Capítulo 36 - Retornando

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Adentramos uma lata grande de lixo que ficava em um beco ao lado do prédio mal-assombrado. Uma forte luz azul ofuscara meus olhos. Não me surpreendiam mais os locais inusitados onde se podiam encontrar os Portais. Eu fui a primeira a pular. Aquela sensação de tontura invadiu meu corpo novamente. Senti as borboletas em meu estômago outra vez. Uma onda de impacto atravessou meu corpo, como um banho de água fria, mas eu me sentia maravilhada. Abri meus olhos e então me encontrei de pé, de costas para velha árvore em que o Portal de Azrael estava aberto. Senti o ar puro de Édenia invadir meus pulmões novamente.

De volta ao lar.

Tão logo, Priam e os outros apareceram atrás de mim. Começamos a caminhar em direção ao palácio da Academia Semianjos.

•••

— Muito bom... ótimo trabalho — Duke Wall nos parabenizou após ler o relatório final da Caçada, que confirmava que tínhamos exterminado tais Entidades: um Chamaviva; um Hyptize; um Demônio Detonador; uma Súcubo; um Fientlas; e alguns Possuídos. Todos mandados de volta para o Inferno e banidos da Terra.

— Como imaginei — disse ele. — Você se saiu muito bem, não é mesmo, Lola? — Ele estendeu um sorriso estranho.

— Er... creio que sim — balbuciei.

— Sim. Você cuidou direitinho das Entidades que mandei você destruir. — Sim, exceto o Demônio Tóxico que Priam matou no meu lugar... — Mas... aqui consta que devido a certas circunstâncias Priam acabou tendo que matar uma das Entidades para você. — Ah, fala sério! — E que você também não conseguiu "chegar a tempo" de ceifar uma das Almas Perdidas. Já Faith e Christopher conseguiram dar conta muito bem da outra... no bom sentido é claro.

— Ah... me desculpe, Duke — comecei a falar, mas logo eu não soube como continuar. Não conseguia achar as palavras certas para explicar o ocorrido. A Caçada tinha sido uma experiência tão intensa em vários aspectos. — Bem... eu não sou uma Ceifadora ainda. Então... — foi uma meia, mas verdadeira, desculpa que consegui encontrar.

O que ele esperava? Que eu desse conta de tudo sem nenhuma ajuda?

— Claro, claro — disse ele, se levantando da poltrona aconchegante. Tocou meu ombro ferido, cerrei os dentes ao sentir a dor.

— É claro que, se fosse necessário, meu neto ou qualquer outro, te daria uma mãozinha — murmurou. — Não vou deixar de te dar aqueles pontos extras que lhe prometi. — Ele me deu uma piscadela suspeita.

Dei meio sorriso.

Duke Wall voltou para sua mesa e para o seu infinito chá.

— Estão dispensados.

Senti a mão de Priam tocar a minha. Quase me esqueci de que ele e os outros também estavam ali na sala, silenciosos. Eu suspirei, tentando ficar um pouco orgulhosa de mim mesma, mas não deu muito certo. E por um momento, fiquei ciente apenas da dor em meu ombro e no resto do meu corpo, além da mão de Priam entrelaçada na minha.

Saímos da sala de Duke em silêncio.

•••

Estava na sala de Nora Tanner, a vendo costurar novamente a ferida no meu ombro com uma agulha curvada e uma linha preta e grossa.

— Ai! — Eu gemi.

— Oh, desculpe, criança — disse ela. — Mas o estado de seu ombro é crítico. Não só o ombro, mas seu corpo todo está bastante machucado e ferido. Uma de suas costelas, por um fio, não foi fraturada. E você tem um corte um tanto profundo nas costas.

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