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Violet

— "Do pó viemos, para o pó retornaremos"— Lily citou, lendo a charada do Profeta Diário. Do meu lado, Sirius fez uma careta, não tinha tido tempo de pegar o jornal naquela manhã, e gostava de fazer o jogo sozinho.

— Marlene Mckinnon depois das aulas de hoje— Marlene respondeu, analisando seus horários e encarando com exasperação a Professora McGonagall, que os distribuia.

— São horários perfeitamente encaixados, Mckinnon, não quero ouvir reclamações— ela respondeu, franzindo os lábios e distribuindo o restante dos folhetos do sétimo ano na nossa ponta da mesa, e já folheando outro monte para entregar o meu e de Alice.

— Fênix— Sirius respondeu para Lily, mas com os olhos nos horários de segunda-feira.

— Não, a resposta é James, olhe, temos História da Magia— ele comentou, apontando para o primeiro horário com a expressão agoniada.

— James— Lily escreveu, fazendo um sinal positivo dizendo que encaixava.

     Meus dois primeiros horários eram de feitiços e transfiguração, e, embora as tarefas estivessem em grande escala, fiquei extremamente aliviada por não ouvir nada sobre os N.O.M.S, já que eu não queria ter de falar sobre as minhas notas, que haviam chegado alguns dias antes de meu aniversário, e, pelo tratamento amável que minha mãe estava me dando, sua parabenização pareceu falsa, mesmo que minha média tivesse sido O.

O último horário antes do almoço foi de poções, me deixando um pouco desapontada por não conseguir cheirar a Amortentia como os garotos haviam feito no ano anterior, já que o professor não havia preparado as mesmas três poções. Continuou falando sobre elas, mas com um rumo diferente.

Para encerrar o dia, Trato de Criaturas Mágicas, mas, para outra infelicidade, ou não, a aula acabou sendo teórica, e eu não tinha certeza se queria encontrar um dragão cara a cara, por isso não reclamei.

Por conta da aula de Astronomia ser ensinada á meia noite na Torre, tive o último horário livre na Sala Comunal, tentando montar aquele difícil quebra-cabeça, encaixando até um pouco além da borda, e um lindo céu azul se apresentara, onde nuvens fofas foram enfeitiçadas para se moverem no papelão.

     Porém, quando as aulas se encerraram oficialmente, sai para os jardins, me sentando nas raizes de uma árvore familiar, torcendo para que a Lula Gigante não decidisse explorar a superfície novamente. Não demorou até Sirius aparecer, o Profeta Diario aberto nas mãos, onde eu conseguia ver as charadas meio preenchidas.

— Estou fugindo da Lily, ela é incapaz de não dar as respostas— ele falou, fazendo uma careta e sentando ao meu lado. Soltei uma risada, encostando a cabeça na árvore e fechando os olhos.

    Ficamos em silêncio por poucos minutos, apenas com o rabiscar da pena no papel, quando ele começou a murmurar irritado.

— Você nunca consegue a última— falei, abrindo os olhos e vendo que estava certa, faltava apenas uma.

— Ninguém sabe o nome original do caldeirão furado— ele reclamou, rabiscando as linhas com uma careta, tornando impossível terminar.

   Peguei sua pena e o papel, e foi a vez dele de encostar a cabeça, os olhos cinzas vagando no horizonte, onde o sol ia embora, deixando uma brisa fria no ar.

— Vai fazer os N.I.E.M.S?— perguntei, fazendo formas aleatórias no canto da folha. Sirius fez um som derrotado.

— Me inscrevi para as matérias, não me lembre disso, por favor— ele pediu, eu havia feito o mesmo assim que recebi os resultados do N.O.M.S, era algo necessário para se tornar auror, embora, naquela altura, pensar na carreira não me trazia a mesma emoção de antes. Após uma pausa, ele olhou para o que eu fazia e continuou— é bonito.

Não era, o pequeno desenho só mostrava uma casa minúscula cercada por duas árvores e uma lua, todas as figuras sendo bem longe de realistas, mal passavam de linhas.

— Parece com os desenhos de Peter— ele continuou, eu sabia que meu irmão tinha mania de rabiscar os cantos dos cadernos e de provas, o que enlouquecia alguns professores.

— Fomos ensinados pela mesma pessoa— comentei, nossa mãenem lembro a última vez que fiz algo.

— Pode voltar me desenhando— ele sugeriu, cutucando minhas costelas até que eu risse e afastasse sua mão— sou lindo, qualquer artista agradeceria.

— Não sou uma artista— argumentei, embora a palavra se encaixasse perfeitamente com alguma sentimento em meu peito que eu ainda tentava reconhecer.

— James desenhou a minha versão de palitinho uma vez, não pode ser pior—incentivou, sorrindo de orelha a orelha com um entusiasmo que iluminava seu rosto.

— Tudo bem— falei, fazendo uma captura mental daquele seu humor que o deixava mais bonito que qualquer pessoa que eu já tinha encontrado.

Me virando de frente, para que ele não conseguisse ver meu progresso, virei na última página do jornal, onde havia um espaço em branco depois do final de uma manchete sobre Amassos, e comecei a rabiscar, tentando me lembrar das formas e das palavras que minha mãe havia usado para nos ensinar tantos anos antes, suas falas quase apagadas da minha memória que gravava coisas novas todos os dias.

— Pronto— anunciei, um pouco mais de cinco minutos depois, virando o resultado para ele. Sirius soltou uma risada zombeteira ao analisar o desenho de traços simples de um cachorro.

— Você é tão engraçada— comentou, a voz com um aviso de perigo. Semicerrei os olhos, apoiando o jornal e a pena no chão ao me levantar rapidamente.

Corri não mais do que cinco metros antes que ele me alcançasse, abraçando minha cintura e me girando no ar pelo impacto do abraço. Gargalhei com sua expressão enganada, recebendo uma sessão completa de cócegas até que pedisse uma pausa pela falta de ar, mas uma bem longe de ruim, pelo contrário, era como se o formigamento em meu peito pedisse mais risadas, mesmo que meu estômago também começasse a doer.

🌗

Retornarmos para o castelo apenas por conta do por do sol, e pela enorme nuvem escura que seguia na nossa direção lentamente, trazendo um cheiro cítrico característico de uma forte tempestade, então decidimos jantar, encontrando James e Remus já na mesa.

— Ótimo, vocês dois. Vou fazer os testes na semana que vem, atrasamos muito com os treinos ano passado— James informou, tirando um pedaço de pão e comendo com sopa, a fumaça dela o fazendo retirar os óculos.

— Não vou fazer— as palavras vieram mais rápidas que meu pensamento, e me incomodaram no fundo do peito, mas forcei minha expressão a continuar intacta quando me sentei.

— O quê?— ele perguntou, confuso, assim como as sobrancelhas franzidas que Sirius me deu. Remus também parecia perplexo— por quê?

— Nos fiz perder o campeonato— respondi, analisando a mesa para escolher o que comer, mas senti uma mão em meu cotovelo que me fez olhar para cima.

— Sabe porquê estava distraída naquele dia, não foi sua culpa— a voz de Sirius estava ao mesmo tempo séria e consoladora, e percebi que ele havia conseguido juntar os pontos da conversa com Dumbledore naquele dia.

— Além do mais, se tivéssemos marcado só mais um gol, teríamos empatado com a Lufa Lufa, e mais um, ganhado— James comentou, revirando a sopa de batatas com a colher, mas tinha os lábios franzidos— aquele jogo não era só sua responsabilidade.

— Talvez— respondi, simplesmente, mas, provavelmente, tinha sido tolice minha acreditar que podia jogar depois de apenas alguns treinos, mesmo que sempre tivesse tido contato visual com o esporte, e, talvez, aquelas partidas ganhas tenham sido mera sorte. Me virei para Sirius— vamos treinar de novo?

— Claro— ele respondeu, sorrindo de lado e piscando um olho na minha direção. A ideia de que tentaria, e não me apoiaria no talvez foi o suficiente para acalmar meus nervos e meu estômago para aceitar comida.

A outra Pettigrew Onde histórias criam vida. Descubra agora