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Violet

      Me arrastei para fora do pesadelo como se nadasse contra uma correnteza, conseguindo abrir os olhos para a escuridão e quietude da madrugada. Afastei uma parte da cortina, ainda sentindo como se estivesse dormindo, e, se eu virasse a cabeça, poderia ver uma daquelas pessoas sem rosto, ainda me perseguindo. Respirei fundo e soltei o ar de uma vez, o som mais parecendo um choramingo, e me levantei, não conseguindo suportar o contato contra as cobertas, que pareciam me aprisionar.

       O chão de pedra frio serviu para me despertar um pouco mais, fiquei parada por alguns segundos, encarando a janela ao lado da minha cama, a neve caia imperturbada do lado de fora, sem fazer som algum, e também escondendo os sons do resto do mundo. Andei os dois passos até a cama de Alice, ouvindo um pequeno murmúrio, ela falava dormindo, principalmente quando estava em um sono pesado, então deixei o quarto, querendo trocar o ambiente.

      A Sala Comunal também não estava acolhedora, com a lareira apagada há muito tempo, a única luz vindo da janela, e, como era lua minguante, algumas partes do cômodo se enchiam de sombras, e eu quis começar a correr.

— Snow— me virei abruptamente, o coração acelerado, e meu estômago doendo, mas, era Sirius, descendo a escadaria do dormitório masculino, a luz prateada iluminando seu rosto, consegui acalmar minha respiração— o que aconteceu?

     Não respondi, não conseguiria nem se tentasse, minha garganta começou a queimar com a pergunta, com as lágrimas contidas. Andei até ele, sem ter ideia do que faria, mas Sirius também começou a cortar a distância entre nós, e no momento seguinte tinha os braços ao meu redor, como uma barreira contra a escuridão.

— Tudo bem, está tudo bem— ele sussurrou, quando meu corpo inteiro tremeu com um soluço contido, e levou uma das mãos até meu cabelo, mexendo nas mechas com movimentos calmos.

     Embora meu peito se apertasse, as lágrimas não vieram, meus olhos continuaram secos enquanto meu coração diminuía a velocidade, imitando as batidas que soavam em meus ouvidos, colados no peito de Sirius. Quando me acalmei o suficiente, dei dois passos para trás, sentindo que minhas mãos tremiam, mesmo que elas estivessem perfeitamente paradas.

— O que aconteceu?— ele tornou a perguntar, tentei forçar um sorriso, mas nada veio.

— Só um pesadelo— respondi, sentindo agora o frio que fazia ali, e meu pijama fino não servia de nada para me esquentar.

— Só um pesadelo? Violet, eu nunca te vi assim— ele se aproximou, erguendo uma mão, como se fosse levá-la ao meu rosto, mas tornou a abaixa-la, engolindo em seco.

— Pareceu real, mas não foi nada— era mentira, mas eu não queria falar sobre, envolveria coisas demais, e no momento eu só queria voltar para o abraço, porém, seria estranho, pedir para Sirius me abraçar até que as sombras da sala sumissem, e junto delas, a sensação que alguém espreitava ali.

— Violet...— Sirius chamou, percebi que o encarava, os olhos cinza claro, impressionantes com a iluminação da lua, e notar isso me fez desviar o olhar, me perguntando o porquê dos pensamentos.

— Como sabia que eu estava aqui?— perguntei, andando até uma das poltronas e me sentando nela, os joelhos dobrados, que eu abracei.

— Não consegui dormir, estava vendo o mapa— ele respondeu, se sentando na poltrona da frente, concordei com a cabeça, encarando a lareira apagada, havia deixado a varinha do lado da cama. Sirius tirou a sua do bolso, apontando para a lenha meio queimada, e acendendo o fogo— tem certeza que não quer falar sobre?

— Tenho— olhei para o relógio em cima da lareira, duas da manhã, tempo o suficiente para dormir e ainda acordar cedo, mas o pensamento de voltar para a cama e fechar as cortinas na escuridão, apenas me fez esticar as mãos para o calor do fogo.

— Falta uma semana para o Natal, para onde vai?— ele perguntou, mudando de assunto, apoiei o queixo no joelho.

— Casa dos meus avós... maternos— respondi, era o primeiro ano que iríamos para lá no feriado— não vou poder enviar os presentes na véspera, eles são trouxas, estranhariam se eu mandasse meu correio por uma coruja— apenas meus avós sabiam que minha mãe era uma bruxa, já, os irmãos dela, os cônjuges e filhos destes, era segredo para todos.

— Onde eles acham que você estuda?— ele perguntou, se sentando como sempre fazia, completamente sem postura e com as pernas jogadas para fora do assento.

— Um internato da Escócia— falei, abrindo os braços para abranger a escola— e não estão completamente enganados.

— Não, se não contarmos as aulas de magia, os fantasmas, e, eu acho, os trouxas não tem uma lula gigante— ele comentou, levantei minhas sobrancelhas, e concordei com a cabeça.

Conversamos até o relógio bater quatro da manhã, sobre minha família, sobre o Natal que ele passaria com os Potter, até sobre alguns livros que eu queria que ele lesse, e, quando o sono me atingiu, voltar para a cama não me trouxe a mesma sensação ruim de antes, embora me despedir de Sirius para subir a escadaria escura tivesse me tirado uma sensação de segurança, que eu havia me apegado sem perceber.

🌘

— Snow— James se sentou ao meu lado no parapeito acolchoado da janela, estava ali fazia poucos minutos, apenas observando os alunos que patinavam no gelo do lago negro.

— Prongs— respondi, me virando e ajeitando a manta que havia roubado de um dos sofás, ele sorriu de modo conspirador— o que tem em mente?

Menos de meia hora depois, havíamos roubado um balde do armário de produtos de limpeza, e o enchido de neve. Começamos no sétimo andar, jogando bolas de neve em um grupo que entrava na sala comunal da Grifinória, correndo antes que eles pudessem nos alcançar, ou ver que fomos nós.

Então, descemos um andar, jogando em um casal distraído que olhava por uma janela, depois no quinto, em um grupo da Corvinal que tentava entrar na própria Sala Comunal. E assim por diante, cada andar era um grupo, um trio, ou dupla distraída, até chegarmos no segundo, e Sirius aparecer em uma das esquinas do corredor em que estávamos, nos puxando para a primeira porta à vista. Uma sala vazia, as cadeiras ainda fora do lugar pela última turma que a usou.

— Vocês me devem essa— ele comentou, apontando para o Mapa do Maroto, para o corredor do lado de onde estávamos, onde McGonagall andava na frente de um grupo de alunos do terceiro ano, que foram atingidos no quarto andar— e, por não me chamarem.

— Você se recusou a levantar da cama— James se defendeu, Sirius revirou os olhos.

— Eu não sabia que íamos jogar neve nas pessoas— ele falou, indignado, neguei com a cabeça e me aproximei do mapa, nos calamos quando a professora passou em frente a porta.

Ficamos ali até eles descerem para o primeiro andar, durante isso, Sirius me olhou de esguelha, parecia preocupado. Quando acordei novamente naquele manhã, a madrugada aparentava ter sido um sonho, distante e confuso, mas pelo olhar de Sirius, fora bem real para ele, então lhe dei um sorriso leve, pensando que era tranquilizante, mas só pareceu aumentar sua preocupação.

A outra Pettigrew Onde histórias criam vida. Descubra agora