Capítulo 26 - Arcanjo Rafael e o Pagão

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Acordei subitamente com uma sensação nauseante de estar caindo em alta velocidade. Eu queria me segurar em alguma coisa, mas todo meu corpo parecia estar anestesiado. Apenas um dos meus olhos conseguia permanecer aberto, o que não ajudava muito com a claridade embranquecida ao meu redor.

— O olho dela está muito inchado... — sussurrou uma voz de criança. Quando as coisas começaram a ficar mais nítidas, pude perceber que era Nathan, e isso fez com que eu me acalmasse.

— Que bom que você acordou — era Bonnie, do outro lado da maca onde eu estava deitada.

— Você está horrível, mana — falou Nathan, baixinho.

— Valeu, Nathan — murmurei. — Garotas adoram ouvir isso...

Priam também estava ali, preocupado, mas não disse nada.

— Me dê um espelho...

Nathan fez uma careta e balançou a cabeça devagar, sugerindo que era uma má ideia, mas então Bonnie se aproximou e posicionou um espelho comprido em cima do meu rosto... completamente deformado.

— Você passou na primeira fase do Exame Valente, isso que importa — ela tentou me animar.

No lugar onde deveria estar meu olho esquerdo, havia apenas uma massa roxa, de onde escorria um pouco de pus. Meus lábios estavam muito inchados e ressecados, e meu nariz parecia dolorosamente quebrado. Nunca diriam que aquela era Lola Witt.

Bonnie guardou o espelho.

— Extrapolou certos limites, mas no final você se saiu muito bem... — disse Priam.

Eu sabia que tal exagero significava o que eu havia feito com Callie. Não conseguia sentir raiva dela por ter deformado meu rosto, por ter me espancado ou por ter perfurado meu ombro.

Sentia-me um monstro, pois eu havia separado sua mão de seu braço... eu o dilacerei... cortei sua mão fora. Eu tinha aleijado uma pessoa! E isso era muito pior do que estar com o rosto desfigurado. Pois um dia, meu rosto voltaria ao normal, voltaria a ser como era antes — pelo menos eu esperava que sim —, mas sua mão nunca mais voltaria ao lugar.

Qual será a sensação de acordar e perceber que você não tem mais uma das mãos? Esse pensamento me pegou desprevenida.

Toquei em meu rosto inchado. Não consegui resistir, mesmo não tento nem forças para isso, e acabei caindo aos prantos.

— Por que está chorando? — Perguntou Nathan.

Nathan... desculpe-me, mas sua irmã é um monstro.

— Deve ser de felicidade — supôs Bonnie, com um sorriso.

Ela tinha uma ótima aparência. Seu rosto não estava inchado ou coisa parecida. Havia apenas uma bandagem enrolada em sua cabeça e em seu pulso.

— Não... — solucei.

— Ela está se sentindo culpada com o que fez com a garota — Priam era uma das poucas pessoas que me entendia do início ao fim, mesmo com tão pouco tempo de convívio.

É, eu estava. E não apenas me sentindo, eu de fato era a culpada.

Enxuguei as lágrimas do meu rosto.

— Aquilo foi muito assustador... eu... eu... não sei por que fiz aquilo... — balbuciei. — Foi puro impulso... eu não tive a intenção, juro — choraminguei. — Foi como se minha espada houvesse agido por conta própria, mas sei que isso foi apenas a impressão que tive. Eu fiz aquilo com ela por vontade própria! Sinto-me tão... tão suja e... desumana. Não consigo acreditar no que fui capaz de fazer...

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