa mãe havia dito sobre ele. Todas aquelas frases não saíam da minha cabeça desde o momento em que eu tinha voltado.

As Entidades querem o nosso pequeno Nathan.

Talvez seja culpa minha... Sim, sim, é tudo culpa minha!

Eu era fraca e idiota e não consegui fazer o que tinha que ser feito.

Nathan é uma ameaça para a raça humana.

Um príncipe... Ele vai ser coroado... Não o deixe ser coroado!

Tentei conectar tudo aquilo, mas a única coisa que eu consegui pensar era que tudo não fazia o menor sentido. Nathan era só... o Nathan! O irmão que eu tanto amava e a quem queria o bem. Nathan era a coisa que eu mais amava na vida! Não o deixaria ser coroado, seja lá o que isso significasse. Peguei sua mão e a entrelacei na minha.

Irei protegê-lo, ninguém vai levá-lo de mim. Tudo vai melhorar e nós vamos construir muita coisa juntos. Eu prometo.

De repente, fiquei emocionada com a veracidade de minhas palavras e pelo medo de perdê-lo. Uma única lágrima escorreu pela minha bochecha. Segurei com bastante firmeza sua mão e o abracei. Abominando o dia em que ele não estivesse mais sob meus braços.

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