Sara batia os pés no assoalho, caminhando de um lado para o outro enquanto tinha os braços atrelados ao estômago. Apesar de ter recebido um tratamento especial para enjoo ainda no refeitório, o corpo insistia em dizer que algo em seu interior estava se revirando. Em outra sala, a menina escutava a voz da mãe conversando nervosamente com Nora Althaia - supostamente diretora de um colégio de magia.
Depois de breves explicações à Sara sobre como seu pai fora um importante mago e ex-aluno no lugar, Cecília e Nora Althaia partiram do refeitório para de volta ao escritório da senhora, adentrando pela mesma porta a qual Sara esgueirou-se pela primeira vez. Ela podia escutar poucas coisas e a maior parte delas não fazia sentido - pelo menos não para ela.
Foi difícil engolir a história no começo. Sara teve uma grande crise de risada (o que pode ter causado o incômodo no estômago), mas depois de perceber que nenhuma das mulheres à sua volta estava rindo, ela começou a hiperventilar. Com alguns exemplos práticos, Sara viu de perto, e pela segunda vez, o que uma varinha poderia fazer, além de escutar uma específica explicação sobre como vovó Cláudia tentou enviar Sara para o colégio mais cedo sem que Cecília soubesse. Naquele momento, encarando o chão do escritório, a menina não tinha ideia do que pensar, ou fazer.
Nora Althaia abriu a segunda porta do escritório sendo seguida por um pergaminho amarronzado flutuante.
-Anote isso também. - Disse ela à caneta em cima do pergaminho.
Sara tinha os olhos arregalados. A barriga deu uma pequena uivada, indicando que algo realmente parecia errado.
-Não faça essa cara. Você irá se acostumar logo. - Disse a senhora indo até sua extensa mesa repleta de documentos e livros. - Agora, sentem-se. Precisamos discutir a segunda parte de nossa jornada.
Cecília abraçou Sara pelos ombros e guiou-a até à cadeira de madeira à frente da mesa de Althaia. Sara estava voltando a entrar em pânico.
-Por agora, devemos discutir sobre sua estadia no colégio. - Comentou Althaia - Sua mãe está tendo problemas com a justiça da magia, no Palácio da Alvorada, e se você não ficar pelo menos dois semestres estudando aqui, ela tem chance de ser julgada e ir presa por negligência estudantil. - Ela não poupou Sara de nenhuma palavra.
-Eu acho que vou vomitar. - Murmurou a menina fazendo uma expressão estranha.
-Você poderia ficar em qualquer outra escola, mas como já conversei com sua mãe, o nosso colégio lhe aceita de braços abertos justamente por conta do histórico do seu pai, que inclusive era um amigo meu. - Ela puxou seus óculos de grau para os olhos e começou a checar o pergaminho flutuante - Anotamos algumas coisas que podem causar despesas por conta dos materiais que não oferecemos gratuitamente, mas fora isso estaremos lhe oferecendo uma bolsa por mérito.
-Mérito? - Chiou Sara parecendo recobrar o senso de pensamento - Mérito de que?
-Não seu, obviamente. Do seu pai. - Acrescentou a mulher. - Pelos serviços antes prestados por ele, e por conta de sua importância para a comunidade mágica, nada mais justo do que oferecer à filha dele uma bolsa em um dos melhores colégio de magia do mundo, não acha?
-Não sei o que eu deveria achar. - Resmungou a menina encarando a mãe de canto. -Mas certamente isso não importa muito, certo? Já está tudo decidido como posso perceber.
-Certamente. Cecília só precisa lhe enviar o material antes da semana que vem, e então poderá dar início às aulas junto com os outros alunos no primeiro ano.
Sara encarou a mãe profundamente, como se estivesse pedindo socorro, mas Cecília manteve a cabeça baixa.
-E não se preocupe com a matéria básica de antes disso. Você deve recorrer ao método ortodóxo do feitiço pensante. Algum professor deve lhe auxiliar. Sua cabeça deve desinchar em pelo menos quatro dias, ou menos. Pode ter algumas dores de cabeça e tontura, mas nada que não irá se recuperar.
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Mudanças Noturnas: A Filha da Orna
FantasyQuatro adolescentes quebrados, uma profecia de futuro incerto e mudanças noturnas desagradáveis dentro de um colégio de elite de magia. Tudo pode dar errado, mas eles não estão sozinhos. "A única forma de matar algo que não existe, é se esquecend...