Capítulo 7

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Ainda no sábado à noite, Cecília se despediu definitivamente da filha, prometendo que, se possível, levaria algumas das plantas do pai até ela para que pudesse decorar o quarto à sua maneira. Internamente, Sara preferiu não criar muitas expectativas, sabendo que não era seguro que a mãe voltasse até a antiga casa apenas para buscar vasos de plantas. Contentou-se então com a breve e melancólica despedida e passou o domingo inteiro trancada dentro do quarto, lendo alguns livros de conteúdo básico que pegara emprestado na biblioteca.

Os livros, apesar de básicos, eram grossos e antigos e Sara simplesmente não conseguia entendê-los. Eram palavras rebuscadas, escritas por autores de nomes tão complicados quanto e os quais ela nunca ouvira falar. A menina já não gostava de estudar, e dessa forma então, tudo parecia tedioso demais, complicado demais. A única coisa que parecia lhe dar certo ânimo era o fato de que, se estudasse o suficiente, não precisaria se submeter ao feitiço pensante e consequentemente não teria de ter a cabeça parecida com um balão. Isso evitaria futuras zoações dos colegas de classe.

E o ânimo, disfarçado de desespero e medo, acabou trazendo certa ansiedade para a adolescente, de forma que ela fosse pegar no sono apenas de madrugada, após tentar decifrar cerca de oito livros. No mesmo dia, quando o sol finalmente começou a aparecer na ilha enquanto os alunos começavam a se levantar, Sara continuou na cama, apagada num profundo sono. Acordou duas horas depois, quando um galho bateu com força na janela, causando um estrondo.

-Nossa... - Balbuciou a menina se espreguiçando e estralando alguns ossos das costas - Devo ter pego no sono lendo essas aberrações. Que horas são?

E ao ler o relógio de parede dentro do quarto jogou as cobertas para cima e as pernas para fora da cama. Derrapou no corredor, enquanto vestia seu pijama antigo e meio desfiado, em direção ao banheiro. Não havia tempo para arrumar o cabelo, ou ajeitar o rosto com maquiagem, o que lhe restava era apenas passar a mão nos fios rebeldes e molhar as olheiras e os olhos inchados com água. Escovou os dentes quase engasgando e voltou ao quarto vestindo o uniforme que a diretora distribuiu.

A camisa social de manga longa estava totalmente amassada e Sara tentou cobri-la com o blazer e a saia plissada. A gravata poliéster listrada com as cores do clube tampouco foi ajustada de maneira certa, e Sara simplesmente voou de meias pretas para o lado de fora. Havia grama no solado do tecido, e que foi ignorado e prensado contra seu coturno preto. Ela correu para cima, em direção às portas do colégio e subiu as escadas à procura da segunda torre para a segunda aula de botânica do dia.

-Está extremamente atrasada, Srta. Nilsa. - Resmungou o professor Ezra Maylea jogando um feitiço com os dedos para que Sara ficasse parada na frente da porta - E pelo estado de seu uniforme e cabelo, vejo que dormiu demais.

Sara queria responder às acusações mas o corpo parecia não responder a seu comando.

-Como chegou tarde para os avisos sobre a minha aula, saiba que atrasos não são toleráveis. A não ser que esteja morrendo em seu dormitório. - Ele diz num tom corriqueiramente grosseiro - Vejo você no final de semana, na detenção.

E então o corpo de Sara relaxou.

-Vá se sentar. - O homem disse apontando para algumas cadeiras no fundo que estavam vazias.

Apesar de querer sentir vergonha pela situação, seus nervos estavam tomados por irritação e mau humor. Estava irritada pela forma que as pessoas a estavam olhando e a forma como o professor havia se dirigido à ela - mesmo que estivesse errada. Por que pessoas ricas tinham de ser tão arrogantes? Quem esse professor achava que era para lançar um feitiço repentino dessa forma?

O professor Maylea era um dos professores mais temidos dentro do Colégio de Magia de Lilura. Os cabelos loiros escuros até a metade do pescoço, o nariz avantajado, a barba rala e o olhar ameaçador fazia com que os alunos nunca o encarassem diretamente nos olhos. Além de que era um homem extremamente alto e esguio, o que fazia com que as pessoas sempre ficassem pelo menos a três passos de distância dele.

Mudanças Noturnas: A Filha da OrnaOnde histórias criam vida. Descubra agora