CAPÍTULO OITO

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Ainda que eu tentasse, eu não conseguia me lembrar o último momento em que eu estive em uma festa. Christopher me disse que seus amigos decidiram fazer uma reunião comemorando o apartamento novo, e embora eu estivesse nervosa com a situação, não consegui recusar o convite dele de estar presente. Naquele final de tarde eu estava ali, no apartamento dele, sentada no sofá enquanto observava Diego brincar no chão com Luna enquanto Christopher estava na cozinha, preparando os comes e bebes que ele havia encomendado.

A impressão que tive quando o interfone tocou era que meu estômago estava lotado com borboletas e a minha vontade era de pegar Diego e sair dali antes que os amigos dele chegassem. A gente tinha trocado apenas alguns beijos nos dias anteriores e eu não descreveria aquilo como um relacionamento, então não sabia se estava realmente preparada para conhecer os amigos dele.

— Eles chegaram, Dul.

— Já?

— Sim. Você quer beber alguma coisa?

— Não, obrigada. — Me arrumei no sofá enquanto estalava os dedos das minhas mãos um tanto nervosas e ele percebeu que eu estava tensa.

— Está tudo bem, ok? Vai gostar deles, você vai ver e depois eu quero conhecer os seus amigos.

Forcei um sorriso, mas não pude segurá-lo por muito tempo. Eu costumava ter amigos na minha adolescência e precisava confessar que eu sentia falta deles, mas no momento em que eu decidi abrir mão do meu passado, eu precisei fazer o mesmo com eles. Era comum sairmos nos finais de semanas e até mesmo viajarmos juntos, e eu sentia falta de cada um deles.

Tinha certeza de que quando eu decidi desaparecer da vida de todos que me conheciam, eu deixei um sentimento de raiva embrulhado numa caixinha de presente para todos aqueles que eu sabia que gostavam pelo menos um pouco de mim. Tudo que eu deixei foi uma carta no quarto da minha irmã mais velha, Mariana. Eu não me despedi de ninguém, nem mesmo da minha melhor amiga e deixei claro na carta que a minha vontade era de não ser encontrada e para não tentarem colocar a polícia atrás de mim. Se eles respeitaram meu desejo, eu já não tinha ideia.

A campainha tocou e antes mesmo que Christopher pudesse abrir a porta eu já ouvia vozes altas e risadas descontraídas. O homem perto de mim foi até lá e sem mesmo checar o olho mágico abriu a porta, revelando algumas pessoas do outro lado.

— Olha ele! — Ouvi uma voz feminina e rouca, pertencente a uma mulher loira, que logo entrou no apartamento, se jogando nos braços de Christopher e deu beijos em sua bochecha. — Hm, tá cheiroso! Finalmente tomou banho?

— Palhaça! Sabe que tomo dois banhos por dia.

— Não é o que falam lá na academia. — Agora um homem que tinha o cabelo pintado de azul neon e as unhas pintadas de preto.

— Vocês não valem o chão que pisam, sério.

Tinham exatamente quatro pessoas ali, três homens e uma mulher. Luna já estava se embolando no meio das dez pernas e Diego que estava no chão se levantou e veio na minha direção, completamente desconfiado pela presença de todas aquelas pessoas desconhecidas.

— Tudo bem, amor, são amigos do tio Chris, tá?

— Vem aqui, Dulce. — Christopher chamou.

Eu me levantei com pegando Diego no colo e com toda vergonha do mundo fui até Christopher, parando-me ao seu lado. Diego escondeu o rosto no meu pescoço, não conseguindo olhar para aqueles estranhos.

— Gente essa é a Dulce.

— Nossa, ela é linda mesmo! — Um dos caras disse, deixando-me completamente constrangida. Eu queria aceitar elogios sem ver maldade nessa ação das pessoas.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora