Capítulo 8 - Arrebatada

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Estávamos no estacionamento do Hospital Geral South Down — o lugar no qual eu havia passado dias internada. Analisei vagamente a estrutura branca do prédio e logo reconheci a janela do quarto em que eu estava minutos antes, que ficava localizada no sexto andar. Como aquele garoto havia conseguido subir até lá? Parecia impossível, uma grande loucura. Olhei de relance para ele, sentado no banco ao lado do meu, com os olhos cinza fixos nos arredores do estacionamento, parecendo à procura de algum suspeito. Eu ainda não confiava nem um pouco nele. Não mesmo.

Olhei pela vidraça da caminhonete e vi duas viaturas de polícia estacionadas ao lado; uma estava vazia, mas a outra não. Nos bancos da frente estavam dois policiais e no banco de trás havia duas garotas sentadas, de costas pareciam um tanto familiares. E foi aí que me assustei ao perceber que uma delas estava olhando para mim.

Lucy.

E a garota ao seu lado era Jessie.

Voltei rapidamente meus olhos para Priam.

— Ok. Depois me explique tudo — eu disse — Agora vamos dar o fora daqui, rápido!

Olhei novamente para a viatura policial e vi Lucy sair às pressas do carro, berrando e apontando o dedo indicador em minha direção.

— Ela está ali. Ela está fugindo! — vociferou ela. — Peguem-na! Peguem-na!

Os dois policiais saíram rapidamente do carro e em seguida, Jessie. Ambos com os olhos arregalados em minha direção. Instantaneamente os policiais sacaram suas armas, e eu era o alvo.

Então foi que os pneus da caminhonete cantaram no asfalto, atravessando ligeiramente o interior da cidade. Passamos pela rua Heroux, depois pela St. Nissan. Não havia perseguição, ainda. Mas Priam dirigia como se houvesse uma.

— Poderia ir mais devagar, por favor? — Indaguei. — Não estão nos perseguindo.

Antes que ele pudesse responder minha pergunta, o som de duas sirenes adentrou o interior do carro, atormentando meus ouvidos.

Priam olhou para mim, sorrindo e levantando uma sobrancelha. Querendo dizer "o que disse mesmo?". Ele girou o volante com rapidez, mergulhando a caminhonete em direção a uma curva perigosa — fiquei sem fôlego por um breve momento —, e assim entrando na rua que levava ao centro da cidade.

Olhei para trás e percebi que duas viaturas haviam conseguido nos alcançar. O desespero ficou entalado em minha garganta, e eu me esforcei para tentar engoli-lo.

— Que droga! — Resmungou Priam, batendo ferozmente o punho no volante.

Passamos pela parte comercial do centro da cidade. A maioria das lojas em Riverdown era estabelecida em prédios. Prédios amplos e gigantescos. E Priam resolveu entrar com a caminhonete em um beco escuro entre duas lojas.

Olhei de relance pelo retrovisor e vi as viaturas policiais passarem direto pela rua.

— Vamos, rápido! — Exclamou o garoto. — Desça.

— Como vou descer assim? Estou com a perna quebrada, se é que se lembra — falei.

Priam revirou os olhos, resmungando:

Argh. Tinha me esquecido desse detalhe.

Rapidamente ele pegou uma de suas infinitas facas e a enterrou com força no gesso branco em minha perna.

— Ai! — Gritei, espantada.

Ele arrastou a faca até chegar perto do meu pé. Então ele abriu o gesso, retirando-o de mim e jogando-o dentro de uma lixeira próxima. Observei por um segundo minha perna empalidecida e arroxeada, com um cheiro desagradável de mofo.

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