Capítulo 23

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    No sábado de manhã, um dia depois do baile e toda a confusão, Sara Nilsa acorda em seu quarto dentro do dormitório, sentindo-se com a consciência pesada e uma dor angustiante no peito. Ela lembrava-se que apesar de nem tudo ter dado tão errado no final das costas, ainda sim não havia notícias de seu real objetivo: salvar a floresta.

    Mavka e Félix andavam de um lado para o outro por entre as árvores, também sem saber de nada. Ainda sim, contavam as horas até segunda-feira, dia nove de janeiro, e esperavam que o destino salvasse suas vidas caso tudo desse errado naquele dia de manhã ensolarado.

    A menina se levantou desanimada, preguiçosa, por conta do castigo que teria pela frente, mas pensava que quanto mais cedo o fizesse, mais tempo teria para fazer outras coisas, incluindo descobrir sobre a decisão do ministro ambiental. Arrumou o cabelo num rabo de cavalo desgrenhado, uma vez que os cachos do cabelo pareciam mais rebeldes que nunca, e então calçou suas galochas verdes claro e roupas as quais certamente ficariam sujas em breve.

    Pela janela do quarto, viu Kai e Aaron saindo pela porta da casa ao lado, com a expressão cansada e rabugenta. Parecia ventar do lado de fora, uma vez que Aaron estava quase aninhado ao corpo de Kai, com os cabelos esvoaçando para todos os lados. Sara desceu as escadas com a barriga roncando, apesar de ter a boca amarga e nem um pingo de vontade de comer.

    -Bom dia. - Ela disse aos meninos numa voz rouca, finalmente sentindo o vento atravessar sua alma.

    -Bom dia. - Eles responderam juntos, deprimidos.

    -Vão tomar café? - Perguntou Sara semicerrando os olhos por conta do vento.

    -Sim. - Respondeu Aaron, ficando atrás de Kai e escondendo o rosto nas costas do menino - Eu odeio dias assim. Parece que o vento vai nos levar embora a qualquer segundo.

    -Pense que na estufa pelo menos vamos estar protegidos. - Tentou Sara, mas recebendo um olhar irritado dos dois garotos no momento seguinte.

    -Sabe o que mais me irrita nessa situação toda? - Diz Kai, cruzando os braços para proteger o peito do frio. - É que depois disso tudo, depois de toda essa merda de confusão, talvez ainda tenhamos a floresta destruída e o pai do Fintan conseguindo expandir a escola e ganhar rios de dinheiro.

    -O que te incomoda é a destruição da floresta ou o pai de Fintan ganhando dinheiro? - Questionou Sara, percebendo que Kai parecia abalado.

    -Os dois. - Resmungou o menino. - Podemos encerrar esse assunto? Eu estou com fome.

    -Eu não vou tomar café. - Diz Sara de repente - Não estou bem do estômago. Vou logo para a estufa e encontro vocês daqui a pouco, espero eu.

    Os dois assentiram, estranhando a atitude da menina, e então saindo de suas vistas adentrando o castelo mais a frente.

    Na primeira parte da detenção, na estufa, seriam acompanhados por um dos professores, e para a infelicidade dos três alunos, seria o professor Ezra Maylea. No habitual o homem já era mal encarado, grosseiro, e meio ignorante, e num sábado de manhã, tendo que atender às instruções da diretora apenas para supervisionar baderneiros, significava o triplo de seu mau humor cotidiano.   

    Sara chegou antes do homem, pegando a estufa vazia e calma. Era diferente ficar ali dentro sozinha, recebendo o ar abafado do lugar, com apenas a quentura do sol atravessando o telhado de vidro acima de sua cabeça. Era silencioso demais, e pacífico, ela poderia ficar ali por horas e até mesmo tirar uma soneca no meio das plantas. Por um segundo sentiu falta das plantas do pai as quais ela sempre cuidava - sentia falta de sua antiga vida. Tinha a sensação de que nada mais fazia parte de uma rotina, e que todos os dias eram uma mistura de desespero e angústia. Não havia certezas, e isso a deixava em pânico.

Mudanças Noturnas: A Filha da OrnaOnde histórias criam vida. Descubra agora