Capítulo 4

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Não revisado.

–Você está errado – meu sussurro meio desesperado, não teve como passar despercebido. Quando me voltei para ele ainda ao meu lado, pude ver o quanto isso o estava deixando feliz.

Se controle Zoe, se controle.

Ezra me tirava do sério, a qualquer momento e hora.

–Eu não tenho nenhum sentimento romântico por você – uma das suas sobrancelhas se arqueou. Eu não queria ouvir mais sua voz entrando pelos meus ouvidos e causando uma confusão extrema dentro da minha cabeça, nem mesmo a voz de superior daquela desgraçada da suma sacerdotisa. Respeito uma ova, eu odiava ela mesmo e não tinha que ter medo de admitir, assim como meus sentimentos por Ezra não passavam de puro desprezo e indiferença.

Pelo menos eu tentava.

Mas quando ele voltou a falar, eu me senti tão exposta que parecia que nem mesmo as nove camadas de roupas que eu estava usando eram suficientes para me deixar com menos envergonha e frio.

–Zoe – ele tocou o meu rosto, bem adiante dos meus olhos e da minha altura. –Eu entendo que você esteja com medo de admitir isso publicamente em palavras, já que seus últimos seis relacionamentos foram o suficiente para arrancar sua confiança nos homens do nosso clã, mas eu estou certo de que me corresponde tanto quanto eu a amo – ele subiu sua mão para os meus cabelos. –Eu talvez a ame bem mais – não contive o revirar de olhos de frente as suas palavras melosas e carregadas de segundas intenções.

Porque eu percebi.

–Não vou me casar com você – disparei frustrada. –O clã inteiro ira rir de mim – ele se afastou quando eu comecei a gritar. –Todos os clãs irão rir de mim, e me trataram como a meretriz passageira do terceiro príncipe do Clã do Inverno, então NÃO – eu o empurrei para longe de mim, fazendo com que ele caísse no chão de bunda. –Eu sugiro que você encontre alguém mais idiota para iludir – ele me olhou chocado, quase como se tivesse acabado de ser esfaqueado, quando seu rosto se contorceu em uma careta de dor, eu quase acreditei que ele estava mesmo se sentindo ferindo, mas assim que me lembrei de suas palavras sobre meus exatos seis relacionamentos anteriores em que eu havia inconscientemente me colocado no lugar de bichinho de estimação de cada um deles, eu entendi que Ezra estava mentindo, e com ele seria ainda pior.

Eu só não conseguia entender ainda.

Me pus de pé me sentindo exposta demais e congelando perante a presença da família inteira dele e a minha. Eu estava sendo ingrata? A rainha havia sempre se lembrado de mim nos dias mais frios do ano, mas ainda era a minha felicidade, e seu filho teria a eternidade, sacrificar alguns anos dele, não eram nada, mas certamente eram a minha vida inteira.

Passei por cima dele me dirigindo para porta de saída. Eu não queria olhar para os meus pais, não queria olhar para o rei a rainha do clã, eu tinha medo do que encontraria ali. Medo de ser incompreendida. Quando as portas se abriram na minha frente, eu apertei o passo, virando no corredor a esquerda, para longe daquela atmosfera ridícula.

Eu conseguia ouvir os pequenos saltos nos meus sapatos ecoarem pelos corredores silenciosos, quase desertos. Eu já havia decidido que não devia voltar a ter fé nos homens do Clã do Inverno, e havia colocado cada uma das minhas esperanças em encontrar um bom homem humano que eu pudesse amar, ser correspondida e me casar, ter filhos, vê–los se casar e quem sabe até ver meus netos nascerem, e então morrer.

Mas agora Ezra Nix estava aparentemente decidido a me usar como sua esposa. Porque eu sabia que cada palavra saída da sua boca desgraçada, eram pura mentira. O que eu faria se não conseguisse me livrar dele? Eu devia fugir.

Não, isso seria infantil.

–Zoe – me contrair quando sua voz atingiu o meu corpo. –Espera – mas essa agora. Eu apertei o passo e virei no corredor a direita. Se eu olhasse para a cara dele, usaria minhas unhas para arrancar seus olhos. –Caramba como você é rancorosa – sua mão puxou meu pulso. –Vamos conversar – não era um pedido.

–Eu não quero conversar com você, alteza – Ezra revirou os olhos. Ele ainda tinha meu pulso preso sobre seu aperto firme e sereno. Assim que seus olhos voltaram a me encarar divertidamente, eu tive a certeza de que não sairia daquele lugar sem que ele tivesse o queria.

Me envergonhar talvez?

Ele era uma verdadeira incógnita para mim.

–Mas vai querer ouvir o que tenho a dizer, disso eu posso lhe garantir – respirei fundo e tentei puxar minha mão para longe dele, mas como se estivesse temendo uma fuga repentina, ele segurou com mais força meu pulso. –Vamos lá – Ezra saiu me arrastando pelo corredor na direção de algum lugar.

Eu sabia que não devia temer um possível ataque de sua parte, já que aos seus olhos eu era como uma bisneta perdida e sem solução – eu jamais esqueceria suas palavras grosseiras ditas cerca de dez anos antes. Aquelas que haviam arrebatado minha alma e esperanças sobre os jovens solteiros pertencentes ao clã.

Eu puxei minha mão mais uma vez em meio aos passos apressados dele, e apesar de sentir minha pele desliza diante da sua que era fria e lisa, sem nenhum calo, eu me senti mais apertada sobre seu toque equilibrado.

Quando as portas do jardim se abriram na minha frente, eu quis correr na direção oposta com todas as minhas forças. Estava frio e úmido, bem como cheio de motivos e meios para que eu voltasse para casa com um resfriado ainda pior. E tendo que vista que suma sacerdotisa odiava humanos, eu estava prevendo que sofria diante de sua mão.

–Por que precisava me trazer aqui? – perguntei inquieta. –Esse frio todo vai me deixar resfriada – reclamei com um suspiro alto impaciente.

–Você não precisa se preocupar, eu estou aqui – como isso fosse o suficiente para uma gripe resolver não me pegar novamente.

Ezra me obrigou a sentar em uma das cadeiras ao redor de uma das mesas do jardim. Eu engoli o ar frio que entrou queimando pelos meus pulmões, e apesar do brilho lindo do sol acima da minha cabeça, eu senti o leve congelar dos meus dedos do pé. O jardim real era ainda mais frio do que qualquer lugar da capital, isso era por conta das flores específicas que apenas brotavam em condições extremas.

Todos os jardins dos clãs eram assim. Mas eu preferia suar até minha última gota de água ser arrancada do meu corpo, do que congelar até a morte sentada em uma maldita cadeira cara, enrolada em frios de prata, cujas plantas cresciam ao redor.

–Seja rápido – eu disparei tentando não congelar. –Ou então eu poderei congelar e não ouvir suas palavras ridículas – ele arqueou uma de suas sobrancelhas perfeitas. Esse povo não precisa de nada para ser bonito e atrair atenção, apenas existir era o suficiente. –Alteza – completei rapidamente.

Ezra cruzou os braços e me olhou intrigado, ele tinha seus questionamentos, eu pude perceber, mas o que não conseguir identificar, foram os motivos que pudessem ter levado esse pedaço de gelo ambulante a dizer disparates ridículos sobre seus sentimentos por mim.

–Seja minha esposa Zoe – eu engoli com dificuldade. Ele estava mesmo tentando fazer com que eu acreditasse nessa ladainha de amor por mim. Eu não era assim tão tola.

–Conta outra Ezra.

Cetro de Gelo - O Canto do Lobo BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora