-Eu já disse que estou bem! - Esbraveja Sara empurrando a mão da enfermeira para o lado.
Tudo parecia ter voltado ao normal com os quatro adolescentes após a segunda convulsão, apesar de todos eles ainda estarem acamados e presos na enfermaria com Althaia e alguns médicos de fora lhes analisando. A tempestade não havia diminuído tanto quanto eles gostariam, mas pelo menos era um novo dia e agora os bruxos da manutenção estavam checando a redoma do colégio.
O clima havia sido amenizado pelos silfos na noite anterior, como sugeriu um dos professores, mas ainda sim continuava péssimo. Os alunos tiveram que passar a noite no saguão e nos outros corredores, em cima de colchões improvisados e leite quente com caramelo salgado. Se Fintan estivesse junto de alguns colegas tinha certeza absoluta que estaria escutando reclamações sobre como o colégio havia decaído seu nível e como a mensalidade era muito cara para eles recebessem um tratamento como aquele.
Mas Fintan, naquele momento, trancado na enfermaria junto de Sara, Ava e Kai, não se sentia nada bem. A segunda convulsão havia realmente mexido com seus nervos e agora ele também se lembrava do que havia dito a Sara na noite anterior. O menino não parecia estar arrependido, e tampouco confortável com a situação. O que de fato lhe incomodava era que não parecia se lembrar de tudo. Era como se no meio de suas memórias embaçadas sobre a briga entre os quatro, simplesmente houvesse um clarão e então ele estava dentro do colégio, caído no chão e sentindo muita dor. Por que ele simplesmente não conseguia se lembrar?
Assim como Fintan, os outros três compartilhavam a mesma sensação. E era exatamente por esse motivo que Sara estava tão irritada. Queria socar Fintan mais uma vez, mas a enfermeira estava a impedindo de todos os jeitos de se levantar da maca. Era a mesma mulher a qual apoiou a destruição da floresta quando os primeiros acidentes ocorreram, a mesma que havia convencido Althaia de que as criaturas eram as culpadas.
-Você precisa cheirar isso aqui, senhorita Nilsa. - Tentou a enfermeira mais uma vez.
-Eu não vou cheirar esse bagulho azul. Eu já disse que estou bem, então pare de insistir. - A menina bufa, cruzando os braços.
A cortina do lado de sua cama é puxada para o lado, apresentando as feições desgostosas de Ava.
-Você quer parar de gritar feito uma criança? Eu não aguento mais escutar a sua voz, Sara.
-Então tape os ouvidos! - Sara volta a falar alto, dessa vez propositalmente.
A porta da enfermaria se abre com lentidão e a voz de Althaia conversando com outra pessoa invade o lugar. Ela vem trazendo consigo mais um médico que acabara de chegar e Sara se joga na cama, revirando os olhos, sabendo que não sairia dali tão cedo.
Nenhum deles queria confessar para os médicos bruxos, mas estavam se sentindo extremamente estranhos dentro do próprio corpo, quase como se tivessem algo flutuando dentro de si. Essa era também a razão pela qual estavam tendo alguns problemas de estômago, uma queimação bem perto do esôfago. Estavam tentando disfarçar, mas Althaia, apesar de não ter notado assim como as enfermeiras, não queria arriscar liberá-los dali e ter novos problemas.
Se fossem outros alunos, talvez Althaia não estivesse tão preocupada, mas como eram alunos reincidentes, devido aos acidentes anteriores, sentia que estava deixando passar algo e não queria ter que chamar os pais até o colégio, novamente. Os quatro adolescentes fizeram vários exames, levando beliscões, ingerindo líquidos, sendo apalpados, de tudo um pouco. Sara estava de saco cheio, e com muita fome. Uma fome que ela sentia que a estava comendo por dentro.
-Senhora diretora, estou tendo problemas com a senhorita Nilsa, novamente. - Cochicha a enfermeira ao se aproximar educadamente da diretora.
-Senhorita Sara... - Disse Althaia já um pouco esgotada da situação, sem muita paciência - Você entende a gravidade dessa situação? Tivemos quatro alunos, incluindo você, tendo convulsões ao redor do colégio. Os mesmos quatro alunos que já tiveram esse tipo de problema antes. Dessa forma...
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Mudanças Noturnas: A Filha da Orna
FantasyQuatro adolescentes quebrados, uma profecia de futuro incerto e mudanças noturnas desagradáveis dentro de um colégio de elite de magia. Tudo pode dar errado, mas eles não estão sozinhos. "A única forma de matar algo que não existe, é se esquecend...