Capítulo 10

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Sara forçou os olhos a abrirem e quase ficou cega com o clarão que os invadiram. A boca estava seca, a língua pegajosa e o corpo inteiro dormente, principalmente na região da lombar.

Quando a visão se acostumou com o ambiente iluminado, ela pôde perceber que estava deitada na cama macia e acolchoada da enfermaria. Não conseguia enxergar direito nada além do que as cortinas azuladas cobriam, apenas as sombras do que pareciam ser pessoas andando apressadas de um lado para o outro. Sem se levantar, ela olha o teto, escutando de longe uma conversa que ela julgou ser entre a diretora Althaia e algum outro professor.

-Você acha que foi um alarme falso? Alguma brincadeira de mal gosto? - alguém perguntou.

-Não. Nada disso. O que aconteceu aqui foi real. - Althaia parecia aborrecida, cansada - Pobre crianças. Levaram a pior. Espero que fiquem bem logo.

-Eu também. - A mulher que respondia arfou - E eles já sabem o que é que foi que nós atacou?

-Ainda não. Seja o que for que tenha nos assustado, certamente veio daquela maldita floresta. É a única explicação. - Aquele comentário afetou Sara de alguma maneira, um incômodo inexplicável.

-Pelo menos não está mais aqui.

-O problema é que ainda dividimos a ilha com eles. Se essa criatura ousou ultrapassar os limites, pode fazer outra vez. - Sara sentiu uma pequena pontada de raiva invadir o peito.

Ela para de prestar atenção quando o aparelho da cama ao lado da sua começa a apitar alto e incessantemente. Os enfermeiros passam correndo pelas cortinas e parecem socorrer quem quer que fosse que estivesse do seu lado. Sara não estava entendendo nada, porque simplesmente não lembrava o que havia acontecido.

Com uma das mãos ela puxa parte da cortina para o lado, enxergando Ava, dormindo num sono profundo. Pela primeira vez, a colega parecia mais corada que o normal, como se estivesse envergonhada, ou com muito calor.

-Senhora diretora. - A enfermeira chama ao ver Sara acordada - Uma das crianças acordou.

O rosto caído de Althaia não demora muito a aparecer no meio dos tecidos azuis e ela parecia aliviada de repente.

-Oh! Que maravilha! - Ela sorri, gentil - Como está se sentindo?

-Não sei dizer. - Respondeu Sara, fazendo uma careta - Acho que estou com fome.

-Certamente. Eu vou trazer algo para você comer. Um minuto. - Diz a enfermeira deixando seu lado.

-Você se lembra do que aconteceu, Sara? - Althaia se aproxima ainda mais.

-Não exatamente, apenas alguns flashes. Me lembro do jantar e de uma briga, muita gritaria e de mais nada. - resumiu a menina, agora levantando o corpo para ficar sentada. - O que houve? Por que Ava está aqui também?

Althaia lança um olhar de piedade para Sara, e isso a incomoda. Por que estava com pena? O que havia acontecido?

-Sofremos uma tentativa de ataque. - Avisou Althaia. - Achamos que houve uma troca de energias entre você e mais três alunos, por conta de uma criatura desconhecida da floresta.

-Troca de energia? - Sara perguntou confusa.

-Não se preocupe. Tudo já foi resolvido. A criatura fugiu e ninguém ficou ferido, apesar de vocês terem apagado por três dias. - Althaia parecia querer escapar do assunto.

-Três dias?! - Sara estava chocada. - Como eu posso ter apagado por três dias? O que aconteceu?

-É como eu disse. Troca de energias. - Ela dá um sorriso sem graça.

Mudanças Noturnas: A Filha da OrnaOnde histórias criam vida. Descubra agora