CAPÍTULO DEZ

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A saga de entregar currículos continuou pelos dias que se seguiram. Eu passava a maior parte dos meus dias fora de casa, andando sob o sol quente, entregando meus dados em todos os lugares possíveis, na intenção de conseguir qualquer emprego que fosse e foi um completo alívio quando finalmente recebi a ligação da creche, dizendo que tinham uma vaga para Diego, assim, eu não precisava levá-lo comigo ou mesmo deixá-lo com a vizinha, que mesmo de bom grado, não tinha a menor obrigação de cuidar dele para mim.

Foi cruel para meu coração de mãe deixá-lo naquele lugar completamente desconhecido para ele no primeiro dia. Depois de conversar muito com a diretora responsável pelo lugar, de preencher muitos papeis e explicar toda a situação de Diego, eu o acompanhei até a sala que ele ficaria, juntamente com as crianças de sua faixa etária. Era completamente diferente do local que ele frequentava antes, tanto em estrutura quanto na quantidade de crianças. Diego grudou na minha perna ao ver todas aquelas crianças ali dentro tocando o terror com aqueles brinquedos que me fez querer chorar no lugar dele.

— Amor, está tudo bem, tá?  — Me abaixei à sua altura e o abracei.  — Você vai fazer amiguinhos novos e vai se divertir muito. A tia Ana vai cuidar muito bem de você.

— Não mamãe.

— Eu sei que está assustado, a mamãe te entende, mas eu preciso procurar emprego e você precisa ver mais gente que não seja apenas eu o dia inteiro.

— Vamos entrar, Diego? Tem um monte de brinquedo legal aqui dentro pra você brincar. 

A voz de Ana era dócil, tinha certeza de que Diego se acostumaria logo com ela e com as outras tias de sua turma, mas sabia que não seria fácil conviver com outras crianças inicialmente, porque ele tinha sua particularidade.

— A mamãe ama muito você, tá bom?  — O apertei entre meus braços e dei um beijo em sua bochecha.  — Prometo que volto logo.

Eu o soltei e a tia Ana o pegou pela mão, em seguida pegou a mochila dele de minhas mãos e eu me afastei. Vi o biquinho se formar na boca dele e em seguida ele começar a chorar enquanto eu partia e o meu coração se estilhaçou. Seria muito mais fácil se eu pudesse ficar com ele sem me preocupar com o que comer durante o mês, mas nossa situação financeira não permitia isso.

Depois que o deixei ali, com o coração apertado segui na minha rotina diária de procurar por emprego. A cidade era grande e eu tinha esperanças de conseguir encontrar qualquer coisa que fosse, mas a situação do nosso país não era lá das melhores e o número de vagas no geral era concorridíssimo. Aquele dia em específico foi o que eu mais demorei fora de casa. Sem tempo para comer e com a necessidade de distribuir o máximo possível de currículos, nem mesmo vi o tempo passar. Quando dei por mim, já era hora de buscar Diego na creche e quando cheguei lá, ele estava muito mais quieto que o de costume.

— Ele ficou quieto o dia todo.  — Disse a professora, trazendo-o até mim.

— Comeu?

— Pouca coisa e não quis brincar também. Chegamos a ver se ele estava com febre, mas a temperatura está normal.

— Ele só está assustado, né amor?  — Abaixei-me e o peguei no colo.  — A mamãe voltou, vamos pra casa, meu amor?

Não obtive uma resposta sequer. Diego simplesmente deitou sua cabeça no meu ombro e ficou brincando com meu cabelo em silêncio. Me despedi da professora e fui embora, torcendo para que ele se animasse um pouco. A primeira coisa que fiz foi dar um banho nele quando cheguei, e isso fez com que ele ficasse mais enjoado, como quem não queria estar dentro da água como fazia todos os dias e no meio do banho ele começou a chorar, querendo sair, se incomodando até mesmo com o fato de eu precisar lavar seu rosto.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora