CAPÍTULO UM

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Os ponteiros do relógio pareciam avançar mais rápido que o normal trazendo para mim, uma sensação de desespero. À minha frente Diego estava jogado no chão, enquanto passava por mais uma de suas crises que eu não conseguia controlar. Fechei meus olhos por um instante e desejei que não fosse sexta-feira, assim eu não precisava me preocupar em chegar mais um dia atrasada no trabalho.

— Filho, por favor, a mamãe precisa vestir você, vou chegar atrasada no trabalho.

— Não! — Ele gritou de volta. Aquela frase era comum vindo da boca dele desde que ele completou dois anos de idade, mas eu não o julgava. De certa forma, isso era minha culpa por sempre dizer isso a ele em situações que eu via como perigosas.

— Amor, vem aqui, dá um abraço na mamãe. — Eu me abaixei e estendi meus braços. O vi enxugar o próprio rosto e então vir na minha direção. — Eu sei que não quer ir, mas eu prometo que vai se divertir muito com seus amiguinhos, tá? A mamãe sofre por ter que deixar você, mas eu preciso trabalhar. — O afastei segurando-o pelos braços de maneira delicada na intenção de encará-lo, mas ele não correspondia ao meu olhar. Aquilo de certa forma me machucava, mas não era culpa dele também e eu sabia que cada vez menos ele iria querer ter algum contato visual comigo ou qualquer outra pessoa.

Di era um menino esperto para a idade dele e embora fosse um menino alegre na maior parte do tempo, eu sabia que seria questão de tempo até a médica receitar algum remédio para ele. Me partiu o coração quando meses antes ele foi diagnosticado com autismo e eu sabia que teria que dar a ele o dobro de atenção, mas aquele comportamento agressivo me preocupava. Ele estava tendo noites cada vez mais curtas e nossas manhãs estavam sendo um tormento.

Depois de muita conversa consegui convencê-lo de se vestir, mas não obtive o mesmo sucesso com o café da manhã. A creche, por sorte, ficava há de minutos andando de onde eu morava e de lá eu precisaria pegar o ônibus para meu trabalho, no centro da cidade. Trabalho esse que custei conseguir e meu subconsciente estava me alertando que eu estava a um fio de perder, porque o meu chefe já estava impaciente com os atrasos.

Coloquei Diego no carrinho, peguei minha bolsa e saí do apartamento e para meu desespero maior o elevador principal estava interditado. Era como se tudo estivesse conspirando contra mim naquele dia. Eu morava no sétimo andar, o elevador de serviço estava desligado e o outro provavelmente estava de mudança. Precisei voltar para a casa, deixar o carrinho lá e então descer sete patamares de escada com Diego nos braços. Ele era pequeno, mas tinha um peso que destruía minha coluna, fazendo-me sentir como uma anciã.

Entendi o motivo da interdição quando cheguei ao térreo e vi três caras tentando encaixar um sofá gigantesco dentro do elevador. — Parece que teremos vizinhos novos, amor. — Comentei com o pequeno que agora parecia distraído com um carrinho em sua mão. — Agora vamos que terei que apertar meus passos.

Sabia que a dor na coluna no final do dia seria gigantesca, mas não pude permitir que ele caminhasse ou chegaria ainda mais atrasada. Quando tempo ainda me restava? O trânsito era sempre infinito em horários de pico e eu tinha na teoria cinco minutos para chegar lá.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora