Marlene
Penteei o cabelo para longe do rosto, e o prendi assim com a grossa tiara preta, simples, mas, bonita, delicada, um presente da minha avó quando eu tinha seis anos, "sempre com os cabelos na cara, como consegue ver o que está na sua frente?" Eu nunca tinha entendido, sempre via as coisas com clareza.
— James?— enruguei o nariz e tirei o olhar do espelho, para trás, mas, Dorcas e Mary, as únicas outras acordadas, pareciam tão confusas quanto eu pela fala de Lily, ainda dormindo.
Ficamos em um silêncio curioso, nos olhando na espera. Dorcas fez contato visual, e segurei seu rosto com o meu, linda, ela estava tão linda naquela manhã; tinha escolhido prender as tranças em um coque alto na cabeça, preso com uma fita vermelha, deixando duas emoldurando a face, e eu poderia me perder por dias nas sardas abaixo dos olhos castanhos, e na curvatura perfeita do seu nariz.
Em um mundo em que Dorcas Meadowes existia, era loucura para mim que qualquer um conseguisse se concentrar em qualquer outra coisa, se não ela.
— James...— Lily continuou, fazendo Dorcas piscar para fora de seu semblante vago e olhar para a cama do outro lado do quarto, que voltou a ficar silenciosa, até o colchão começar a fazer barulho, e Lily levantar, se bagunçando nas cortinas fechadas até contrair todo o rosto contra a luz do sol. Autumn também levantou, se espreguiçando lentamente enquanto caminhava até a janela.
— Dormiu bem?— perguntei, sorrindo quando ela encarou a nós três, a realização constrangedora lhe atingiu e ela se apressou para a porta do banheiro. Dei uma risada curta e voltei para a penteadeira, pegando apenas o anel de safira e levantando— estou com fome demais para esperar.
— Ainda tenho que terminar de me arrumar— Dorcas falou, mas, dava para ver que estava completamente vestida com o uniforme da Grifinória e os sapatos pretos engraxados. Evitava ficar sozinha comigo, bem quando eu mais tinha o que falar.
Como Mary ainda tinha a calça de pijama de pandas com a camisa social, concordei com a cabeça e sai sozinha, não antes de abrir a cortina de Emmeline e deixá-la resmungando contra o sol, pelo menos não se atrasaria.
Violet, Alice, e os quatro idiotas que a primeira insistia em chamar de amigos, já estavam na mesa, conversando entusiasticamente sobre o professor de Defesa. Tomei a direita de Alice, que por si estava ao lado de Sirius, e de frente para James.
— Bom dia— ela cumprimentou, arrastando um prato de torradas francesas para frente do meu prato, nem a respondi com a velocidade que peguei uma delas, minhas favoritas— ele não seria doido de trazer um bicho papão.
— Foi o que ouvi— James respondeu, gesticulando com sua torrada cheia de ovos mexidos.
— Parece um momento bom para aprendermos a lutar contra o medo— Remus comentou, concentrado o suficiente em seu mingau para não perceber as expressões pesadas de seus amigos.
Com aquilo, eles se dividiram em grupos de conversa; Violet e Sirius, lado a lado, falavam sobre a decoração da casa dele, ou ele a ouvia falar e anotava mentalmente, um sorrisinho afetado de lado; Peter e Remus concordavam em uma notícia sobre uma cantora que viram no Profeta Diário, mas, o primeiro parecia meio avulso, sempre olhando de soslaio a conversa da irmã, como se planejasse em dizer algo, mas, desistisse no último momento com uma expressão amarga. Emmeline costumava dizer que eu era fofoqueira demais para prestar atenção nesses detalhes, eu gostava de me chamar de observadora.
— Quando vamos voltar a treinar os patronos?— Alice perguntou, para todos. Ela era o tipo de bruxa que me surpreendia, não era chamada de "talento nato", pois sua aptidão vinha do esforço, ela tentava e lutava até conseguir ser tão boa quanto o restante de nós, que ouvimos essas palavras a vida toda, e, para mim, era melhor por isso, ela nunca se perdia na arrogância perigosa que o poder garantido trazia.
— Amanhã? Seria ótimo— Violet respondeu, bebendo o suco da taça e olhando para cima quando o restante das meninas chegaram, Lily esperando Dorcas tomar o lugar na minha frente, e ao lado de James, antes de se sentar.
Alice contou a elas sobre o treino do patrono, a qual elas aceitaram imediatamente, me perguntei se era por também enxergarem aquela determinação silenciosa nas sobrancelhas loiras contraídas, ou apenas por acharem interessante.
