A outra Pettigrew

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Violet

     Andar na forma de loba havia sido uma experiência que eu aprendera a amar, nas primeiras vezes foi desconfortável, me sentir comprimida nos pelos volumosos, e todos os sentidos extremamente aguçados me deixavam tonta, porém, durante aqueles anos, me transformar a qualquer momento e correr pela floresta em uma velocidade que minhas pernas humanas jamais conseguiriam... se tornou um pensamento convidativo; era calmante saber que eu podia fugir de qualquer situação a hora que bem entendesse.

Mesmo assim, raramente usei da habilidade desse jeito, eu não sabia o porquê, não era como se eu não tivesse motivos para fugir vez ou outra, mas, sempre parecera arriscado demais, principalmente depois que Snape quase descobriu a verdade, dois anos antes, então, restringi o número de vezes que o fazia em Hogwarts, e, quando ia para casa, não podia simplesmente andar pelos canteiros de minha mãe na forma de Snow, então, cada vez mais, me afastei daquela forma, a utilizando uma vez ao mês, na lua cheia.

— Expecto Patrono— ciciei com mais raiva na voz do que pretendia, e nem um brilho sequer saiu da ponta da varinha, talvez o patrono não gostasse de ser ordenado.

     Murmurando comigo mesma, sentei em uma das pedras úmidas de orvalho que cercavam o Lago Negro, do lado oposto da escola, para onde eu tinha corrido assim que todos foram para a cama, e minha mente agitada de preocupação não conseguia se calar o suficiente para pegar no sono. Fazia um mês desde o Halloween, trinta dias de treinos excessivos e exaustivos entre todos nós, e quase cinco semanas em que eu tentava conjurar minha loba, e, se já tivesse passado da meia noite, trinta e um dias de fracasso.

     Suspirei, esfregando os olhos pesados e ardentes enquanto olhava para o castelo na minha frente. Aquela derrota em realizar o feitiço estava afetando minha visão de mim mesma, e me fazendo questionar todas as pessoas que me chamaram de poderosa e talentosa, mesmo que eu nunca tivesse duvidado daquilo antes; eu sabia que era um feitiço complexo, um dos mais difíceis, pelo menos, mas, a maioria dos meus amigos já tinha sucedido, e se eu não fosse tão especial quanto eles? E se Dumbledore estivesse errado? E se eu estivesse errada?

— Chega— grunhi, agoniada com tantos pensamentos, guardando a varinha no bolso, e, virando para as árvores da direita, me transformei na forma animaga e acelerei pela trilha, a visão da loba atraindo meu olhar para cada pequeno animal no caminho, mas, continuei acelerando até as árvores acabarem e eu estar de volta na escola, sem perder o fôlego, eu nunca perdia naquela forma.

     Mesmo assim, quando voltei para o dormitório, não demorou muito até que o sono chegasse e durasse a noite inteira, uma coisa rara naquele mês, desde que todos os onze de nós havíamos começado a nos reunir na sala escondida atrás de um espelho no sétimo andar, e praticado cada feitiço que podíamos achar útil. Então, com essa nova realidade, meus sonhos passaram a ser conturbados por visões de batalhas sem fim e de raios verdes e vermelhos, até que eu conseguisse dormir apenas algumas horas por dia, e algumas dessas fossem por cochilos na Sala Comunal, deitada no peito de Sirius.

     Na manhã seguinte, minhas pernas e ombros doíam, depois de treinos de Quadribol quase diários naquela semana, e na semana anterior, e antes daquela. James estava empolgado naquele ano, mais do que qualquer outro, eu achava; principalmente depois de ganharmos a partida contra a Sonserina em novembro; talvez tanto pela distração quanto pelo amor pelo esporte, mas, me equilibrar entre o Quadribol, as reuniões secretas, e um acúmulo cada vez mais crescente de tarefas do sexto ano, eu mal tinha tempo para observar a neve que começara a cair havia três dias.

— Procurando casas?— perguntei para Lily, no café da manhã enquanto estava sentada ao seu lado, ela era a única coisa das meninas que já havia descido para comer.