Capítulo 15

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Não revisado.

O misto de sensações, confusões e assombro no qual minha mente, corpo e alma se encontravam havia feito meu corpo entrar em estado de choque, fazendo o processamento das imagens ao meu redor se tornarem mais lentas. Eu vi quando ele deu um sorriso pervertido, mas não consegui emitir uma resposta rápida contra sua chegada.

Minha respiração parou por um segundo quando o vi se aproximar e sentir suas pernas pressionadas contra as minhas dos dois lados. No momento em que senti suas mãos contra a minha pele e sua respiração exageradamente próxima do meu rosto, eu sabia que se não fizesse algo, Ezra iria me beijar, e eu não queria beijar ele, apesar de toda a beleza e charme, e a forma como meu corpo esquentou nos exatos lugares aonde o dele me pressionava, eu ainda tinha dignidade o suficiente para não me torna mais uma em sua ENORME lista.

–Você não é gay? – perguntei em um sussurro, temendo a resposta que parecia estar óbvia demais, e apenas eu como uma tola ousei acreditar em uma ideia tão absurda. Ezra arqueou as sobrancelhas tomando uma postura divertida.

–Eu nunca disse que era gay – Ezra passou sua mão fria no meu rosto de forma demorada. –Foi você quem disse ... que eu era gay – ele deu de ombros, alcançando meus lábios entreabertos.

Seu toque não estava tão frio, parecia mais moderado, consideravelmente mais quente do que antes. Ele se inclinou na direção do meu rosto, e eu já podia sentir o gosto de seus lábios pressionados contra os meus, mas o alerta em vermelho pintou minha mente como uma forma desesperada de me impedir de ser tão idiota a ponto de me deitar com Ezra Nix.

–Não se atreva – disparei alto demais, usando minhas mãos para empurrá-lo. Por um momento eu vi confusão pairarem por seus oceanos royais, mas como se entendesse-me perfeitamente ele recuou, usando o peso das pernas para ainda me manter presa em seu aperto. Ele inclinou a cabeça para o lado me analisando, parecendo bastante pensativo.

Eu desviei o olhar para a parede atrás dele, inspecionando de longe a cor do que um dia. – daqui a algum tempo – foi seu quarto no palácio. Estremeci ao sentir suas mãos tocarem minha cintura, alisando o local com uma vagareza que me deixou inquieta. Se Ezra não era gay eu podia muito bem estar terrivelmente encrencada, ele era mais forte do que eu, não havia maneira de eu conseguir me livrar de seu aperto. Seria doloroso e complicado, e eu sairia cheia de hematomas.

Mas Ezra não me forçaria em uma relação íntima sem o meu consentimento. Ou forçaria?

A ideia me fez voltar meus olhos para ele, procurando por sinais que poderiam significar minha perdição. Mas Ezra só parecia concentrado, perdido nos próprios pensamentos enquanto passeava suas mãos pelo meu corpo coberto. Ele não olhava fixamente para o rosto, ou algum lugar específico do meu corpo, mas quando eu ousei me mexer em desconforto, ele encarou–me com firmeza.

Eu daria qualquer coisa para saber o que se passava na mente dele. Pois seus olhos pareciam nublados e quase decepcionados ao encararem os meus. Eu não perguntaria nada, deixaria qualquer coisa para depois, depois de muito anos.

Um sorriso simples surgiu em seus lábios, e eu vi seus olhos se suavizaram. –Você quer comer queijo? – eu tentei sorrir e balancei com a cabeça, louca para vê-lo sair de cima de mim.

Ezra se inclinou bem mais rápido do que eu pude acompanhar e depositou um beijo na minha bochecha esquerda, se demorando ali. Meus pores absorveram a magia dele mais rápido do que antes, um cheiro forte de flores adentrando nas minhas narinas. Eu pensei que ele fosse apagar minhas lembranças sobre essa investida patética da parte dele, mas quando dei por mim ele já havia me deixado, e andava pelo quarto arrastado uma bolsa marrom.

Eu procurei por algum faltando dentro de mim, qualquer indício de alteração por magia, mas cheguei à conclusão de que se algo houvesse desaparecido, eu nunca me daria conta, e muito menos faria falta. Ele remexeu dentro da bolsa e tirou um vestido verde florido.

–Talvez queira trocar de roupa – ele depositou a peça em cima da cama ao meu lado. Eu percebi, não muito feliz que a forma como eu o via, havia mudado, assim como quando eu tive certeza de que ele era gay. Olhando para seu rosto pálido, os cabelos presos em tranças e seus olhos profundamente misteriosos, eu temi que por conta da minha nova descoberta, algo mais mudasse na forma como eu o enxergava. Eu sei que já repeti isso antes, mas foi impossível não me lembrar novamente, me apaixonar por ele era a última coisa que eu queria, mas quando a imagem dele em cima de mim ganhou vida dentro da minha mente, eu vi a cena completa.

Me sentei na cama ficando ereta. Uma imagem tão viva e cheia de sentimentos e realidade e gosto, porque eu havia imaginado e sentindo em mim o gosto que deveria ter seus lábios.

Acorda Zoe querida.

***Festa do Casamento***

–Você não deveria estar com o seu marido? – eu recebi uma cutucada de Totem. Me virei para minha irmã que parecia bem louca para se livrar de mim. Ela tinha uma expressão animada e cheia de vida.

Ela estava mais feliz do que eu.

Eu havia me dado conta tarde demais que meu "marido" não era gay. Minhas esperanças de uma amizade entre nós não eram mais tão críveis assim, considerando sua última investida "amável". Então eu decidi me sentar longe de suas mãos frias e curiosas, e é claro, longe de qualquer outro convidado que estivesse a fim de conversar.

Eu havia tido uma conversa agradável com as gêmeas, mas nada do que havia sido dito, me deixou animada sobre uma aproximação entre nós. Ezra estava do lado, então elas não seriam desrespeitosas.

–Ele está ótimo, não vai morrer Totem – ela deve ter sentindo o tom meio amargo com o qual minha voz saiu infelizmente carregada, porque arqueou as sobrancelhas e assumiu uma feição preocupada.

–Por que de repente você parece tão infeliz? – não foi Totem quem perguntou. Eu suspirei me sentindo bem cansada para falar sobre isso com elas ou qualquer outra pessoa.

–Só estou ... – as três me olhando de forma analítica. Eu não queria começar a desenrolar um monólogo sobre minha vida com Ezra e aquele beijo que não rolou, ou como eu estava com medo de ficar sozinha com um cara que não era gay, elas não iriam entender. –Cansada de olhar para a cara perfeita dele – apontei com o braço na direção do safado.

–Zoe, você é esposa dele agora, precisa estar ao lado dele em todo momento – eu não havia me casado para isso. Não havia sequer um pingo de ciúmes em mim para andar atrás dele com medo de que ele fosse me trair com alguma beldade dos outros clãs. E por que eu me prestaria a esse ridículo papel de esposa desconfiada. Patético.

Eu já havia avisado ele, então se rolasse algo, eu ficaria bem feliz de pedir o divórcio e sair do clã sem nenhum impedimento. E ainda teria um sorriso no rosto e mandaria presentes para a amante dele. Eu sei o que isso ia parecer, mas seria sincero da minha parte.

–Não preciso andar atrás dele como uma cachorrinha – Totem revirou os olhos. Ela iria começar a falar sobre como eu deveria andar ao lado dele e ver isso como uma coisa boa, mas ao lado de Ezra, eu ficava apagada e sem vida, ele era perfeito em tudo, e eu como humana não conseguia nem manter minhas unhas grandes. –E nem comece com esse papo de "você é esposa dele, vai andar ao lado dele" porque aqui não cola – ela levantou as mãos para cima deixando de lado esse assunto patético.

Fiquei feliz por isso.

Eu pequei mais alguns bolinhos e fitei com satisfação a esfira feita com queijo do baixo vale. Eu queria mesmo ter visto a cara dos anciões ao provarem da comida, mas infelizmente quando cheguei, essa cena já havia passado.

–Amiga! – oh merda. Alice deu a volta na mesa e se sentou em uma das cadeiras vazias que pertenciam aos meus pais. Ela estava com um prato na mão, comendo de tudo o que havia nas mesas. –Por que você está aqui? – de novo a mesma pergunta. Não tinha condições de aguentar uma coisa dessas.

Com uma revirada de olhos impacientes eu falei: –Estou dando para ele não espaço mais respirável longe da mortalidade, satisfeitas? – nem eu estava. Elas pareciam chocadas demais.

Eu respirei fundo e tentei não olhar para elas ou para as pessoas das mesas ao redor que eu sentia me encararem.

Eu não devia ter aberto a boca.

Cetro de Gelo - O Canto do Lobo BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora