Capítulo 23

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Não revisado.

–Você chegou. – Ezra não me olhou, ele apenas parou no pé da cama e começou a tirar a roupa, jogando as peças uma em cima da outra sobre a cama. Me perguntei se ele ainda estava com raiva por conta de nossa conversa na tarde do dia anterior, mas ao pensar nisso, eu não vi nada demais sobre aquela conversa, e fiquei confusa por ele ter ficado com raiva.

Eu estava de boa. Já havia me acostumado a ser tratada da pior forma pelas imortais, então eu já tinha esquecido dos comentários e olhares das gêmeas. Pensei que ele não fosse falar comigo, e tive que conter a vontade de perguntar por onde ele havia andando, e ao perceber que ele ainda usava as mesmas roupas do dia anterior e que agora elas pareciam amarrotadas, minha mente me levou a pensar que talvez eu estivesse certa ao imaginá–lo com outra pessoa.

–Sim – ele disse em um suspiro. Quando Ezra começou a desabotoar os botões da sua camisa interna, ele se virou e me olhou. –Você já comeu? – eu passei meus olhos pelo seu rosto. Os sinais evidentes de uma noite em claro estavam bem ali na minha frente. Os olhos que eu achava lindos por serem intensos e de um forte azul, estavam tão declaradamente cheios de momentos obscuros e arrependimentos, que eu tive certeza de que ele havia mesmo feito aquilo.

Eu já estava imaginando que ele o faria, mas suas palavras na tarde anterior haviam acalentado o meu coração que acabou se enchendo com uma esperança tola, coberta com dúvidas que haviam acabado de serem respondidas.

–Não – ele sorriu para mim. Um sorriso cansado. Falso. Eu tentei corresponder, mas eu sabia que meu sorriso era mínimo.

Meu alívio foi substituído por raiva e o sentimento de que eu havia sido tola. As imortais eram melhores do que eu, e se eu quisesse ser o mínimo como elas, precisava ser mais dura e inflexível com certas coisas.

–Vou tomar banho e me trocar, então poderemos ir comer – eu poderia ter dito não, poderia ter começado a despejar em cima dele toda a minha frustração, mas eu entendi que não valia a pena fazer isso, eu apenas iria me expor.

Ezra era bom, tão bom que eu havia caído em sua rede. Mas antes que ele colocasse as mãos em mim, eu percebi o que ele era. Isso me deixou de certa forma feliz.

–Tudo bem – ele tirou a blusa, revelando a extensão de seu peito branco, musculoso e de aparência sedosa. A perfeição que eu me lembrava. Eu o observei se livrar de suas roupas ficando apenas com as mais internas, deixando minha mente divagar em pensamentos obscenos de por onde cada peça havia andando, e como elas haviam adquirido um aspecto tão amarrotado.

Fiquei enojada ao imaginar o que elas tivessem feito com ele, ou o contrário. Seu peito, que havia invadido dos meus sonhos e pensamentos, não era mais assim tão agradável.

Eu me virei na direção da janela antes que ele me olhasse, me flagrando olhando–o com um olhar decepcionado. Eu esperava que durasse mais, porém havia sido tão rápido que seu interesse havia morrido. Tentei deixar as imagens de lado, louca por esquecer e seguir em frente, e superar a crescente onda de enjôo que se apoderou de mim.

Ao ouvir a porta do banheiro, eu senti meus olhos se encherem de lágrimas, e só percebi que estava assim tão decepcionada, ao sentir elas descerem pelo meu rosto. Eu me odiei imensamente por elas.

Droga de sentimento.

***

Me sentar à mesa com o rei a rainha do clã para tomar café nunca estive no meu mural dos sonhos, a ideia era de certa forma repugnante. Só a imaginação me deixava desconfortável. Mas lá estava eu, sentada de frente para Ezra – que parecia desligado do mundo – Eike e Elian, ao lado das gêmeas, e é claro, a esposa de Elian, Lilian.

Cetro de Gelo - O Canto do Lobo BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora