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Sirius

Padfoot?— Peter chamou, desviei minha atenção da irmã dele, torcendo para que ele não olhasse para trás e notasse.

     Violet, Alice e Dorcas conversavam e riam na beira do lago, fazendo meu olhar se desviar para a primeira quando uma gargalhada familiar cantava em meus ouvidos. Vê-la feliz era algo que eu nunca me cansaria, tinha certeza disso, mesmo quando aquela fase estranha de começo de relacionamento passasse, uma etapa onde nossa ligação estava tão frágil e quebradiça, que eu tinha medo de quebra-la, e aquilo me perturbava absurdamente, pensei que, por termos sido melhores amigos por anos, poderíamos pular aquela fase, porém, havia uma parte boa naquilo, passávamos nosso tempo juntos como se os segundos fossem contados, e, as vezes, realmente eram.

— Me pergunto para onde ele está olhando— Remus murmurou, mordendo a ponta de um objeto de plástico que ele usava para escrever na borda do livro, ele tentava nos fazer usar aquelas canetas por anos, mas eu já estava bem acostumado as minhas penas.

— Que seja, vou procurar um jornal— Peter respondeu, se levantando, eu tinha uma vaga lembrança de sua pergunta ser relacionada a uma lua cheia em algum feriado.

— Você é um babaca, sabia?— perguntei para Remus, assim que ele saiu. Meu amigo riu, rabiscando algumas outras palavras nas páginas amareladas— há quanto tempo sabe?

— Há quanto tempo acha que sou idiota?— ele devolveu, revirei os olhos, me encostando na faia atrás de mim— espero que saiba, se magoar ela, vai ter seis garotas irritadas atrás de você.

— Perfeitamente— respondi, pensar em qualquer uma delas com a varinha apontada para mim causava um desconforto evidente.

— E James, e Peter— ele continuou citando, mesmo que ainda focasse no livro.

— Você não?— perguntei, ele franziu o nariz, negando com a cabeça.

— Quando eu chegar, você já vai estar morto— respondeu, bufei, conseguindo rir, sentindo aprovação na sua piada, e me sentindo bem com aquilo, mesmo que nunca fosse dizer.

🌓

     Apenas o sol se pondo fez Remus fechar o livro e me acompanhar para o jantar, onde encontramos Peter com o semblante apreensivo, embora se recusasse a dizer a razão. Esperei, mas, como previsto, James não apareceu para o banquete, e aquilo trouxe uma pressão estranha ao meu peito.

     Eu amava Quadribol, com todo meu coração, mas, as expectativas que ele havia colocado no jogo, e na taça, haviam sido grandes demais, perder foi um golpe profundo em seu ego. Por conta disso, mal aparecia para comer desde sábado, geralmente ficava deitado no quarto, debaixo da capa de invisibilidade para que ninguém conseguisse acha-lo.

— Violet, é a mamãe— Peter falou, segurando uma carta assim que o correio noturno deixou de fazer barulho e as corujas deixaram o Salão. Ele passou os olhos rapidamente pelas palavras, enquanto ela esperava— ela encontrou Fleamont e Eufemia no Beco Diagonal, marcaram um jantar pra depois das aulas.

— Um jantar, ou uma reunião para expor os deliquentes?— Marlene perguntou, sorrindo como se imaginasse nossa desgraça. Nossa, fui rápido demais em presumir que estaria incluído.

— Qual o endereço da sua família mesmo?— Violet perguntou, erguendo as sobrancelhas para a amiga, esta enfiou um enorme pedaço de torta de frango na boca.

     Depois de comer, fui até a cozinha roubar um saco para colocar torta de carne dentro, e levei para James, que se comunicou comigo através de murmúrios enquanto estava invisível, então o deixei, relutante, mas a seu pedido, retornando para a Sala Comunal, para ter que esperar todos os alunos irem dormir, o que se fez apenas um pouco antes da meia noite.

Violet lia no sofá, me deitei, passando a cabeça sob seu braço e deitando em seu colo, ela reprimiu um sorriso, e, fechando o livro, repousou os olhos em mim.

— Pode não pregar uma pegadinha na minha mãe quando a conhecer?— perguntou, começando a mexer no meu cabelo, desviei meu olhar do seu, encarando o teto— o que foi?

— Nada— respondi, mas seus dedos continuaram, passando entre os fios com suavidade, levando uma sensação engraçada de formigamento ao meu estômago e uma pacífica a minha mente. Fechei os olhos, relaxando músculos que não tinha percebido que estavam tensos— os Potter me acolheram.

— Sim— ela concordou, quando não prossegui. Engoli em seco, vendo em meus olhos fechados aquele dia sombrio em que cheguei na porta deles, suando, exausto... sangrando, e na forma que eles me pediram para entrar sem um segundo pensamento.

— Mas, eles nunca participaram de jantares enquanto estive lá, por que eu iria como um deles?— perguntei, mais para um questionamento interno, que me trazia um desconforto no peito.

— Espero que James nunca te ouça perguntando isso, ele te jogaria da janela— ela comentou, abri os olhos, a encarando— Sirius, eles não te deram apenas um teto, eu vejo o jeito que James fala de você, ou como você fala do tempo que passa lá, e de Eufemia e Fleamont, eles são mais sua família do que os Black jamais foram.

Os Black, a lembrança da minha família biológica me levou até outras, esquecidas, e notei a forma que, pensar neles trazia sentimentos opostos de pensar nos Potter. Pensar na família que me acolheu era como acordar no primeiro dia de férias, ou beber um longo gole de cerveja amanteigada no frio, por outro lado, pensar nos meus parentes era como levar um raio no meio do peito.

— Chamei Eufemia de mãe, no Natal— comentei, ela ergueu as sobrancelhas, parando com a mão por alguns segundos— ela me chamou de filho.

— Viu só? Fico feliz por você, meu amor— ela falou, dizendo o título de maneira perfeitamente natural, pisquei.

— Você acabou de me chamar de amor?— perguntei, me levantando, meu coro cabeludo estava leve, como se tivesse acabado de tirar uma roupa apertada. As bochecha de Violet ficaram vermelhas, e ela abriu a boca, então a fechou.

— É uma palavra de um dialeto antigo, quer dizer imbecil— respondeu, pressionando os lábios, dei um sorriso de lado, do jeito que sempre a fazia me olhar diferente.

— Você está tão apaixonada por mim, é vergonhoso— comentei, ela revirou os olhos, colocando a mão no meu peito como se fosse empurra-lo, mas parou, sentindo os batimentos, um sorriso brotou em seu rosto ao reparar na rapidez destes— isso não tem nada a ver com a sua presença.

— Obviamente— ela falou, puxando minha gola para colar nossas bocas, suspirei, segurando em seu rosto, me sentindo feliz pelas provocações não terem se encerrado. Nos separamos com poucos segundos, mas seu olhar não se desviou— posso te perguntar uma coisa?

— Claro— respondi, estávamos perto o suficiente para compartilharmos uma respiração, mas se ela afastou minimamente, analisando meu rosto.

— Te incomoda estarmos escondendo isso?— não sabia o que esperava, mas não era aquilo, e a questão me fez franzir a testa.

— Conversamos sobre— lembrei, ela concordou com a cabeça, apoiando a mão na lateral do meu rosto.

— Eu sei, mas, James parecia preocupado, e...— ela deu de ombros, mas estes estavam tensos— sugeri que escondêssemos para não magoar ainda mais Thomas, mas, os sentimentos dele não são mais importantes que os seus, Pad, ou não estaríamos aqui.

     Pensei, mesmo sabendo meus sentimentos sobre. O que tinha dito naquele dia era verdade, entendia seus motivos, e não podia negar que era um segredo excitante, os sussurros, os olhares trocados sem que ninguém notasse, as pequenas fugas, tudo me causava uma onda de adrenalina, porém... também queria abraça-la na Sala Comunal, ou beija-la na frente de todos no Salão Principal.

— Por que não me disse?— meu silêncio e minhas sobrancelhas franzidas lhe responderam o suficiente, suspirei, inclinando a cabeça em sua palma.

— Estou bem— respondi, ela negou com a cabeça, franzindo os lábios— podemos lidar com isso depois das férias.

— Você quer falar sobre o jantar?— ela mudou o tópico, mas havia uma determinação em seu rosto que me dizia, não deixaria o assunto de lado.

🌓

     Maratona AOP!!! Capítulos hoje 12:30, 16:00, e 20:00❤️

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