Entidades

Capítulo 14 - Sangue na Neve

A neve desabava em cima de mim. Uma nuvem de vapor se enroscava ao redor de minha boca sempre que eu respirava. Senti o vento gélido e a neve fustigarem minha pele, se prendendo no meu cabelo e em meu casaco. Eu nunca tinha visto a neve cair tão forte e tão rápido daquele jeito. Mas por incrível que pareça, eu quase não sentia frio. Minha bota afundava no gelo enquanto andávamos atentamente pela floresta cercada de pinheiros, serpenteando por entre as árvores. Era difícil encontrar cor naquele lugar, algo que ainda não tivesse sido ocultado pelos flocos brancos que caíam sem parar das nuvens a cima.

Foi então que Path ouviu algo.

— Esperem! Escutei alguma coisa.

Paramos de andar e tentamos ouvir o que quer que fosse, mas, de repente, uma mão se desenterrou da neve e agarrou com força a perna de Path. Outra mão apareceu, e nela estava uma adaga com uma lâmina voraz. O metal deslizou sobre o pano da calça de Path até alcançar sua pele. Eu ouvi um grito de dor e depois sangue escorrer pela perna do garoto. Ele desabou com tudo no chão.

Um garoto muito pálido e de cabelo descolorido saiu de debaixo da camada de neve no chão — seu traje branco, igual ao dos outros aprendizes, certamente também o tinha ajudado em sua camuflagem — e jogou seu corpo para cima de Bonnie. Ela gritou, dando leves socos no garoto. Mas felizmente, Leone surgiu e pulou em cima do inimigo, tomando sua adaga e a enterrando em seu braço.

E por um instante, eu tentei ajudá-lo, mas senti algo prender meus pés e uma corda se desenterrar em meio à neve. E assim eu fui puxada com tudo para cima, batendo com força minha cabeça no chão. Eu fiquei de cabeça para baixo, minha visão ficou embaçada e minha cabeça latejou tanto que eu até pude sentir meu sangue pulsar ao escorrer em direção ao meu cérebro.

Minutos depois, eu caí de costas contra o chão, minha visão ainda embaçada, mas consegui perceber que a pessoa que havia cortado a corda tinha sido Priam. Ele desamarrou a corda dos meus pés e ajudou-me a levantar. Eu estava um pouco zonza ainda, por causa do baque em minha cabeça, mas tentei me recompor.

— Obrigada, Priam.

Recuperei minha espada caída no chão e antes que eu pudesse me preparar, uma garota ruiva pulou de cima de um pinheiro e acertou com força minha bochecha com seu punho. Me desequilibrei e acabei voltando para o chão. Mas para o meu alívio, logo em seguida eu vi Priam partir para cima da garota, socando sua barriga várias vezes.

Repentinamente outros membros do Time de Ouro surgiram de trás das árvores. Por um breve momento, me senti muito tola por pensar que eles não iam nos atacar, pois realmente não parecia. Ora eles pareciam inofensivos, calmos e pacíficos, outrora eles já haviam possuído olhares maldosos enquanto corriam com suas lâminas em nossa direção.

Limpei o sangue de minha boca e preparei minha espada, sentindo o ar em movimento me queimar como agulhas, embora fresco e limpo. Fumaça branca saía de meu nariz com ferocidade e em nuvens perfeitas.

Dois semianjos vinham em minha direção; eu me abaixei e esperei o momento certo para ferir suas pernas. Em um piscar de olhos, eu só vi o sangue jorrar e começar a manchar suas calças brancas.

Sem que pudesse ter tempo para me levantar, uma garota chutou a espada de minha mão — parecia ter minha idade, seu cabelo era loiro acinzentado e seus olhos pareciam ser de um azul-marinho —, apertou seu punho contra meu estômago e em seguida machucou minha cintura com um chute. Mesmo com o colete, a dor foi intensa, e minhas costas acabaram batendo novamente contra o chão.

Toquei em meu estômago, na ridícula intenção de tentar amenizar a dor. Eu acabei gemendo mais ainda. Porém, mesmo com tanta dor possuindo meu corpo, felizmente acabei conseguindo me levantar e sair cambaleando até chegar em uma árvore. Virei-me e vi a garota loira pegar minha espada do chão. Ela segurou a arma contra sua barriga e avançou em minha direção.