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Sirius

     Aos poucos, a Sala Comunal foi esvaziando, alguns cansando de fazer as tarefas, esses eram principalmente os do quinto e sétimo ano, outros empolgados para o próximo dia, esses eram, em sua maioria, primeiranistas, empolgados com a escola, me perguntei quando, exatamente, perdíamos aquele brilho, aquela empolgação de pensar na magia que aprenderíamos no próximo dia.

— Pad?— não precisei virar, só havia uma pessoa que me chamava pelo apelido do meu apelido. Violet se sentou ao meu lado, inquieta.

— Snow?— respondi, quando ela não falou nada, a fazendo suspirar.

— Desculpe, por ontem, não quis ser rude— ela pediu, olhando para um último grupo de alunos do segundo ano, eles enrolavam pergaminhos recém escritos.

— Então, por que foi?— perguntei, ela piscou lentamente, finalmente olhando para a minha direção, à visão dos olhos azuis claros algo formigou em meu peito, balancei a cabeça discretamente, ignorando, só eram olhos bonitos.

— Eu não sei, foi só o tom, era para ter sido uma piada— ela explicou, novamente desviando o olhar, para a escada que levava aos dormitórios masculinos, só esperávamos James e Peter para saírmos do castelo.

— Tudo bem— falei, não tinha sido uma briga, ela se virou, e sorriu, desviei o olhar.

Andar sob a capa da invisibilidade se tornava mais difícil a cada ano, se alguém crescesse mais um centímetro, teríamos que comprar outra, embora eu nunca tivesse visto uma como aquela. Caminhamos, ora rápido, ora lentamente pelos corredores, de acordo com oque o Mapa do Maroto informava, mas, com as patrulhas de monitores e professores, demoramos mais do que gostaríamos.

Era rotina o suficiente para ninguém precisar falar, Peter se transformou em sua forma de rato e seguiu para o Salgueiro Lutador para paralisa-lo, enquanto James, em sua forma de cervo, Violet na forma de loba branca e eu esperávamos, pulando imediatamente para dentro do buraco no chão assim que possível.

James era quem mais se atrapalhava pelo túnel, seus chifres esbarrando pelo teto, em um momento, em que ele se enroscou em uma raiz, pude jurar que Violet rira, embora nunca eu tivesse ouvido um lobo rir para saber. Sai primeiro, abrindo a tampa de madeira do chão, em seguida, Peter, James e então Violet, os três correndo escada acima.

— A lua ainda deve demorar um pouco— James comentou, olhando pela janela do quarto, Remus estava sentado no banco do piano.

— Por que você não toca?— Violet pediu, já que ele havia praticado nas inúmeras vezes que estivera ali, até mesmo tinha uma partitura cheia de pó, ninguém limpava aquele lugar.

     Remus se virou, os ombros curvados e o peito pra dentro, posicionando os dedos nas teclas, e com um suspiro, as apertou. A melodia tomou conta do lugar, lenta e melancólica, oque devia estar sendo a exata representação de como ele devia estar se sentindo naquele momento, e, daquela maneira, conseguia fazer qualquer um entender.

     Violet pegou uma mão de James, que havia parado para ouvir a música e estava mais próximo dela, e girou, o suéter bege, grande demais para ela, girando como se fosse um vestido, a fazendo dar uma pequena risada, trazendo novamente uma sensação inquietante até mim. Me virei, Peter desviava o olhar entre os dois e Remus, fiz um gesto para ele se aproximar, como se também quisesse dançar, mas ele deu um passo para trás, semicerrando os olhos, e, quando dei um passo para a frente, ele se transformou em um rato e correu.

— Ah, seu ratinho traiçoeiro, nunca mais terá a honra da minha dança— falei, acompanhando o animal até que ele se transformasse novamente em sua forma humana, do outro lado do piano.

     Todos riram, até mesmo Remus, oque era um alívio para todos ali, mas, com a mesma velocidade que a risada veio, ela se foi, o sorriso saindo do rosto como uma névoa deixando um campo no início da manhã. A melodia parou em um toque errado, e Remus deixou os braços caírem para o colo, e se fosse possível, curvou ainda mais os ombros, uma respiração entrecortada o deixando.

— Estou tão cansado— ele sussurrou, olhei pela janela empoeirada, no horizonte, uma linha mais clara aparecia.

— Eu sei— Violet falou, se aproximando e o abraçando pelos ombros, era o máximo que qualquer um ali podia oferecer.

     Assim que o primeiro traço de lua apareceu, Remus soltou um grito estridente, as mãos se fechando no colo, Violet se sobressaltou, mas foi preciso James intervir para que ela se afastasse.

— Vai— ele pediu, a empurrando levemente para a saída, mas ela parou, se encolhendo quando Remus soltou outro grito.

— Vamos cuidar dele, vai— falei, ela me olhou, angústia nos olhos, mas se transformou e partiu.

     Na primeira vez que Violet ficou próxima, em sua forma animaga, de Remus, como um lobisomem transformado... não era uma memória que ninguém gostaria de recordar, não havíamos pensado no mais óbvio, um lobisomem não gostaria de um lobo, eu me lembrava de poucas vezes que havia deixado o pânico me consumir, e aquela fora uma delas. Desde então, sendo teimosa como era, Violet nos acompanhava apenas de longe, falando que apenas se aproximaria caso fosse estritamente necessário, embora eu não conseguisse pensar em nenhum cenário em que ela arriscar a vida fosse necessário.

🌕

— James, você acabou de colocar um pedaço de bacon na sua taça?— Alice perguntou, ele franziu a testa, voltando a pegar a carne da taça, por sorte, vazia.

— É a terceira vez que a Violet passa manteiga na mesma torrada— Marlene comentou, olhei para o lado, não tínhamos conversado depois de voltarmos, mas ela definitivamente não tinha dormido.

— Eu gosto de manteiga— ela comentou, mas fez uma careta ao morder a torrada, a manteiga quase caindo para fora.

— Oque vocês fizeram a noite toda?— Lily perguntou, e, olhando para James, completou— ficou se admirando no espelho?

— Por que? Você já faz isso por mim— ele retrucou, recebendo um revirar de olhos.

— Acho que Peter morreu— Emmeline comentou, olhamos para o garoto, que tinha o rosto no prato vazio, dormindo como se estivesse na cama mais confortável.

     Entrar na aula de poções me ajudou a despertar um pouco, a sala sempre era doce demais, quente demais, para qualquer um pensar em dormir, talvez alguém devesse recomendar aquilo para Binns. James foi na frente, e acabou escolhendo uma das mesas com caldeirão em cima, já que Slughorn ainda mantinha as poções do primeiro dia de aula, embora ele só parecesse usar para o nosso ano.

— Vocês devem estar se questionando sobre as poções, bom, ainda não descobri oque fazer com elas, jogar fora seria um desperdício— o professor comentou na frente da sala, eu não sabia oque ele queria fazer com elas, não havia mais de uma utilidade para uma poção do amor, ou uma da verdade.

     O brilho da poção a minha frente indicava que aquela era a Amortentia, ainda não havia me aproximado dela, então, com certo receio, me inclinei e cheirei. Tinha cheiro de um dos produtos que se usava para polir vassouras, torta de carne, e, fogo... como se fosse de uma lareira, oque eu imaginava ser o cheiro de casa, mas, o cheiro mais evidente era de avelã.

— Qual cheiro você sente?— James perguntou, quando voltei a arrumar a postura, mordi o interior da bochecha, tentando me lembrar de onde conhecia os últimos dois.

— Não se preocupe, Prongs, é o seu perfume— falei, ele bufou, balançando a cabeça em negação.

A outra Pettigrew Onde histórias criam vida. Descubra agora