Theresa soltou o copo de água que segurava e o deixou quebrar ao bater no chão. O corpo da mulher se curva para frente, enquanto ela apoiava as mãos em cima do balcão da cozinha. Uma visão toma conta de seus olhos e ela tateia o móvel, a procura do bloco de folhas e um lápis. Ao achá-los inicia um esboço de traços rápidos e desleixados.
Dentro do banheiro, enquanto secava os cabelos, Amina sente os pelos do corpo se eriçarem assustadoramente. Aquela sensação corriqueira de uma possível visão também lhe invadia o corpo de maneira desconfortável. Era como uma linha energética que atingia suas córneas e a faziam ficar cega momentaneamente. Assim como Theresa, Amina começou a se curvar até tocar a pia do banheiro, tendo as primeiras imagens passando por seus olhos.
Tiveram visões estranhas, iguais, mas de perspectivas diferentes. Amina escutou gritos e mais gritos atrás de si num jardim que parecia conhecido, mas não o suficiente para ser localizado. As pessoas ao redor, paradas em choque, pareciam aflitas. O que estavam olhando? Ela não sabia, não conseguia ver. Sentia-se petrificada no chão, enxergando parte das pernas de duas ou quatro pessoas. Alguém grita alto, um grito ensurdecedor, dolorido, triste, e o corpo da mulher se estremece. Alguém estava morrendo. Um corpo se ajoelha no chão, devastado, chorando. Amina se assusta ao perceber o rosto de Bianca, sua irmã.
Theresa observava do alto de uma janela, vendo o jardim do colégio de Lilura bem debaixo de seu nariz, enquanto era acompanhada de algumas pessoas as quais ela não soube identificar. Alguém segurava sua mão com força, como se precisasse de apoio moral. Ela soube identificar ser a mão de uma mulher, de unhas compridas, pele gelada e com muita energia. Ao ver o corpo de Sara desfalecer no chão do lado de fora, alguém gritou em seu ouvido, a deixando surda durante alguns segundos. O grito ecoou ferozmente dentro de sua cabeça, tão dolorido, triste, ensurdecedor. Sara estava morta e a situação não parecia boa.
-Feliz aniversário, Sara. - Murmurou Anthony quando Sara adentrou a porta principal, tão pálida quanto um palmito. - Acho que ainda está valendo, não? - Ele diz enquanto entrega uma pequena caixinha vermelha para a menina.
-O que é isso? - Perguntou ela tocando a caixinha aveludada.
-Eu quis te fazer uma coisa. É apenas um presente. - Ele parecia envergonhado, desviando o olhar para os lados, sem perceber como o aspecto de Sara estava degradado.
Anthony no máximo focava nas mãos alongadas de Sara, enquanto a menina se divertia com a caixinha, sem entender o que era aquilo, perdida e aérea.
-Não vai abrir? - Ele perguntou ansioso.
-Vou. - Ela sussurra, quase sem força.
-Você está bem? - Anthony finalmente pergunta, ao ver o rosto da menina. - Está meio... pálida.
-Eu não sei. Estou?- Sara parecia confusa, avoada. Não fazia a menor ideia do que estava fazendo.
-Quer se sentar um pouco?
-O que você achar melhor. - Diz ela, sentindo o corpo flutuando.
Ela tinha a vaga sensação de estar esquecendo alguma coisa, mas não sabia exatamente o que era. O corpo formigava levemente, e as pernas estavam um pouco bambas. Os lábios eram os que mais preocupavam Tony, uma vez que estavam quase brancos e secos.
-Tome. - Ele entregou uma garrafa de água que estava com ele. - Beba um pouco.
-O que é isso? - A pergunta parecia tão estúpida que Anthony franziu o cenho.
-Água. - Respondeu seco, sem entender se Sara estava lhe pregando uma peça.
Ele começava a se sentir estranho ao redor da menina, de novo. Apesar de saber que seu intuito não era gostar dela, mas sim fazer parecer isso, alguma coisa sempre dava errado e ele se pegava pensando em suas feições na maior parte do dia. De vez em quando, precisava até evitá-la para que não sonhasse pela quinta vez sobre o que aconteceria se virassem amigos ou namorados de verdade. Entretanto, parados ali, sentados no sofá do saguão, ele soube que algo parecia mais errado que o normal, e não era de sua parte.
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Mudanças Noturnas: A Filha da Orna
FantasyQuatro adolescentes quebrados, uma profecia de futuro incerto e mudanças noturnas desagradáveis dentro de um colégio de elite de magia. Tudo pode dar errado, mas eles não estão sozinhos. "A única forma de matar algo que não existe, é se esquecend...