Capítulo 2

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Ouve-se um barulho incessantemente irritante, algo que não podia ser controlado por Sara e que se encontrava logo acima de sua cabeça. A garganta ardia e parecia extremamente seca, enquanto os olhos se mantinham fechados contra a sua vontade. Era a terceira vez que ela tentava abri-los e falhava.

Tentou mover o corpo com cuidado sentindo algo macio abaixo de si. Os dedos dos pés se mexeram em liberdade, assim como as mãos, e então os olhos se abriram recebendo um clarão cegante de algum lugar do cômodo até então silencioso. Sara corre o olhar embaçado por uma gigantesca sala de pé direito alto, onde havia vários móveis de madeira e algumas mesas cheias de pergaminhos de cor de café.

A menina levanta o corpo com dificuldade, notando que estava apoiada em um sofá. Se esforça para reconhecer a localidade, mas tudo indicava que nunca estivera ali. E então, algumas memórias começaram a voltar aos poucos, e ela sentiu algo desconfortável ao recobrar como havia quase morrido.

O coração bateu acelerado e Sara olhou para cima, enxergando o objeto dono dos barulhos irritantes: um relógio de ponteiro antigo e brilhante. O contínuo TIC TAC estava a fazendo delirar. O tempo passava e ela simplesmente não podia entender o que estava acontecendo.

Um ruído vindo de uma porta mais longe surge, diminuindo os toques do relógio em sua cabeça e aguçando sua curiosidade. Com as pernas bambas e quase descontrolada, Sara se levanta do sofá e caminha a passos tortos em direção ao que parecia ser duas pessoas conversando. Escorou-se em uma grande porta branca, que tinha as cores embaralhadas com as paredes de cor creme, e pôde reconhecer a voz de sua mãe.

-Não vou deixar minha filha aqui. Você só pode estar ficando maluca!

-Tenho certeza que para você, sempre fui doida. Era de se esperar que dissesse isso. - E então Sara escutou uma voz rouca, cansada e serena.

-Olhe, Althaia, acho que já brigamos o suficiente por um dia. Eu só quero levar Sara para casa.

-Depois de tudo isso ainda quer voltar para aquele lugar? Cláudia sempre lhe avisou sobre o que poderia acontecer após o dia em que ela morresse, Cecília. Se voltar para lá, estará assinando a sentença de morte de sua própria filha.

Houve um silêncio tenebroso do outro lado, e Sara debruçou-se ainda mais sobre a porta, tentando escutar qualquer resquício de som.

-O que está me pedindo é demais. - Resmungou Cecília com tristeza e apreensão - Não posso abandonar minha filha aqui.

-Não estará a abandonando. Ela terá exatamente o que prometi ao seu marido quando ela nasceu: proteção e ensino. - Sara escuta o ressoar de saltos no piso - Ela estará bem cuidada aqui, e eu estarei cumprindo minha promessa ao Esmond de ensiná-la sobre um passado que a senhora à privou.

-Não vamos começar a apontar dedos, por favor. - Resmungou Cecília novamente - A senhora deve entender que desde o início nunca quis que Sara conhecesse o lado da família de Esmond. Quantas vezes não peguei Cláudia ensinando a menina a como citar feitiços... Eu não a quero aqui. Não a quero deste lado do mundo. Ela não precisa disso.

-E é aí que você se engana, senhora Nilsa. Sara precisa deste mundo mais do que jamais pôde imaginar. Mesmo que a senhora a impeça agora, ela sempre encontrará um jeito de voltar. Faz parte do sangue dela, do sangue de seu marido, e aqui ela pode aprender como realmente deve se defender.

-Não posso acreditar que depois de todos esses anos posso ser indiciada por negligência estudantil... - Suspirou alto. - em um mundo que nem faço parte. Francamente.

-Nossas crianças vão cuidar bem dela, assim como os professores. Ela vai se sentir confortável aqui. Além disso, este é o lugar que ela vai estar devidamente protegida. Nenhum Veliático sabe da nossa localização.- Houve outra pausa silenciosa e Sara se afastou da porta.

Mudanças Noturnas: A Filha da OrnaOnde histórias criam vida. Descubra agora