Capítulo 38

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Não revisado.

Ezra Nix.

Eu ouvi seu grito ecoar, atravessando cada parte do meu corpo, me forçando a abrir os olhos, encarar o mundo ao meu redor, pura escuridão. Eu a vi, de perto, senti, seu medo, e a vaga dor fina que pairava sobre meu estômago era a prova viva de que meu sonho era real.

Não era eu, era ela. Desesperada, agoniada e entregue às águas geladas do rio.

Pulei da cama correndo na direção de seu quarto, e por mais rápido que eu fosse e esperança que eu tivesse, havia uma parte de mim que sabia que eu estava perdendo tempo, deixando o último fio de sanidade que me mantinha firme e em pé no meio do meu povo, escondido, desaparecer para sempre.

Quando abri a porta do seu quarto bruscamente, tive que ajustar minha visão para conseguir enxergar algo no meio daquelas trevas. Vi a cama bagunçada, os lençóis desarrumados misturados a algumas mudas de roupas, seu cheiro estava mais fraco. 

Me apavorei, meu sonho, era a nossa ligação, Zoe estava morrendo.

Eu devia saber que ela faria alguma idiotice, e agora o meu mundo estava a um triz de desaparecer, porque se Zoe morresse, eu arrancaria a traqueia da suma sacerdotisa com minhas garras e de forma lenta, para que ela jamais se esquecesse, se sobrevivesse, como era ser perfurada por um lobo furioso. 

Rosnei de raiva, enquanto tentava manter o mínimo de sanidade para tentar salvá-la.

Peguei o rumo para fora da mansão, seguindo a trilha que seu cheiro havia deixado para trás, sem nem me importar se havia alguém vendo ou ouvindo, ou se me faltavam sapatos e uma roupa decente. 

Zoe estava prestes a morrer e eu não poderia permitir.

Corri pela cidade na direção do rio, sentindo o agitar característico sobre minha pele, o despertar enlouquecido da minha mente, que até aquela tarde estava pacífica. Minha fera interior arranhou sob minha pele pedindo passagem, mas eu ainda precisava me manter lúcido, não podia me permitir me transformar no meio da cidade.

Por mais desertas que as ruas pudessem ser, eu tinha consciência de que sempre havia alguém observando, e mesmo com o título de príncipe herdeiro do clã, eles ainda poderia me transformar em carne moida.

Quando alcancei o limite da cidade, vi o rio congelado a minha frente, se estendendo por uma enorme porção de espaço, que já havia começado a derreter desde a chegada do verão. A parte mais afastada, estava mais próxima das terras do Clã do Verão, eram a parte mais perigosa para qualquer um que não fosse imortal andar.

Olhei ao redor, reconhecendo aquela imagem, o local, mas eu não tinha como saber onde ela estava, em que parte exatamente eles haviam sacrificado ela por um crença patética e completamente ridícula, composta pela mais pura superioridade de suas almas imortais.

As vezes eu me perguntava se pertencia mesmo ao meu clã, mesmo que obviamente minha minha essência fosse tão apurada quanto a de meus irmãos, meus pensamentos, sentimentos e atos não eram totalmente semelhante a eles. Eu jamais machucaria outra pessoa, principalmente um humano, mesmo que não concordasse com ele, mesmo que ele fosse um obstáculo, mesmo que isso não fosse me trazer alguma consequência, mesmo que ele houvesse sido criado pelas circunstâncias e mesmo parecesse ser o certo.

E aquela maluca chama de obstáculo uma humana, uma princesa consorte, minha esposa, se tornar rainha do clã e trazer vergonha e fraqueza por não ter parentesco legítimo, por ser tão efêmera quanto uma flor comum.

Eu ainda iria arrancar sua pele.

Encarei o gelo sob meus pés, ele estava mais fino do que eu me lembrava, poderia facilmente se quebrar, e quando o vento soprou pelas minhas costas se projetando para frente, eu tive a visão dos momentos anteriores ao assassinato da minha companheira.

Cetro de Gelo - O Canto do Lobo BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora