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Remus

     Choveu durante os dois primeiros dias de minha chegada em Hogwarts, e estava levemente aliviado por não ter de levantar cedo, já que, como o dia primeiro de setembro tinha caído em uma quinta-feia, eram quatro dias livres nos corredores escuros pela falta de iluminação natural e debaixo de lençóis quentes.

     Porém, aqueles dois dias também foram conturbados com a minha própria mente me pregando peças até tardes horas da noite, então, quando o terceiro amanheceu, me senti exausto daquele segredo e me levantei mais determinado do que nos dias anteriores, sentindo uma coragem fora do comum quando segui para a Sala Comunal, agradecendo a qualquer força do universo que estava equilibrada ao encontrar Violet sentada no tapete, montando um quebra-cabeça na mesa de centro.

— O que é?— perguntei, me sentando ao seu lado, as poucas peças montadas não informavam muito da imagem completa.

— Eu não tenho ideia, joguei a caixa fora porquê queria montar sem instruções— respondeu, e se virou para mim, sorrindo de modo forçado— não está dando certo.

— Ok— falei, cautelosamente, analisando as peças, algumas azuis, outras roxas e rosas, até brancas, mas sem um padrão, então nem tentei— podemos conversar?

— Estamos conversando— respondeu, franzindo o rosto para uma peça, mas eu chutei levemente seu pé, e ela a largou— vou pedir para Lice montar— encostou no sofá atrás de si e me olhou, esperando.

     Meu coração acelerou com nervosismo involuntário, até eu achar que precisaria da ajuda de Madame Promfey, mas respirei fundo, me lembrando de que era Violet, já havíamos discutido o assunto inúmeras vezes antes sobre personagens de livros, eu sabia que não precisava temer sua reação.

— Eu gosto de garotos, e garotas, os dois— me enrolei um pouco, gesticulando agitadamente com as mãos. Violet ergueu as sobrancelhas, mas não parecia tão surpresa quanto deveria, e seu sorriso de resposta apenas confirmou minha hipótese, mas eu não poderia me importar menos, não com meus batimentos voltando a sua frequência natural e o ar entrando completamente em meus pulmões, na verdade, estava respirando mais livremente do que antes.

— Obrigada por me contar— disse, esticando os braços na minha direção, abraço o qual aceitei, apoiando o queixo em seu ombro.

— Ah, Snow, descobri durante o verão, e tanta coisa faz sentido— comentei, rindo do quão óbvio era, e como eu não tinha percebido. Ela esfregou minhas costas, uma vez antes que eu me afastasse.

— Quer que eu esteja com você quando for contar aos outros? Sabe que não precisa ter medo da reação deles— ela ofereceu, cruzando os tornozelos e encostando a cabeça no sofá.

— Não sei, ainda— respondi, mas não conseguia parar de sorrir com aquela nova sensação reconfortante em meu peito, por sentir que estava sendo eu mesmo, e a emoção até me fez inclinar e pegar uma das peças do quebra-cabeça.

     Ela também retornou ao jogo, começando a montar a borda primeiro, o lado direito parecia formar levemente uma onda.

— Vocês dois— Sirius descia a escadaria do dormitório, respirando fortemente, com Peter logo atrás já se adiantando para o buraco do retrato.

     Não fizemos perguntas, apenas levantamos e começamos a correr na mesma velocidade, e, eu tentei ignorar, pude sentir olhares curiosos queimando em minha nuca.

     Sirius e Peter não explicaram, e não tinham tempo pelo jeito, então ignorei a pontada em minhas costelas e os novos rostos indagadores que me encararam nos corredores, porém, alguns até passaram a vir atrás de nós, tamanho interesse.

A outra Pettigrew Onde histórias criam vida. Descubra agora