Durante o restante da refeição, contra minha vontade, mas, a favor do bom senso, comecei a questionar como lidaria com as responsabilidades de novo, com os treinos de Quadribol, que haviam recomeçado no fim de semana, e os N.I.E.M.S, seria a mesma rotina apertada do quinto ano que eu tanto ficara aliviada de perder. Para falar a verdade, nem queria fazer a prova, não era obrigatória, mesmo eu tendo frequentado as aulas para ela no sexto ano, mas, era necessária se eu quisesse seguir como curandeira, e apenas o pensamento do uniforme verde do St.Mungus foi o suficiente para encerrar a preguiça para o exame.
— Também vão começar os treinos para aparatar, colaram um cartaz na sala comunal— Emmeline comentou, franzi o nariz, não tinha tido idade para tentar no ano anterior, e, mesmo se tivesse, o ministério não as havia disponibilizado, algum acidente havia acontecido com o instrutor.
— Bem, isso é apenas para depois do Natal— Mary lembrou, mergulhando uma torrada no mingau de aveia, um gosto que fazia meu estômago julgá-la.
Primeira aula, alquimia, matéria extremamente necessária para a profissão que queria, e, não era apenas por aquele fato que eu adorava aquelas horas nas masmorras, mesmo que fosse abafada e fedida a mofo. A matéria, a junção dos elementos crus para se tornarem algo novo e útil... nunca deixava de me maravilhar, uma ciência mágica que instigava as partes certas da minha mente até que apenas o aviso de Slughorn que a aula havia terminado me avisava que estava concentrada por muito tempo.
Pulei entre outras duas aulas onde mal prestei atenção aos professores enquanto continuava concentrada nas anotações, até que McGonagall tomasse o pergaminho e apenas o devolvesse na saída para o almoço, porém, não estava irritada, e, quando voltei a lê-lo, notei rasuras de correções em pontos que havia errado, o motivo dos meus erros, e algumas outras informações desconexas que poderiam ajudar.
Apenas desviei a atenção daquilo na refeição, quando me envolvi nas conversas das minhas amigas sobre assuntos tão aleatórios e mutáveis, que depois não consegui nomear sobre o que havíamos conversado durante aqueles trinta minutos, apenas que meu estômago doía de risadas.
Pronta para as duas últimas aulas do dia, coloquei a bolsa no ombro, notando Dorcas andando um pouco mais na frente e aproveitando minha chance ao correr para acompanha-la.
— Queria falar com você— comentei, faz muito tempo, onde esteve? Quis completar, mas segurei, ela sempre estava por perto, mesmo que, nunca realmente próxima.
— Sobre o quê?— ela perguntou, sem olhar para meu rosto, parecia entredita demais em girar sua pena na mão.
— Só saímos em um encontro, queria retomar onde paramos— direta, parecia a escolha ideal... porém, Dors estacou no meio do corredor, causando um aluno do quarto ano bater de cara em seu ombro, e sair resmungando.
— Por favor, Mars, me diga que está brincando— ela pediu, quase baixo demais para o corredor barulhento. Contrai as sobrancelhas, em dúvida do que ela queria dizer, ela negou com a cabeça— me diga que você não é tão desatenta assim.
— Eu não...— procurei, nas memórias fixas que tinha de nossas interações, alguma coisa que indicava que não estávamos em bons termos, que aquele encontro... calmo, doce e agradável, não havia sido as melhores horas de anos para ela, como havia sido para mim— Dorcas...
Ela olhou para a esquerda, balançando a cabeça; os olhos, ao mesmo tempo em Alice que se aproximava, e com lágrimas distantes. Estiquei a mão nos poucos centímetros que nos separavam, mas, ela recuou, tornando a me olhar.
— Não é porquê você decidiu pausar alguma coisa, que eu vou estar aqui, esperando, quando decidir retomar— ela avisou, olhando em meus olhos apenas por alguns segundos, e havia dor neles, dor e esperança, e ela voltou a olhar para Alice quando ela parou do nosso lado.
— Desculpe— ela pediu, desviando o olhar entre nós duas, e decidindo não perguntar, eu sabia que era a mais inteligente entre nós— Dumbledore quer conversar conosco.
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A outra Pettigrew
FanfictionFamília não define quem você é #1 Marotos- 23/09/21 #1 Lily Evans- 04/08/21 & 12/12/21 #1 Marauders- 05/03/21 & 26/02/22 & 19/03/22 #1 Peter Pettigrew- 12/02/22 & 31/07/22