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Alice

Segure essa— repeti, pela terceira vez, pousando outro vaso de barro pequeno nas mãos de Violet, que já lutava para equilibrar as pequenas plantas nas duas mãos enluvadas.

— Qual o nome?— perguntou, arrumando os vassos nos braços como se segurasse um bebê.

— É uma Hortelã-pimenta— respondi, sentindo o cheiro das folhas mesmo afastada. Ela levantou uma sobrancelha, esperando, e sorri para isso— Ivy.

— Bonito— comentou, dando dois tapinhas na planta. Ela era a única que me dava abertura o suficiente para saber o nome pessoal de todas as minhas plantas, e tinha talento o suficiente para fingir realmente se importar com elas tanto quanto eu.

— Faltam poucas— falei, voltando a me virar para a parte detrás da estufa 1, o único lugar que tinham me consentido permissão para guardar os diversos vasos, mas que era desprotegido para a chuva.

— Sem pressa— ela respondeu, escondendo fracamente um tremido pela baixa temperatura depois de uma longa noite chuvosa.

     Arrastei mais alguns vasos para baixo do único banco de madeira apodrecida presente ali, as mais resistentes as chuvas ou que a sombra as prejudicaria ainda mais.

— Ali, Ali— Violet chamou, apressadamente, mas encarava o céu quando respondi, e entendi quando um barulho molhado da terra sendo esmagada chegou, segundos antes do rosto de Frank.

— Bom dia— desejou, calmamente, como sempre o fazia, e espremendo os ombros para dentro, tentando esconder seus centímetros à mais.

— Dia— Violet e eu respondemos, ela um pouco menos hesitante, e tentei esconder o nervosismo ao pegar uma última planta ao aleatório, uma que não precisava ser escondida debaixo da minha cama, e levantei.

— Pode levar essas?— perguntei, a colocando na dobra do antebraço da minha amiga, que semicerrou os olhos levemente para mim, sinal a qual respondi apenas com um aceno de cabeça.

Violet concordou com o mesmo nível de discrição, e se virou pelo mesmo caminho que viemos, passando por Frank e lhe dando um longo olhar, um que Peter costumava dar para quem falava de seus amigos, avaliador e com uma mensagem parecida com "estou de olho", antes de sair, pisando nas partes mais secas do chão na tentativa de não sujar a bota bege.

— Ela não gosta muito de mim— Frank comentou, coçando a nuca de forma descontraída, gesto contrário ao nervo saltado em seu pescoço.

— Ela não confia em você— corrigi, esfregando as luvas lilás uma nas outras, as quais, na verdade, pertenciam à Mary.

— Certo— falou, engolindo em seco e abaixando as mãos, apenas para enfia-las no bolso.

Olhei para as árvores distantes, cercando o lago negro, suas folhas balançando a um vento mínimo, e seu tronco escuro pela umidade. Prestar atenção naqueles detalhes se tornou mais fácil do que dizer as palavras postas diante da minha mente, preparadas e recitadas tantas vezes que sua amargura entrou em acidez e se tornaram mais brutais do que quando primeiramente pensadas.

— Frank— apenas seu nome me fez perder o ar, e o remorso me atingiu de dianteira, e eu sabia que o sentiria por mais tempo do que o aceitável, então aceitei o destino, e joguei as letras no ar— errei com você.

— Ah— seus olhos tão escuros quanto a terra se focaram em minha bochecha— por quê?

— Para começar, não deveria ter te chamado para sair comigo— não, não era exatamente aquilo que planejava dizer, mas saiu mesmo assim, e ele me encarou completamente, pálpebras arregaladas momentaneamente, antes de se virarem para o banco de madeira.

A outra Pettigrew Onde histórias criam vida. Descubra agora