A outra Pettigrew

38

Violet

     O último dia de aula trouxe ânimo para todos, que correram para o lado de fora, alguns pulando no Lago Negro, outros caminhando nas campinas ensolaradas com o sol de fim da tarde e admirando as flores, em grupos, duplas ou sozinhos, planejando as férias, ou, pouquíssimos, se despedindo dos amigos para poderem ficar na escola durante as férias de verão.

     Remus andava do meu lado, mas estava segurando o jornal do café da manhã, lendo um artigo, que devia estar ruim, já que ele o dobrou com raiva e o guardou no bolso.

— Imbecis— murmurou, lhe levantei uma sobrancelha, mas ele apenas negou com a cabeça.

     Andamos mais alguns metros antes de ouvir uma movimentação à nossa esquerda, onde um grupo se reunia em círculo, rindo e incentivando dois garotos que se destacavam por seus cabelos loiros avermelhados, eu os conhecia pela popularidade, os irmãos Fabian e Gideon Prewett, o primeiro estava no mesmo ano que Remus, e o segundo no meu, mesmo que frequentássemos poucas aulas juntos.

     Eles duelavam. Fabian apontou a varinha para o irmão, que fez o mesmo movimento, até ambos gritarem o feitiço simultaneamente, mas foi a varinha de Gideon que voou, e ele fez uma careta ao pega-lá do chão, enquanto os amigos aplaudiam Fabian, que sorria vitorioso para o céu, os cabelos brilhando com o sol.

     Olhei para Remus, pronta para sugerir que tentássemos, como uma piada, mas, ele encarava Fabian, e havia um brilho diferente nos olhos verdes, surpresa, e uma admiração maior do que pela vitória do garoto. Então, ele desviou o rosto para as mãos, as encarando em confusão, e por isso preferi não perguntar algo que, provavelmente, ele ainda não tinha resposta.

— Moony— olhamos para trás, Sirius deu uma pequena corrida na nossa direção e parou, ofegante— acabei de ver McGonagall no corredor, Dumbledore quer nos ver.

     Minha mente ardeu com um fogo gelado. Durante aquelas semanas, o diretor não havia chamado mais ninguém do nosso grupo, presumi que ele esperava nossa resposta antes, ou que deixaria para depois das férias, mas, naquele momento? Sirius tinha uma pose completamente distraída, não tinha ideia do que estava prestes a ouvir.

— Ok— Remus respondeu, caminhando na frente dele para o castelo. Sirius se inclinou para mim, me dando um selinho e também se virando, mas segurei sua mão.

— Por favor, não decida nada sem pensar— pedi, ele franziu a testa, levando a outra mão até meu rosto. Eu havia percebido naquelas últimas semanas que ele adorava fazer aquilo.

— Você sabe o motivo— falou, analisando meu rosto como se procurasse a verdade, não neguei, nem concordei.

— Vamos ficar bem— respondi, apertando sua mão e ficando na ponta do pé para beijar sua bochecha, sua expressão não suavizou.

— Eu vou sozinho— Remus gritou, já estava na escadaria de pedra, Sirius franziu os lábios, se aproximou novamente, beijou minha testa e partiu, me deixando com o coração acelerado em preocupação, me perguntando como eles reagiriam.

🌔

Eles não demoraram nem uma hora, eu estava sentada na cama de Peter, vendo ele e James terminarem de arrumar seus malões, o que eu já tinha feito no dia anterior, quando Sirius e Remus entraram, suas reações completamente opostas. O primeiro tinha o cenho franzido em reflexão, mas havia uma determinação nos olhos cinzas que os escureciam, aquilo me trouxe uma apreensão agitada. E, o segundo, vagava com o olhar pelo chão, parecendo analisar tudo que lhe fora dito enquanto passava o indicador na beira da boca.

— Como foi?— Peter perguntou, eu havia falado para eles sobre. Ambos nos encararam, e eu levantei da cama para me aproximar.

Sirius envolveu minha cintura em um abraço tão intenso, que me perguntei se desapareceríamos nele, mas eu podia sentir sua respiração em minha nuca. Por cima de seu ombro, vi quando Peter também abraçou Remus, este parecia tão em choque que demorou um pouco para retribuir, mas, quando o fez, lhe apertou firme, o que era difícil pela grande diferença de altura entre eles.