A Velha Londres

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Aqui estou, desembarcando no aeroporto de Londres com minha calça legging, minhas botas e um casaco de liquidação que eu havia comprado recentemente, para vir para cá

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Aqui estou, desembarcando no aeroporto de Londres com minha calça legging, minhas botas e um casaco de liquidação que eu havia comprado recentemente, para vir para cá. Peguei minha pouca bagagem, minha mala de mão e saí andando pelo aeroporto em busca da porta de saída. Passei por um espelho e notei, realmente eu havia emagrecido bastante, estava muito próximo do corpo que eu sempre sonhei em ter. Não era para menos, o sofrimento dos últimos tempos colaboraram e muito para isso.

Finalmente cheguei a porta e ela se abriu automaticamente com a minha presença. Senti o vento gélido e úmido no meu rosto me lembrando estar, prestes a iniciar uma vida totalmente desconhecida e nova. "Faça dar certo Cecília, você não tem mais tempo para erros."

Chamei um táxi, coloquei minhas malas no bagageiro com auxílio do taxista e segui diretamente para o apartamento que eu havia alugado. A viagem havia sido um tanto cansativa, várias conexões e toda a ansiedade, não me deixaram pregar os olhos no avião. Tudo o que eu precisava, era de um bom banho quente e de uma noite de sono bem dormida, para poder encarar os dias que estavam por vir.

Ao chegar na portaria do prédio, encontrei um porteiro apático e meio sonolento, mas confesso que simpatizei com ele, isso é bem coisa de brasileiro. Dei duas batidinha suaves no vidro e falei com animação:

— Boa Tarde! Me Chamo Cecília, a Senhora Van The Camp deixou as chaves do apartamento para mim. O senhor deve ser o Sr. Wilson, certo?

Ele olhou me com firmeza, um pouco de cautela e disse:

— Você é a brasileira que alugou o apartamento? — sorri, assentindo positivamente. — Ela me disse que chegaria hoje!

— Exatamente — afirmei com otimismo — combinamos tudo, e ela me orientou a procurar pelo senhor.

— Preciso que me apresente seus documentos e a carta assinada por ela com a autorização.

— Ah! Claro, estão aqui! — Entreguei meu passaporte com a carta que eu havia imprimido, em um envelope.

— Ok. As chaves estão aqui! — disse com seriedade — Vou acompanhá-la para lhe mostrar o apartamento.

Eu sorri com bastante empolgação, confesso que estava bem preocupada dele dificultar as coisas para mim, eu estava exausta e não queria demorar mais para ver meu novo lar!
Ele saiu do seu posto, e veio me ajudar com as malas.

— Ah por favor, não quero que tenha trabalho, eu mesma levo! — Sugeri delicadamente.

— Imagine senhorita, eu estou aqui para isso. — Esboçou um quase sorriso, o que me animou imediatamente. Aquele senhor tão sério, tão inglês, estaria me dando alguma abertura?

— Obrigada pela gentileza! — Ofertei o meu sorriso mais simpático e ele acenou com a cabeça.

Chegamos ao apartamento, ele me aguardou abrir a porta e deixou minhas malas na entrada, nos despedimos e eu entrei curiosa, e confesso, com borboletas no estômago. Era real, isso estava acontecendo, eu estava aqui.

Entrei então no apartamento, analisando cada detalhe. Eu já havia visto ele nas fotos, e admito que ele realmente era tão charmoso quanto estava nelas. Era um apartamento bem pequeno, meu dinheiro mal daria para ele, mas era o suficiente para mim!

Logo ao abrir a porta, ao lado dela, vi ter uma mesinha de vidro e pernas de ferro, como se fosse um banquinho, com um vaso de flores. A sala era pequena, e um balcão de mármore dividia ela da cozinha, um sofá de dois lugares bem aconchegante e uma pequena televisão em cima de uma pequena estante. A cozinha, que fazia divisão com a sala, era ainda menor, tinha um armário de 4 portas acima da pia que se estendia até o fogão. Do outro lado da pia, estava uma charmosa geladeira, e após o fogão descia uma porta de continuação aos armários de cima, um "paneleiro" tudo segundo a minha necessidade por agora.

Percebi que na geladeira havia um bilhete, era da senhora Van The Camp, a dona do apartamento. Tive a sorte de poder negociar minha estadia diretamente com ela, sem precisar de intermediários. Ela, uma senhora muito doce e excelente para negociar, conversamos por meses, desde que decidi me mudar, comecei a pesquisar o local que ficaria, nos conhecemos e acabamos nos afeiçoando, tínhamos muito em comum. No bilhete dizia:

"Querida Cecí, imagino que a viagem tenha sido pesada e você esteja precisando de forças para encarar a jornada que se inicia, assim, tomei a liberdade de abastecer a geladeira com alguns mantimentos. Não é regra da casa, mas mediante nosso bom entrosamento, achei válido tomar esse cuidado. Que você possa usufruir satisfatoriamente!

Com carinho, Beth!"

"Essa mulher não existe!" Ela foi extremamente calorosa! Não esperava isso dos ingleses, pelo menos, não pelo o que eu ouvi falar!

Realmente, o nosso entrosamento foi recíproco, também me afeiçoei muito a ela, e confesso que ao ver tal carinho, me senti acolhida, e precisava disso, estava com medo, insegura, em um país estranho, em uma vida que eu não conhecia!

Segui para o quarto com minhas malas, me deparei com uma janela bem longa coberta por cortinas claras levemente estampadas com rosetas — tão inglês —  uma cama de ferro muito bem ajeitada, e aparentemente muito confortável. Em ambos os lados da cama, haviam dois móveis com uma gaveta e um abajur em cada. Havia também um pequeno guarda-roupa de quatro portas, alto, com gavetas, perfeito para eu me organizar. "Que capricho! Simples, mas muito aconchegante!"

No móvel ao lado da cama, outro bilhete:

" Querida Cecília , trouxe todas as roupas de cama da lavanderia hoje, tudo está pronto e cheiroso para você! Caso precise, tem cobertor e edredom nos armários. Agora que já está instalada, aconselho a tomar um delicioso banho de banheira, deixei um kit toilete lá para você, isso eu faço para todos, confesso, mas os sais de banho, comprei especialmente para você!

Com carinho,Beth!"

Me vieram lágrimas aos olhos, sim, sou emotiva e carente, qualquer demonstração de afeto e cuidado me deixam emocionada, ainda mais quando tudo que eu mais queria era um banho quente! Segui imediatamente até o banheiro, e lá estava uma pequena banheira, o lavabo com um pequeno armário e um espelho! O banheiro era inteiramente branco, o que passava uma sensação de paz!

Me joguei naquela banheira perfumada e fiquei ali por alguns momentos de olhos fechados, pensando, finalmente materializando tudo que estava acontecendo comigo! Lembrei-me do Senhor Wilson, quando me chamou de senhorita. "Será que os ingleses chamam as divorciadas de senhorita?"

Ao pensar na palavra divorciada meu estômago deu uma leve embrulhada. Meu divórcio foi o juízo final para eu vir para cá! Lembrar daquele casamento tóxico e enfadonho que eu vinha arrastando, as situações que vivi nos últimos tempos, privações e os eternos nós na garganta me faziam ânsia só de lembrar, mas acabou, chega! Chega do peso do casamento infeliz, chega do peso do divórcio em uma família tradicional e presa às aparências!

"Estou aqui, Londres é minha segunda chance, dessa vez eu farei tudo certo!"

"Estou aqui, Londres é minha segunda chance, dessa vez eu farei tudo certo!"

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