Capítulo 7

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Não revisado.

Pulei na cama, com um grito entalado na garganta. Na escuridão do quarto, eu vi a magia se mover sem forma, fria e densa, tive certeza de que era ele, aquela criatura horripilante que rondava meus pesadelos a anos. Eu soltei o grito de pavor que havia ficado preso dentro de mim, fazendo o vento se assustar e desaparecer em algum lugar.

–Zoe – a porta do quarto foi aberta com rapidez. A luz se acendeu acima da minha cabeça em forma de uma bola brilhante e quente. Quando vir meu pai na porta do quarto segurando sua espada pronto para uma luta corporal, eu desabei em choro, tentando esquecer os sentimentos assustadores dentro de mim. –O que aconteceu querida? – ele perguntou assustado.

Eu neguei com a cabeça, sentindo uma leve brisa acolhedora atravessar meu corpo, levando para longe a imagem que haviam sido cravadas com pregos na minha mente, deixando para trás uma estranha paz imediata. Eu não entendi, mas tapei minha boca me sentindo mais calma. Esse não era um caso isolado, mas eu sempre me via solitária e vazia depois que eles se iam de dentro de mim. Só que por algum motivo quando eu conseguir enxergar o fluir descuidado de uma brisa fria, eu tive a certeza de que era ele.

Assombrada por uma sombra desconhecida que quase nunca ganhava uma forma específica. Talvez estivesse ligado com a destruição da minha casa, anos atrás, meu lar entre os humanos, que havia se tornado um território estéril.

–Foi só um pesadelo – ele suspirou aliviado. –Desculpa – eu tentei buscar dentro da minha mente as imagens, as palavras, o cheiro, a sensação, mas tudo aquilo havia desaparecido como fumaça dentro da minha mente. Até mesmo minhas certezas outrora convincentes demais para serem esquecidas.

–Tudo bem querida – disse ele. Minha mãe entrou pela porta depois de perceber que tudo estava bem, seu cheiro de algas me deixou ainda mais calma. Eu me agarrei a ela temendo que por algum motivo idiota ela desaparecesse, mas a única que poderia desaparecer era eu.

–Foi só um pesadelo querida – ele acariciou minhas costas.

***

–Você não parece animada – sua voz entrou pelos meus ouvidos como uma adaga afiada, fazendo os pelos da minha nuca se arrepiarem. Eu não lembrava mais do sonho da noite anterior, mas por algum motivo, eu tinha suspeitas sobre a brisa de magia que deixou meu quarto, e ficar de frente para Ezra me deixava estranhamente mais desconfortável do que eu me lembrava. Suspirei fitando ele com infelicidade. Eu tinha certeza de que se continuasse assim, todos iriam perceber minha insatisfação sobre esse casamento, ou relacionamento e isso não seria bom, considerando suas adoráveis palavras nada ameaçadoras.

Com um suspiro alto eu disse. –Mas eu estou – eu não estava. Eu devia ter aberto logo o jogo e jogado em sua cara a verdade. Mas eu hesitei.

Me recusar a vê-lo na manhã do dia anterior não havia impedido ele de voltar no dia seguinte, me deixando sem escolha a não ser acompanha-lo para tomar um suco de frutas gelado ou no meu caso, um chá de hortelã com chocolate meio amargo. Pelo menos a comida era boa, e aquele povo dali conseguia fazer um chocolate decente.

–Não parece – sorri sem mostrar os dentes. Tá, eu tinha que mudar minha cara rápido, se eu fosse precisar ser mais esperta que ele, tinha que fazê-lo me ver como uma pessoa fútil. Só o fato de eu estar no centro da fofoca da vida dele já me dava pontos extras logo de início.

–E você se importa? – apoiei meu cotovelo na mesa, apenas para parecer mais dramática quando olhei para o outro lado da confeitaria, procurando por algo mais interessante. Olhando ao redor eu percebi que na verdade manter Ezra afastado de mim seria a melhor estratégia, apesar do casamento ser tecnicamente uma união que aproxima.

Cetro de Gelo - O Canto do Lobo BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora