CAPÍTULO DOZE

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Enquanto eu aguardava ansiosamente o retorno de Christopher da farmácia, Diego estava ajoelhado no meu colo, com a cabeça apoiada em meu ombro, resmungando de dor. À essa altura ele não chorava, mas eu sabia que qualquer mínimo detalhe o faria voltar ao pranto que se encontrava minutos antes.

Cada soluço que ele dava era como se alguém estivesse me dando facadas no peito, porque eu sabia que não era apenas a dor da gengiva cortando, mas também seu ouvido e o inchaço que fazia sua bochecha ficar enorme de um lado.

— Amor, você quer comer alguma coisa?

— Não, mamãe. — sua voz saíra chorosa e mais uma vez eu me vi tendo que enxugar meu próprio rosto.

Christopher estava demorando, já fazia quase uma hora desde que tinha saído e aquilo estava me deixando ainda mais ansiosa. Cheguei a me levantar e ir até a cozinha com Diego, porque queria que ele pelo menos tentasse comer algo, mas por mais que eu oferecesse coisas que eu sabia que ele adorava comer, ele recusou. No final de tudo consegui convencê-lo a tomar um pouco de leite, porque não queria que além de dor no dente, ele também ficasse fraco por falta de alimento.

Deitado em meu colo, ele tentava decidir se tomava o leite na mamadeira ou se mastigava o bico para aliviar o incômodo em sua gengiva e enquanto fazia isso ele me olhava com um olhar pesado. Eu queria dizer a ele que sentia muito pelo que ele estava passando, mas que infelizmente não tínhamos como evitar a dor porque o dente dele precisava sair e para piorar a situação, aquilo iria durar muitas semanas em uma tortura que iria embora, mas que quando menos esperássemos, iria voltar.

Quando Christopher voltou, eu já estava preparada para bombardeá-lo com perguntas do porquê da demora, mas então ele entrou com uma sacola grande demais para quem tinha ido comprar apenas um remédio na farmácia.

— Me desculpe a demora, todas as farmácias estavam fechadas, a única vinte e quatro horas que achei ficava do outro lado da cidade. — ele se sentou do meu lado. — Comprei algumas coisas pra ele que possa ajudar.

— Christopher, era só o remédio.

Não quis soar rude, mas confessava que me incomodava ele ajudar tanto e acabar pensando que eu estava me apoiando nele quando na verdade eu quem deveria estar correndo atrás das coisas.

— Só pensei que poderia ajudar.

— Eu não quero que pense que sou folgada, Christopher.

— Dulce, para com isso tá? Eu comprei porque eu quis, você não me pediu pra comprar nada.

O vi abrir a sacola e começar a tirar de lá algumas coisas, primeiramente o remédio que eu havia pedido e então ele tirou um brinquedo que parecia um canudo de silicone. Tinha também outros brinquedos de morder que alcançariam melhor o fundo da boca de Diego e aliviaria mais o incômodo.

— Comprei um termômetro de ouvido, que mede a temperatura rápido sem ele precisar chorar por isso.

— Christopher, isso é caro.

— Não é não, tá? De que serve o dinheiro senão para comprar coisas realmente necessárias?

Eu sabia que era cara porque antes da minha vida virar de pernas para o ar eu tinha acesso a coisas mais caras e vê-lo abrir seu bolso daquela forma me deixava ainda mais sem graça. Não que Diego não merecesse coisas de qualidade, eu até comprava algumas coisas acima do meu orçamento porque eu era mãe e como eu sempre ouvia antes de me tornar uma, quando uma mulher se torna mãe ela se torna o bicho mais besta do mundo.

— O que é essa caixa azul?

— Sei lá, parece que é pra fazer picolé. Você pode fazer sem açúcar pra ele, sei que gelo ajuda.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora